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"MENSALÃO" - Retiradas de R$ 20 milhões

Acusado de ser o "homem da mala", publicitário fez pelo menos 103 saques na boca do caixa.



Isabella Souto
Do Estado de Minas

Marcos Michelin/Estado de Minas/22/06/2005
A ex-secretária Karina Somaggio denunciou que Marcos Valério carregava dinheiro em malas
 
Novas denúncias envolvendo o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza e as agências SMP&B Publicidade e DNA levantam mais suspeitas sobre o suposto esquema do mensalão - repasse de R$ 30 mil a parlamentares da base aliada para que votassem a favor de projetos do governo federal, segundo o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). O publicitário é apontado pelo deputado como o operador do esquema. A revista IstoÉ desta semana teve acesso a documentos que mostram saques em dinheiro vivo, de contas no Banco Rural, de R$ 20,6 milhões, realizados de julho de 2003 a maio de 2005.

Somadas as solicitações de saques não atendidas e depósitos em espécie, a quantia chega a R$ 27 milhões, segundo relatório enviado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) à Procuradoria Geral de Justiça de Minas, em Belo Horizonte.
No período, foram realizados 103 saques diretos no caixa, uma média semanal de R$ 100 mil. Em alguns períodos as retiradas foram maiores, como em janeiro de 2004 (R$ 2,8 milhões) e setembro de 2004 (R$ 1,3 milhão). Todas as operações foram comunicadas pelo Banco Rural ao Coaf, conforme determina a legislação federal.

O Ministério Público e a Polícia Federal já teriam identificado duas pessoas encarregadas de fazer alguns dos saques: Geisa Dias dos Santos e Alexandre Vasconcelos Castro. A primeira é funcionária do Departamento Financeiro da SMP&B e teria sacado pelo menos R$ 2 milhões. Segundo a revista, em 2003 ela teria trocado uma modesta casa em Contagem por um confortável apartamento no bairro Ouro Preto, na capital. Procurada e m sua casa, ontem, a reportagem foi informada de que ela estaria viajando. Já Alexandre, ainda segundo a revista, é dono da Express, uma empresa de cobrança e factoring que tem como fachada uma loja de bicicletas no bairro Floresta. Alexandre admitiu à revista que em 2003 fez centenas de saques no Banco Rural. Ontem, sua loja estava fechada.

O empresário Marcos Valério, em entrevista à revista Veja, também revelou ter feito saques altos naquele banco. Segundo ele, para comprar gado. "Tenho fazendas, compro animais. Lido com gado. Há fazendeiros que simplesmente não aceitam cheque", disse. Mas, segundo nota divulgada pela SMP&B, ele somente dará mais detalhes em juízo. O Banco Rural alega que não pode comentar quaisquer informações sobre seus correntistas em razão de regras de sigilo bancário. O banco diz ainda que o destino do dinheiro sacado é de responsabilidade dos próprios clientes, sem qualquer controle da instituição.

A revista Carta Capital publica reportagem em que afirma que o depoimento da ex-secretária de Marcos Valério, Karina Fernanda Somaggio, à IstoÉ Dinheiro foi forjado em sítio do executivo Carlos Rodenburg, ex-cunhado de Daniel Dantas, presidente do Banco Opportunity. Valério e Dantas teriam se aproximado em 2004, quando o banqueiro o procurou para tentar uma ligação com o governo federal. Em troca, a DNA teria conseguido as contas da Telemig Celular e da Amazônia Celular.

Valério e Dantas teriam se desentendido naquele mesmo ano, o que resultou na entrevista concedida pela ex-secretária, que afirmou ter visto malas de dinheiro com o ex-patrão e confirma que Marcos Valério teria ligações estreitas com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, além de outros integrantes da cúpula do PT. Mas, o advogado de Karina, Rui Pimenta, negou ontem que ela tenha dado a entrevista a partir de negociações com Dantas.


Depoimento na câmara

O sócio das agências SMP&B Comunicação e DNA Propaganda Marcos Valério Fernandes de Souza vai depor na próxima quarta-feira na Comissão de Sindicância instalada pela Corregedoria da Câmara dos Deputados. O publicitário mineiro foi apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como o principal operador do suposto pagamento de "mensalão" a deputados da base aliada ao governo, em troca de apoio no Congresso.

Por meio de sua assessoria de imprensa, Marcos Valério informou ontem que vai prestar "todos os esclarecimentos" relativos à sua "movimentação financeira e patrimonial" e das empresas das quais participa. Marcos Valério será ouvido em Brasília um dia depois do depoimento de sua ex-secretária Fernanda Karina Somaggio, que foi arrolada como testemunha por Jefferson para falar no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara. Karina acusou o ex-chefe de transportar "malas de dinheiro" para a capital federal e manter estreito relacionamento com políticos e, principalmente, dirigentes petistas. O depoimento dela será terça-feira.

Em entrevista à revista Veja, Valério afirmou ter feito altos saques em dinheiro para comprar gado. "Há fazendeiros que simplesmente não aceitam cheque", afirmou o publicitário. Ele admitiu ser amigo do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, mas disse que não tem intimidade com o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, a quem se refere na entrevista como "Zé".

Para o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), os saques realizados pelas empresas de Marcos Valério são "suspeitos". Segundo ele, ainda não está claro se a suspeita de pagamento do mesadas para parlamentares será apurado pela CPI dos Correios ou por outra específica para o "mensalão".

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