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Um dia atrás do outro - Márcio Accioly

A entrevista do deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) ao programa do Jô, na última terça-feira (05), não trouxe novidade em termos de possibilidade de mudança efetiva no deteriorado quadro político brasileiro.


A entrevista do deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) ao programa do Jô, na última terça-feira (05), não trouxe novidade em termos de possibilidade de mudança efetiva no deteriorado quadro político brasileiro. Ao repetir denúncias contra integrantes da Câmara dos Deputados, o parlamentar deixou nas entrelinhas a sensação de que não teremos maior alteração no cenário, mesmo diante de inevitável troca de nomes.

O licenciado presidente nacional do PTB já é cotado para o governo do Rio de Janeiro no próximo ano e até a Presidência da República. Saiu de tentativa de linchamento político, iniciada com a gravação feita por arapongas nos Correios, para a condição de referência nacional, numa manobra em que se posiciona de forma positiva. Ele se exibe como verdadeiro mestre na arte da sobrevivência.

Continua a preservar Dom Luiz Inácio (PT-SP), embora as denúncias atinjam frontalmente sua excelência. Apesar de todas as tentativas de blindagem, não há como eximir o mais alto mandatário: ou peca pelo envolvimento, ou pela omissão. Não existe meio-termo.

O presidente da República trafega agora na linha tênue e perigosa de transição de imagem. No momento, ele é um "coitadinho", "iludido". Mas para ir dessa condição à de "irresponsável" e "cúmplice", não precisa nem fazer muita força. A opinião pública é volátil e muda ao sabor das correntes.

O deputado petebista, porém, mantém posição injustificável ao defender a política econômica desse desgoverno (que só favorece banqueiros e a submissão absoluta do país), cometendo o pecado de lembrar o nome do ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) para uma próxima disputa presidencial. A não ser que esteja tratando de ampliar espaços na área política, em eventual pleito pessoal, não há como elogiar um modelo econômico que arrasa o país.

Roberto Jefferson presta inestimável serviço à nação, ao escancarar esquema de corrupção generalizada. Tem consciência de que nada será alterado, sem uma transformação radical no atual formato, transmitindo a impressão de estar interessado em tirar proveito da receptividade que vem alcançando junto à opinião pública do país. Quem quiser que se engane.

Enquanto Jefferson sobe, antigas estrelas que pareciam inatingíveis vão descendo. Como o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) que se imaginava todo-poderoso e eterno. Depois de descoberto contrato firmado na sua gestão, com a empresa do publicitário Marcos Valério (dez milhões e meio de reais), João Paulo recolheu-se ao silêncio.

Como é que a Câmara dos Deputados tem necessidade de pagar mais de dez milhões de reais a uma agência, qualquer agência, para divulgar o que acontece lá dentro? Só mesmo na roubalheira. Além do mais, João Paulo está sendo apontado pelos corredores, como o real mentor do mensalão, pois a trama envolvia aprovar emenda constitucional que permitisse sua reeleição. A dele e a de José Sarney (PMDB-AP), na Presidência do Senado.

Sem contar com os milhares de cargos de confiança (CNE), criados para o abrigo de petistas escorraçados das prefeituras em que o PT foi desalojado no ano passado. Esses cargos, que permanecem oferecendo régia remuneração, passaram a ser distribuídos pelo novo presidente, Severino Cavalcanti (PP-PE) entre os deputados federais. Não se sabe o critério.

Apesar de pagar milhões para ver a imagem da Casa, digamos, bem construída, a própria imagem de João Paulo está depositada na lata do lixo. Ele entrou na história como o único presidente que mandou a PM do Distrito Federal invadir o prédio do Congresso, para agredir idosos e outros que se manifestavam contra a reforma da Previdência. Reforma aprovada, agora se sabe, às custas do mensalão.

O ex-presidente João Paulo, aparentemente, desconhece o adágio "Cada qual só colhe o que planta". Suas intolerância com os mais humildes, sua prepotência descomunal e seu desrespeito às normas e regras, deram início a uma cobrança que se afigura extremamente dolorosa. Mergulhou em inescapável descenso.

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