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Saques para PP e PL coincidem com votações

Entre as movimentações financeiras que até agora mais se aproximam do "mensalão", a CPI dos Correios identificou 15 saques em dinheiro vivo, em seqüência, entre setembro de 2003 e janeiro de 2004 das contas das agências do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza no Banco Rural.


MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Entre as movimentações financeiras que até agora mais se aproximam do "mensalão", a CPI dos Correios identificou 15 saques em dinheiro vivo, em seqüência, entre setembro de 2003 e janeiro de 2004 das contas das agências do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza no Banco Rural. Nesse período de cinco meses, R$ 2,5 milhões foram sacados por Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL, e por João Cláudio Carvalho Genu, chefe-de-gabinete do líder do PP, José Janene (PR).
O período dos saques, identificados numa análise parcial da quebra do sigilo bancário das empresas de Marcos Valério, coincide com decisões importantes na Câmara dos Deputados. A reforma da Previdência, que acabou com a aposentadoria integral para servidores públicos e taxou os inativos, acabara de ser aprovada pelos deputados.
No começo de setembro, a Câmara aprovou outra proposta de emenda constitucional que reforçou o caixa do governo. Foi prorrogada a cobrança da CPMF (imposto do cheque) e mantida margem de liberdade de gastos, por meio do mecanismo conhecido como DRU (Desvinculação de Receitas da União).
Entre setembro de 2003 e janeiro de 2004, também foi registrado um intenso movimento de troca de partidos na Câmara. Em cinco meses, ocorreram 41 mudanças de partido; 35 deputados trocaram de legenda.
"Há saques em seqüência que podem não qualificar pagamento de mensalão, mas mostram pagamentos num determinado período em intervalos até menores do que um mês", disse o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP).
Nos dados analisados até a tarde de ontem pela CPI dos Correios, havia dez saques em nome do ex-tesoureiro do PL e cinco em nome do chefe de gabinete do PP. Jacinto Lamas e João Claudio Genu sacaram, respectivamente, R$ 1,350 milhão e R$ 1,150 milhão.
De acordo com as denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), os dois partidos da base aliada se beneficiariam do pagamento do "mensalão".
O último balanço divulgado ontem por parlamentares da CPI dos Correios identificou 46 sacadores diferentes das contas das agências de publicidade SMPB Comunicação e DNA Propaganda. As retiradas em espécie chegaram a R$ 25,346 milhões.
Na análise das informações encaminhadas pelo Banco Rural à CPI, técnicos procuraram em vão o beneficiário de um saque de R$ 2 milhões da conta da SMPB no Banco Rural. Também foi notada a presença de cheques em valores elevados endossados e sacados nos caixas, mas sem identificação dos beneficiários. Membros da comissão suspeitam de que o Banco Rural tenha omitido dados da quebra do sigilo bancário.
"Faltam documentos para saques relacionados no extrato bancário das empresas", reclamou o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). "O Rural está tentando dificultar as investigações", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
É no Banco Rural que é registrado o maior volume de movimentações bancárias do publicitário mineiro e suas empresas. O banco também concedeu pelo menos dois dos cinco empréstimos mencionados por Marcos Valério em seu depoimento à Procuradoria Geral da República e cujos recursos teriam sido repassados a pessoas indicadas pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.

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