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Questão de Estado - Márcio Accioly

As voltas que o muno dá. Nos corredores do Congresso Nacional, Zé Dirceu não passa hoje de mal-amanhado zumbi.


Quando foi escorraçado da Casa Civil, depois que as evidências do mensalão assumiram vergonhoso contorno, o deputado federal Zé Dirceu (PT-SP) anunciou gloriosamente aos quatro cantos que iria defender a administração federal petista na Câmara, de onde continuaria a "governar o Brasil". Não foi isso o que aconteceu. Nos corredores do Congresso Nacional, Zé Dirceu não passa hoje de mal-amanhado zumbi.

É visto apenas em reentrâncias e recantos, como se temesse a própria sombra. Não pode mais ir ao Palácio do Planalto, onde reinava absoluto, para não levantar especulações acerca de conchavos ou acertos que o livrem de maior implicação. Telefonar para o Palácio? Nem pensar. Especialmente com a quantidade de grampos na capital federal, onde até as paredes têm ouvido e tudo gira em torno de rumores e investigações.

Enquanto Zé Dirceu se esconde, as investigações começam a alcançar o presidente da República, através de sua família. No período do impeachment do Collor (1992), anunciou-se que despesas pessoais da então primeira dama, Rosana Collor, teriam sido pagas por cartões de crédito pertencentes ao tesoureiro Paulo César Farias.

Agora, no enredamento da CPI dos Correios, já aparece o nome de um dos filhos do presidente, Fábio Luiz Lula da Silva, como contratado da empresa Estratégica que assessorou a campanha do deputado federal Vicente Paulo da Silva (PT), o Vicentinho, durante sua campanha eleitoral à prefeitura municipal de São Bernardo do Campo, no ano passado.

Vicentinho se apressou em dizer "não lembrar" se a Estratégia repassou algum trabalho "ou se contratou algum serviço de publicidade de Fábio Luiz Lula da Silva". Não se lembra sequer se o filho de Dom Luiz Inácio participou de sua campanha eleitoral. E como de nada se recorda, esqueceu ainda de registrar, no TSE - Tribunal Superior Eleitoral -, que a Estratégia trabalhou na sua campanha.

Os tentáculos dos negócios ilícitos são tão extensos e poderosos que o jornal Folha de S. Paulo da quinta-feira (07) deu em manchete de primeira página que o publicitário Marcos Valério de Souza depositou, "no final de 2003, a quantia de 902 mil reais na conta do procurador da Fazenda Nacional Glênio Sabbad Guedes". Este funcionário público é responsável pela emissão de pareceres sobre multas aplicadas a instituições.

Foi ele quem anulou multa milionária que tinha sido aplicada ao Banco Rural, de onde foram sacados milhões e milhões de reais em dinheiro vivo, supostamente para pagar o mensalão.

Não há mais como abafar tantos desvios. E mesmo que metade daquilo que o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) tenha apontado seja apenas construído em fantasias e delírios, o que já está confirmado é capaz de estarrecer o mais ingênuo dos cristãos.Fora de cogitação

No Mundo "mais tranqüilo" que o presidente norte-americano George W. Bush e o primeiro ministro inglês, Tony Blair prometiam entregar aos seus patrícios, certamente não se encontrava incluída a possibilidade de atentados, como explosões de ônibus e ataques a metrô, dentro de seus próprios países.

A Inglaterra foi sacudida ontem por ações terroristas (quatro explosões) que tiveram como alvo seu sistema de transporte. Algumas dezenas de pessoas morreram e outras ficaram gravemente feridas e mutiladas. E a reação inicial de Bush e Blair foi a de anunciar o aumento de incursões militares em território iraquiano, onde já matam e mutilam diariamente mulheres, crianças e civis que nada têm a ver com o descalabro generalizado.

Em 2003, o serviço secreto dos EUA desativou uma bomba radioativa que pretendiam explodir em Washington, sem fazer alarde nem chamar a atenção para não assustar a população.

Não se tem como defender atitudes criminosas como essa agora de Londres, pois a população civil é sempre pega de surpresa e paga o pato. Mas Bush e Blair mutilam e matam todos os dias no Iraque, oficialmente, com armas das mais avançadas e sofisticadas. É preciso que se responsabilizem esses governantes, afastando-os da vida pública, já que eles também, sem sombra de dúvida, são terroristas iguais aos que dizem combater.

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