- 12 de novembro de 2024
Polícia Federal analisará transferências pessoais da prefeita de Boa Vista, que é mulher do ex-ministro da Previdência Romero Jucá. Operações bancárias são incompatíveis com os rendimentos mensais Leonel Rocha Da equipe do Correio
O Coaf encaminhou representação ao procurador-geral da República no dia 18 de maio, "em virtude do possível envolvimento da prefeita municipal de Boa Vista em operações bancárias a necessitar de investigação". O conselho constatou que a prefeita fez um depósito de R$ 236 mil no dia no dia 15 de fevereiro deste ano na conta da empresa Societat Participações Ltda. cujos sócios são seus filhos Luciana, Ana Paula, Rodrigo e Mariana. Cinco dias depois um outro depósito do mesmo valor foi efetuado pela Societat na Alfândega Empreendimentos e Participações Ltda. A empresa pertence ao irmão do senador, o cunhado da prefeita, Álvaro Jucá, em sociedade com a própria Societat, dos filhos do casal Jucá. A suspeita do Coaf e do Ministério Público foi reforçada porque nos últimos anos a prefeita não teve rendimentos suficientes para fazer um repasse neste valor. A desconfiança aumentou porque os depósitos foram para empresas dos próprios familiares da prefeita. Para tentar descobrir a origem do dinheiro, o Ministério Público exigiu que a PF conclua em 30 dias uma perícia em dez convênios e três contratos assinados por Tereza Jucá com instituições federais como Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia(Suframa), ministérios da Integração, das Cidades e Caixa Econômica Federal. Em dois anos a prefeitura recebeu repasses de quase R$ 20 milhões pelo governo federal. Financimentos Os procuradores determinaram que a devassa nas contas da prefeitura deve incluir um levantamento detalhado da situação de todas as obras que foram financiadas com dinheiro do orçamento federal. As obras serão medidas por auditores do Ministério Público. Os procuradores já detectaram que as obras tocadas pela prefeita Tereza Jucá estão com os prazos de prestação de contas está vencidos. Além da irregularidade administrativa com o atraso na prestação de contas, o MPF desconfia que os preços das obras estão superfaturados. Os procuradores querem identificar todos os repasses de verbas federais à prefeitura entre novembro de 2003 a junho deste ano e como o dinheiro público federal foi gasto em obras municipais. Os auditores do Coaf detectaram irregularidades na contabilidade da empresa Alfândega Empreendimentos e Participações Ltda. que movimentou em suas contas no Banco do Brasil, Bradesco e Unibanco R$ 8,2 milhões entre novembro de 2003 e março deste ano. A empresa do irmão de Romero Jucá e dos filhos do senador teve faturamento bruto anual de R$ 470 mil, incompatível com os milhões que engordaram suas contas. O Coaf também detectou que, apesar de ter R$ 236 mil para depositar em favor da Alfândega, a conta da empresa dos filhos da prefeita e do senador ficou na agência de Brasília do Bradesco sem movimentação entre 12 de abril de 2004 e 14 de fevereiro deste ano. A conta só foi movimentada no dia 15 de fevereiro quando Tereza Jucá fez o depósito. A prefeita Tereza Jucá, por intermédio de sua assessoria, disse que ainda não foi notificada da abertura de inquérito pela PF. A prefeita prometeu se manifestar quando receber as informações oficiais do Ministério Público e PF. |
Movimentação atípica Um relatório preliminar do Ministério Público mostra que as transferências de verbas federais à prefeitura de Boa Vista coincidem com as movimentações financeiras das empresas de familiares de Romero e Tereza Jucá consideradas atípicas pelo Coaf e que deram origem à representação do Ministério Público. Segundo o relatório, verifica-se que, contrariando proibição legal, há registros no Sistema Integrado de Administração Financeira de transferência integral de verba do orçamento federal logo após a celebração do convênio. Entre as empresas prestadoras de serviços à prefeitura de Boa Vista que serão investigadas pelo MP e a PF está a Diagonal Urbana Consultoria. A empresa tem sede no Recife, cidade natal do senador Romero Jucá, e o endereço é na antiga casa do marido da prefeita Tereza Jucá. Criada pelo irmão do senador, Álvaro Jucá, a empresa ganhou em 2001 um contrato de R$ 1,8 milhão com a prefeitura no primeiro mandato de Tereza. A empresa foi a única a participar da licitação. O contrato assinado com a prefeitura era de 36 meses. Mas Tereza Jucá resolveu pagar a fatura antes do serviço prestado e ainda fez um aditivo para pagamento extra de R$ 425 mil. (LR) |