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PT - A fonte petista secou

Partido está falido, sem dinheiro para organizar as eleições diretas que devem escolher a nova direção nacional em setembro. Após promover eventos em hotéis de luxo, legenda está sem crédito na praça.


Patrícia Aranha
Do estado de Minas

Vidal Cavalcanti/Ag. Estado/23.7.05
Tarso Genro: partido sem dinheiro até para estrelinhas
 
Que o PT não é mais o mesmo ninguém duvida. Desde a maquiagem feita pelo publicitário Duda Mendonça na campanha eleitoral de 2002, pouco restou do PT financiado pela venda das estrelinhas do partido da década de 80. Depois de dois anos e meio de eventos em hotéis caros como os da rede Blue Tree, principalmente em Brasília e São Paulo, o partido chega agora, semanas depois dos dólares na cueca, ao vexame de não ter como pagar as passagens de seus candidatos a presidente no Processo de Eleição Direta (PED) que pretende eleger o próximo presidente do partido, em 18 de setembro.

A idéia de adiar o PED não é só política, devido ao momento inoportuno para expor ferida internas, nem mesmo golpista, com os integrantes do Campo Majoritário que governa o partido tentando se segurar no poder. A questão é também falta de dinheiro e, pior, de credibilidade no mercado. O PT está falido, disse e repetiu o presidente interino Tarso Genro. Mas a crise é mais embaixo. O ex-ministro de Direitos Humanos e candidato a presidente do PT mineiro pelo Campo Majoritário no PED, Nilmário Miranda, revelou ontem que não há como fazer os debates nacionais. "Há motivos técnico não para adiar, mas para atrasar o PED em alguns dias ou alguns meses. As teses estão atrasadas e o partido está sem dinheiro. O esquema de debates não pode ser feito porque o partido não tem crédito na TAM (companhia aérea)", afirmou Nilmário.

A Comissão de Finanças que está passando um pente fino no que Nilmário chama de "gestão temerária" do partido depois da posse de Lula chegou a conclusão de que as dívidas do partido chegam a R$ 160 milhões. Só com jatinhos e helicópteros, o partido gastou cerca de R$ 2 milhões. O comando gostava de se hospedar em hotéis cinco estrelas. Mesmo no auge da crise, o partido continuou gastando. As duas últimas reuniões do diretório nacional em São Paulo, em junho e julho, foram precedidas de reuniões do Campo Majoritário no Hotel Braston, na rua Augusta. Na última, quando o ministro Tarso Genro foi escolhido, o partido abriu mão da sede que tem em São Paulo, para receber os companheiros por dois dias em outro hotel da rede Braston, onde costumam ficar hospedados líderes e assessores do partido, mesmo daqueles que não fazem parte do diretório.

Em 29 e 30 de novembro do ano passado, o PT reuniu todos os prefeitos e prefeitas eleitas no hotel Blue Tree Park Hotel, em Brasília. No ano anterior, o balanço do partido aponta que foram gastos R$ 90 mil só nessa rede de hotéis. Em março de 2002, a então prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, viajou ao Japão "a trabalho", acompanhada da executiva do Blue Tree Chieko Aoki e de outros 40 empresários. Em Belo Horizonte, antes de chegar ao poder, os dirigentes do PT, incluindo Lula, costumavam-se hospedar no hotel Wembley, na esquina da avenida Santos Dumont, no Centro, de propriedade do vice-presidente José Alencar. Depois que Lula tomou posse, o partido adotou o Hotel Ouro Minas, o único cinco estrelas da cidade.

NOVA MAIORIA
Numa clara tentativa de se dissociar da tendência que controla o partido, o presidente nacional do PT, Tarso Genro, decretou ontem o fim do Campo Majoritário. Tarso - que consulta as demais forças políticas sobre sua candidatura à presidência do partido --conta que no sábado, quando oficialmente convidado pelo Campo, disse que não aceitaria concorrer em nome da corrente apenas, mas pela composição de uma nova maioria. O Campo Majoritário anterior está dissolvido, sentenciou Tarso, rindo quando questionado sobre os motivos: Precisa perguntar? Em função dos acontecimentos, da fragmentação de opiniões e da apuração de responsabilidades, respondeu. Minha ligação é com a recomposição de uma nova maioria.


Genoino investigado

A Polícia Federal tem imagens que podem ligar o ex-presidente do PT José Genoino ao caso do ex-dirigente petista José Adalberto Vieira da Silva, preso em flagrante quando tentava embarcar com R$ 200 mil numa valise e mais US$ 100 mil escondidos na cueca em um vôo de São Paulo para Fortaleza com escala em Brasília.

De acordo com o delegado José Pinto de Luna, responsável pelas investigações do caso em Fortaleza, há imagens de Genoino registradas pelo circuito interno do edifício Parthenon, em São Paulo. O ex-presidente do PT teria se dirigido ao apartamento 1010, de propriedade de Danilo Camargo, da Comissão de Ética do PT, por volta das 10h do dia 10 deste mês, um dia depois de ele ter renunciado à presidência do partido e dois depois da prisão de Adalberto.

Nessa mesma manhã e no mesmo local (o flat de Danilo), conforme já havia dito anteriormente em entrevistas o ex-assessor do Banco do Nordeste (BNB) Kennedy Moura Ramos, foi realizada uma reunião. Segundo Kennedy, o irmão de Genoino, o deputado cearense José Nobre Guimarães (PT), para quem Adalberto trabalhava na Assembléia Legislativa do Ceará, o teria convocado "por razões de Estado" e no encontro teria lhe pedido para que se apresentasse como o dono do dinheiro.

Kennedy e Guimarães disseram que, além deles dois, da reunião no Parthenon teriam participado Danilo Camargo e o também petista Francisco Rocha, conhecido por Rochinha. Mas até aqui a provável participação de Genoino não tinha sido revelada por eles. A PF quer saber se Genoino realmente esteve nesse encontro. Por isso vai convocar Kennedy Moura Ramos para um novo depoimento. Pinto de Luna, não descarta inclusive a possibilidade de Genoino também ser ouvido para prestar esclarecimentos. "Por que não? Ele não é mais presidente do PT e nem é deputado. Pode ser intimado sim", disse o delegado.

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