- 12 de novembro de 2024
Mariana Mazza e Helayne Boaventura Da equipe do Correio
Desde que foi apontado como chefe de um grande esquema de desvio de dinheiro público, Jefferson tem precedido seus depoimentos com denúncias de corrupção em órgãos do governo petista. Ontem, horas antes da presença do petebista na CPI dos Correios, o jornal Folha de S.Paulo publicou entrevista em que Jefferson diz ter existido em Furnas desvio mensal de R$ 3 milhões: R$ 1 milhão para o PT nacional, R$ 1 milhão para PT de Minas Gerais, R$ 500 mil para a diretoria da estatal e os R$ 500 mil restantes distribuídos em um seleto grupo de deputados. Umas das maiores empresas do país, Furnas teve, apenas em abril, lucro de R$ 211,2 milhões. Jefferson diz ter recebido a informação de Dimas Toledo, que até ontem era diretor de Planejamento, Engenharia e Construção de Furnas. Além dele, pediram exoneração Rodrigo Botelho de Campos, responsável pelo setor de Gestão Corporativa; e José Roberto Cesaroni Cury, que respondia pela Diretoria Financeira. O afastamento a pedido dos diretores foi comunicado em nota do Ministério de Minas e Energia no início da tarde e confirmado pela estatal. Seguindo ordens do presidente Lula, o ministro interino de Minas e Energia, Maurício Tolmasquim, determinou a abertura de investigações internas em Furnas e na Eletrobrás, controladora da estatal denunciada. A nota sugere que os diretores poderão reintegrar a empresa tão logo a investigação seja concluída. Dilma na mira A denúncia também atingiu indiretamente a mulher forte do governo, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ministra de Minas e Energia até a segunda-feira passada. A comissão de sindicância da Corregedoria da Câmara que investiga os recentes escândalos de corrupção está de olho na ministra. O relator da Comissão de Sindicância, Robson Tuma (PFL-SP), deseja convocá-la para dar explicações sobre o suposto desvio em Furnas. A sindicância pediu cópia da fita em que Jefferson falou à Folha de S.Paulo. "Se a gravação confirmar o teor da reportagem, vou sugerir convocar os três parlamentares citados, os três diretores e a ministra Dilma Rousseff. Ela é que era responsável pela área ", anunciou Tuma. Os três parlamentares que Tuma quer ouvir são os deputados Luiz Piauhylino (PDT-PE), Osmânio Pereira (PTB-MG) e Salvador Zimbaldi (PTB-SP) (leia mais na página 3). Jefferson aponta os três como responsáveis pela nomeação de Cury para a Diretoria Financeira de Furnas. Eles seriam o selecionado grupo a receber R$ 500 mil por mês provenientes dos cofres da estatal. Além da Corregedoria, a Polícia Federal também entrou no caso. A assessoria do Ministério da Justiça informou a abertura de inquérito para apurar as denúncias feitas por Jefferson contra Furnas. Novamente, a investigação foi provocada pela Presidência da República. A diretoria de Furnas também avisou que fará uma sindicância interna para apurar a veracidade dos fatos relatados pelo deputado. Em comunicado à imprensa, a estatal lembra que todos os procedimentos da companhia são examinados internamente por um conselho fiscal, pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Controladoria Geral da União (CGU). Furnas administra dez usinas hidrelétricas e duas termelétricas e possui 18 mil quilômetros em linhas de transmissão. Mais de 40% de toda a energia consumida no Brasil passam pelo Sistema Furnas e a participação da empresa no abastecimento das grandes capitais é notável. No Rio de Janeiro, 92% da energia vem da estatal e em São Paulo, o percentual é de 58%. Quase toda a energia distribuída em Brasília, 97%, vem de Furnas. Graças a esse gigantismo nos serviços e nos recursos que administra, Furnas é alvo da cobiça dos partidos políticos. O cargo do informante de Jefferson, Dimas Toledo, esteve no centro de uma disputa entre o PTB e o PP. Segundo Jefferson, Lula ofereceu ao PTB a Diretoria de Planejamento, Engenharia e Construção de Furnas. O presidente estaria irritado com uma suposta ajuda de Dimas a programas do governo de Minas Gerais. O petebista diz que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), cobrou a permanência de Dimas, mas o deputado pernambucano nega o pedido. Com as dificuldades, o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu (PT-SP), teria proposto "um acerto direto entre o PT e o PTB". Após a divulgação das denúncias dos Correios, Dilma Rousseff suspendeu o processo de substituição em Furnas. LIGAÇÃO COM O IRB O diretor de Gestão Corporativa de Furnas Centrais Elétricas, Rodrigo Botelho Campos, afastado do cargo ontem junto com dois outros membros da diretoria da estatal, é um dos principais implicados em supostos crimes e atos de improbidade administrativa no relatório da Comissão de Sindicância do IRB, que ficou pronto e foi entregue ao Ministério Público na sexta-feira passada. A suspeita é de que a indicação da corretora Assurê/Acordia para o resseguro de Furnas tenha sido feita sem embasamento técnico e com o objetivo de favorecimento. A Assurê pertence a Henrique Brandão, amigo de longa data do deputado Roberto Jefferson. Em programa de televisão, Jefferson declarou que Brandão contribuiu "por dentro e por fora" para o PTB. |
Quem é quem OS AFASTADOS Dimas Toledo - Diretoria de Planejamento, Engenharia e Construção Engenheiro elétrico, está há 37 anos na equipe de Furnas e há oito respondia pela Dretoria de Planejamento. Ligado ao PSDB mineiro, foi indicado para ocupar a diretoria pelo ex-governador Eduardo Azeredo. Dentro da estatal, ocupou todos os níveis hierárquicos, chegando a ser diretor-presidente interino em abril de 2002. Rodrigo Botelho Campos - Diretoria de Gestão Corporativa Indicado pelo PT para ocupar a diretoria, Botelho já foi vice-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de Minas Gerais e diretor do sindicato mineiro dos eletricitários. Antes de assumir em Furnas, trabalhava na Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Formado em Economia e Administração de empresas, iniciou sua carreira na Acesita em 1984. José Carlos Cesaroni Cury - Diretoria Financeira De origem acadêmica, Cury é especializado em regulação do setor elétrico. Passou por diversos cargos em estatais do setor, entre elas a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL). OS DEPUTADOS Osmânio Pereira Bacharel em Direito, está em seu quarto mandato como deputado federal. Filiado ao PTB de Roberto Jefferson desde agosto de 2003, já foi vice-líder do PSDB na Câmara, tendo passagem também pelo PMDB. Ex-militante da Ação Popular, presidiu por 15 anos a Comissão Nacional de Renovação Carismática Católica, de onde consegue boa parte dos votos. Salvador Zilmbaldi O ex-tucano e um dos padrinhos da indicação do diretor financeiro de Furnas (José Roberto Cesaroni Cury), segundo sustenta Roberto Jefferson. Está em seu terceiro mandato. A primeira cadeira parlamentar que ocupou foi a de vereador em Campinas. Luiz Piauhylino Deputado federal pelo PDT de Pernambuco, também é bacharel em Direito. Ex-senador (1988-1989) pelo PMDB, o pedetista era uma das vozes do PTB no Congresso até poucos meses. O forte de Piauhylino jamais foi a fidelidade partidária. Ele já ocupou a presidência do PSDB em seu estado. |