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O Brasil está menor - (*) Francisco Espiridião

Na época, amigos mais chegados questionavam que não estaria eu agindo com justiça. Era ácido com um governo ainda muito latente. Ledo engano. É com profunda tristeza que hoje, menos de dois anos depois, precisamos todos admitir que os artigos ali selecionados se confirmaram "ipsis litteris".


Este articulista aproveitou o ano de 2003, o primeiro da era PT/Lula, para analisar semanalmente os fatos que envolviam a performance do governo recém-alçado ao Planalto por uma idéia altruísta cuja máxima era "A esperança Venceu o Medo". As análises - vistas apenas pelo ângulo jornalístico, isentas, portanto, de qualquer aprofundamento sociológico - foram transformadas em artigos divulgados aqui neste BN e depois (alguns) selecionados e incluídos numa publicação intitulada "Até Quando? Estripulias de um governo equivocado". (Ed. Própria, 114 páginas - ainda nas bancas).

Na época, amigos mais chegados questionavam que não estaria eu agindo com justiça. Era ácido com um governo ainda muito latente. Ledo engano. É com profunda tristeza que hoje, menos de dois anos depois, precisamos todos admitir que os artigos ali selecionados se confirmaram "ipsis litteris".

Um deles, que tinha como título "Incompetência generalizada" (p. 29), questionava o equívoco do povo brasileiro que esperava estar, com a ascensão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula ao Poder, sepultando de vez o modelo anacrônico de governar. O que se via na ocasião, segundo a análise deste articulista, era uma grande frustração.

"Não se pode negar que com Lula no Poder, o povo, que antes tinha não só o pé na senzala, mas todo o corpo, sentia-se de certa forma, dono de lugar cativo na sala de visitas da casa grande. Passados quase quatro meses, vê-se que o sonho durou muito pouco. O combativo Lula já não é tão combativo assim. Dá sobejas demonstrações de fraqueza em todas as áreas de atuação" (texto de 25 abril de 2003).

Essa verdade, infelizmente, pode ser comprovada hoje. Os programas sociais não vingaram. O povo continua amargando o desemprego e salários em queda livre. Basta abrir o noticiário de qualquer jornal televisivo para ver que as manchetes são o centro do furacão que envolve "sua excelência" e seu governo. O que dá o tom da gestão são malas de dinheiro voando em todos os quadrantes do País, quando não montanhas de reais e dólares enfiadas em cuecas ou sacos (sem trocadilho).

A incompetência generalizada do governo Lula começa pelo próprio presidente, que diante de tudo e de todos quer a duras penas convencer a população brasileira de que de nada sabia. Há quem ache o contrário. De uma maneira ou de outra, Lula dá sobejas provas de que não estava preparado para ser o presidente de uma nação como o Brasil. O senador Arthur Virgílio (PSDB/AM) definiu com muita propriedade: "Se não sabia, é incompetente. Se sabia é corrupto". As duas hipóteses seriam suficientes para argüir-se o seu impeachment.

O sonho de pureza que o PT construiu ao longo de mais de 20 anos durou pouco. Não foi à toa que pessoas honestas que ajudaram a fundá-lo e outras que chegaram depois, como Frei Beto, Ricardo Kotscho, Heloísa Helena, Isaías Urbano, Juno Rodrigues, Gilson Menezes, deputado Babá, Luciana Genro (não necessariamente nessa ordem), estão hoje ou fora dos arraiais petistas ou na coxia, olhando o partido como uma verdadeira quimera.

Aliás, o governo do PT incorporou tudo o que havia de ruim no governo FHC, que, diga-se de passagem, foi um dos piores entre todos os desgovernos. E acrescentou colheradas de autoritarismo. Um dos muitos exemplos foi o aparelho policial invadindo as galerias do Congresso Nacional para reprimir o povo que, em sua própria casa, tentava impedir perdas de direitos adquiridos durante votação da reforma administrativa, em julho de 2003 (pg. 28).

Agora, para escamotear os fatos e mudar o foco de interesse da opinião pública, o mesmo governo que prometeu ano passado conceder 23% de reajuste aos militares neste  2005, depois de anunciar que daria apenas 13%, voltou atrás e resolveu conceder linearmente apenas 1,8% de reajuste salarial. É fácil de entender a trama: enquanto os militares vão se rebelar, que vão, e criar um tumulto em torno da promessa quebrada, o povo esquecerá as malacutaias (maracutaias através de malas de dinheiro). Boa saída. É o Brasil, gigante deitado em berço esplêndido, se apequenando. E não é de agora. 

 

(*) Jornalista, editor-chefe do Jornal BrasilNorte; e-mail echagas@ technet.com.br

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