- 12 de novembro de 2024
MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Entre as movimentações financeiras que até agora mais se aproximam do "mensalão", a CPI dos Correios identificou 15 saques em dinheiro vivo, em seqüência, entre setembro de 2003 e janeiro de 2004 das contas das agências do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza no Banco Rural. Nesse período de cinco meses, R$ 2,5 milhões foram sacados por Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL, e por João Cláudio Carvalho Genu, chefe-de-gabinete do líder do PP, José Janene (PR).
O período dos saques, identificados numa análise parcial da quebra do sigilo bancário das empresas de Marcos Valério, coincide com decisões importantes na Câmara dos Deputados. A reforma da Previdência, que acabou com a aposentadoria integral para servidores públicos e taxou os inativos, acabara de ser aprovada pelos deputados.
No começo de setembro, a Câmara aprovou outra proposta de emenda constitucional que reforçou o caixa do governo. Foi prorrogada a cobrança da CPMF (imposto do cheque) e mantida margem de liberdade de gastos, por meio do mecanismo conhecido como DRU (Desvinculação de Receitas da União).
Entre setembro de 2003 e janeiro de 2004, também foi registrado um intenso movimento de troca de partidos na Câmara. Em cinco meses, ocorreram 41 mudanças de partido; 35 deputados trocaram de legenda.
"Há saques em seqüência que podem não qualificar pagamento de mensalão, mas mostram pagamentos num determinado período em intervalos até menores do que um mês", disse o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP).
Nos dados analisados até a tarde de ontem pela CPI dos Correios, havia dez saques em nome do ex-tesoureiro do PL e cinco em nome do chefe de gabinete do PP. Jacinto Lamas e João Claudio Genu sacaram, respectivamente, R$ 1,350 milhão e R$ 1,150 milhão.
De acordo com as denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), os dois partidos da base aliada se beneficiariam do pagamento do "mensalão".
O último balanço divulgado ontem por parlamentares da CPI dos Correios identificou 46 sacadores diferentes das contas das agências de publicidade SMPB Comunicação e DNA Propaganda. As retiradas em espécie chegaram a R$ 25,346 milhões.
Na análise das informações encaminhadas pelo Banco Rural à CPI, técnicos procuraram em vão o beneficiário de um saque de R$ 2 milhões da conta da SMPB no Banco Rural. Também foi notada a presença de cheques em valores elevados endossados e sacados nos caixas, mas sem identificação dos beneficiários. Membros da comissão suspeitam de que o Banco Rural tenha omitido dados da quebra do sigilo bancário.
"Faltam documentos para saques relacionados no extrato bancário das empresas", reclamou o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). "O Rural está tentando dificultar as investigações", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
É no Banco Rural que é registrado o maior volume de movimentações bancárias do publicitário mineiro e suas empresas. O banco também concedeu pelo menos dois dos cinco empréstimos mencionados por Marcos Valério em seu depoimento à Procuradoria Geral da República e cujos recursos teriam sido repassados a pessoas indicadas pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.