- 12 de novembro de 2024
Não só parlamentares do PP, PTB, PL e PMDB entraram na agência de shopping em Brasília - petistas e funcionários do Congresso também estiveram no banco. A denúncia coloca 67 políticos como suspeitos Da Redação
A agência foi identificada na CPI dos Correios como um ponto de saque das empresas de publicidade de Valério. O cruzamento de Rodrigo Maia revelou que deputados do PT, parentes e assessores deles também estiveram no Banco Rural, nos mesmos dias em que aconteceram os grandes saques. Maia cruzou a lista de pessoas que foram ao banco com a lista de funcionários e cônjuges dos deputados. Apareceram nomes de pessoas ligadas a nove petistas, entre eles o líder do PT, Paulo Rocha, e o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha. Segundo Rodrigo Maia, "isso deve ser alvo de investigação da CPI dos Correios". Em maio de 2003, Jair dos Santos, que trabalha no gabinete de Vicentinho, foi pela primeira vez à agência. Depois ele retornou nos dias 20 de agosto e 18, 24 e 25 de setembro. Nos dias 18 e 25 de setembro, houve dois saques da SMPB, empresa de Valério, no valor de R$ 550 mil. Em maio de 2003, Francisco da Silva Neiva Filho, que trabalha no gabinete do deputado Paulo Delgado (PT-MG) foi ao Banco Rural. Outro funcionário de Delgado, Raimundo Júnior também esteve lá, em março de 2004. O saque da SMPB foi de R$ 200 mil. Retorno Josias Gomes da Silva foi o único deputado que esteve pessoalmente na agência, por duas vezes em setembro de 2003. No dia 18 daquele mês, saíram R$ 250 mil. Em julho de 2003, Anita Leocádia da Costa, assessora do deputado Paulo Rocha (PT-PA), visitou a agência e retornou cinco meses depois. Saíram do Rural nesse dia, R$ 120 mil. Segue Paulo Rocha: "Anita é minha assessora, portanto, em meus levantamentos consta que ela foi em janeiro de 2005 a uma clínica neurológica. É isso o que eu tenho a tratar nesta questão(sic)". No levantamento de Rodrigo Maia, pessoas ligadas a outros parlamentares petistas também estiveram no Rural, mas em dias em que não foram revelados grandes saques pelo Coaf. Bruno Silva Nascimento, funcionário de Zezeu Ribeiro (PT-BA) foi em março de 2003. Maria Aparecida da Silva, funcionária do gabinete de Devanir Ribeiro, esteve na agência em janeiro de 2004. Em novembro, Geralda Magela Rodrigues, funcionária de Sigmaringa Seixas (PT-DF) esteve no Rural. Depois, a mulher de João Paulo Cunha (PT-SP), Márcia Regina Cunha, esteve no banco por três vezes no dia 4 de dezembro em 2003. Sua secretária, Silvana Japiassu, foi lá por duas vezes em abril de 2004. Luiz Carlos da Silva, que trabalha para o deputado Wasny de Roure (PT-DF) foi lá em junho de 2002, sem registros de saques nessa data. Não havia começado o governo Lula. João Paulo Cunha divulgou nota em que afirma que sua mulher e secretária foram tratar de problemas com contas de tevê a cabo, que só poderiam ser resolvidas na agência do shopping. Paulo Delgado disse que Francisco Silva foi pagar um serviço de carpintaria e apresentou comprovantes do depósito. Serviços Já o militante do PT Raimundo Silva disse que foi pegar uma ordem de pagamento para o diretório regional do partido. Sigmaringa Seixas disse que sua secretária foi receber R$ 400 por um serviço extra e mostrou cópias do cheque descontado. Os deputados Zezeu Ribeiro e Devanir Ribeiro disseram que não possuem funcionários com estes nomes em seus gabinetes, embora as nomeações constem dos registros da Câmara, segundo Rodrigo Maia. A lista completa de secretários parlamentares que estiveram na agência do Banco Rural no Brasília Shopping coloca como suspeitos 67 parlamentares, sendo 11 deles do PP, dez do PMDB, nove do PT, nove do PTB e sete do PFL. Há também deputados do PSDB, PL, PSB, PCdoB, PV e PPS. O cruzamento de dados foi feito pela assessoria da liderança do PFL na Câmara, a partir de dados fornecidos pela administração do shopping. Um assessor do deputado Rodrigo Maia também esteve no Banco Rural. O líder do PFL afirmou que o seu motorista realmente esteve na agência para fazer pagamentos. A explicação foi apresentada formalmente à CPI dos Correios. |
Visita depois de café Da Redação A jornalista Márcia Milanésio Cunha, mulher do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), esteve na agência do Banco Rural do Brasília Shopping no dia seguinte a um café-da-manhã oferecido pelo marido ao publicitário Marcos Valério de Souza ainda quando presidia a Câmara dos Deputados. Esta agência foi apontada pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como o local onde eventualmente se pagava o mensalão. O café-da-manhã que reuniu João Paulo e Marcos Valério está registrado na agenda de Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária do publicitário. No dia 3 de setembro, ela anotou: "8:30h Café-da-manhã Presid. João Paulo na residência oficial, ligar Silvana antes". A "residência oficial" a que Fernanda se referia é a casa a que o presidente da Câmara tem direito, localizada na Península dos Ministros, região das mais valorizadas do Lago Sul. "Silvana" é Silvana Japiassu, secretária particular de João Paulo. A esposa do então presidente da Câmara foi ao Banco Rural no dia 4 de setembro. Entrou às 16h58, conforme registrou o computador que identifica os visitantes do Brasília Shopping. Ou seja, ela visitou a agência depois de encerrado o expediente bancário. Procurado pela reportagem, João Paulo enviou uma carta ao Correio explicando que Márcia Cunha esteve na agência para "tratar de assuntos relativos a pendências de contas de TV a cabo". E avisou ter mandado documentos comprovando a informação ao presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS). A lista de visitantes do Brasília Shopping também registra a entrada de Silvana Japiassu na agência do Banco Rural. Ela foi lá no dia 16 de abril de 2004, entrou no prédio às 15h25. Fiel colaboradora do deputado durante sua gestão na presidência da Câmara, Silvana aparece duas vezes na agenda de Fernanda Karina Sommagio. Na carta enviada ao Correio, João Paulo afirma que, como sua esposa, Silvana também foi ao Banco Rural resolver pendências de contas de TV a cabo. As duas visitas aconteceram com mais de sete meses de diferença. |
Sem o nome do sacador Marcelo Rocha Da equipe do Correio Sem chamar a atenção, a Polícia Federal vasculhou na quarta-feira à noite os arquivos da agência do Banco Rural no Brasília Shopping - um dos supostos locais de distribuição do mensalão, segundo as denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Os policiais federais foram ao posto bancário atrás dos registros das pessoas que fizeram saques na conta da agência SMPB entre 2000 e junho deste ano para cruzar com o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que apontou movimentação milionária da empresa de publicidade no período. A equipe da PF passou quatro horas no endereço para realizar a busca, autorizada pela Justiça Federal. Os investigadores constataram que parte dos saques milionários realizados na conta da SMPB não tinha a identificação do sacador, o que contraria a legislação brasileira sobre depósitos e retiradas em espécie. Todos os saques de valor igual ou acima de R$ 100 mil devem ser registrados pelo banco e comunicados à autoridade financeira, no caso o Banco Central. As informações interessam à PF para confrontar com a relação de acesso ao shopping. Autor das denúncias de distribuição da mesada a parlamentares da base governista, Roberto Jefferson afirma que, além de assessores e parentes, parlamentares foram pessoalmente ao Banco Rural receber os recursos. Houve buscas também no Rural em Belo Horizonte para levantar informações Em nota divulgada ontem, o Banco Rural confirmou o recolhimento da documentação e afirmou que o pacote recolhido pela PF contém todas as informações bancárias oficiais exigidas pelo Banco Central, bem como os registros administrativos dos controles internos da instituição. Os advogados do Rural acompanharam os policiais federais à Justiça fazer a entrega do material. |
Investigação sobre fantasma
A CPMI dos Correios irá investigar se o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o operador do suposto esquema de pagamento de mesadas a parlamentares, utilizou um fantasma para sacar R$ 152,553 mil numa das contas da empresa SMPB, da qual ele é sócio, em 16 de julho de 2003. Dados do Coaf mostram que o saque foi realizado pelo ferroviário aposentado Jonas de Pinho, de 81 anos, falecido três anos e seis meses antes da operação, em 31 de dezembro de 1999, vítima de choque séptico e pneumonia. O corpo está enterrado no cemitério da Saudade, no bairro homônimo, que fica na região Leste da capital. A SMPB confirmou o valor sacado, mas refutou a possibilidade de a operação bancária ter sido feita por um fantasma utilizado por Marcos Valério. Segundo a empresa, o cheque foi entregue a uma prestadora de serviço (o nome não foi revelado) de Belo Horizonte e, "possivelmente, o mesmo foi repassado ao filho do ferroviário, Jonas de Pinho Júnior, de 48, que trabalha no mercado de vídeo". Este, ainda de acordo com a agência, teria feito o saque utilizando o CPF (051297966-91) do próprio pai. Pinho Júnior negou as informações da SMPB. |