- 12 de novembro de 2024
Em Roraima as coisas acontecem de uma maneira tão tênue que quando percebemos e tentamos corrigir, esbarramos nos nossos costumes que, ingenuamente por muito tempo alardeamos ser a coisa mais natural. A maneira de agir e de ser do roraimense foi moeda no preço da história da posse das terras em Roraima. A nossa ingenuidade e a irresponsabilidade de outros produziram frutos nada agradáveis.
Infelizmente temos que admitir que enquanto dormíamos de janelas abertas, andávamos em ruas largas de areia e piçarra, festejávamos abnegados com donativos os padroeiros da Igreja Católica, adorávamos ir ao Rio Branco e contemplar a Pedra Pintada, éramos sorrateiramente apunhalados pelas costas por instituições que em nome da fé arquitetaram uma dos maiores aliciamentos espirituais que veladamente foi tomando conta da consciência de muitos roraimenses hospitaleiros que aprenderam direitinho a lição.
Lição que foi repassada com os princípios de uma doutrina baseada nos ensinamentos da guerrilha sociológica onde se pregava e prega-se, a lavagem cerebral através da fé usando o carisma do rosto angelical dos pregadores da palavra de "deus" tendo a bíblia, como o caminho para a salvação e Roraima o purgatório entre o Céu e o inferno.
Dormíamos tranqüilos é verdade, tínhamos uma paz aparente com os índios (caboclos). Nos arraias tradicionais éramos um só povo. Mas não percebíamos que as oferendas aos nossos padroeiros poderiam estar sendo usadas em outros fins. Enquanto festejamos São José na Vila Pereira em Surumu, Nossa Senhora de Nazaré em Normandia e São Sebastião em Boa Vista, uma parcela de índios e não índios eram ensinados e doutrinados a ter uma "consciência coletiva" pela educação religiosa alienadora.
O cenário que hoje avistamos no Brasil do extremo norte é um verdadeiro caldeirão de conflitos sociais condimentado com o tempero ao molho da fé.extraído duma receita que reuni ingredientes psicológicos altamente danosos à mente humana que foi degustado por muitos indígenas e não indígenas, ministrado pelos mestres da cozinha cristã e afins (Leia-se - parte da Igreja Católica e Missões Evangélicas), traduzidos nesta má digestão fundiária.
A inocência do caboclo, somada a hospitalidade daquelas que para Roraima vieram morar criar, defender, amar e, a irresponsabilidades de outros, foram os trilhos que a psicologia marxista da catequese e da evangelização usou para atrelar a locomotiva das demarcações terras de Roraima. Enquanto cantarolávamos as melodias do Sabá, Nazaré e José em alguma maloca, alguém realizava uma reunião dominical (aldeamento e invasão de terras) em nome de Deus ou do diabo.
Hoje quem sentava em nossa mesa para saborear uma boa paçoca de carne seca com banana, quem tomava banho no Rio Surumu e brincava de bola de meia na Praça da Bandeira, nos vê como inimigo; invasor, posseiro que apesar de termos convivido desde a infância com estas pessoas o que resta é um rancor. Uma espécie de vingança adormecida. Os pioneiros criadores de gado que ajudaram e deram seu suor para construir as igrejas do Sabá, de Nazaré, José e os templos são escorraçados de suas casas e denominados de posseiros. As vilas são corruptela onde a melhor edificação é uma igreja. Pasmem! Que santo ofício.
A nossa hospitalidade e inocência - talvez burrice - nos custaram muito caro. Estamos pagando o preço por sermos fiéis aos nossos padres e pastores. Por acreditarmos que dormindo de janela aberta, e freqüentando as igrejas ninguém iria pular para dentro de nossas casas e roubar a consciência dos nossos parentes. Agora somos invasores e tomamos posse do que não é nosso - segundo as sagradas escrituras antropológicas da santa fé das Ongs e adeptos.
A busca pela paz espiritual nos bancos aos pés do altar transpôs o sacerdócio de rezar a ladainha de nossa senhora e do creio-em-deus-pai culminando na palpável realidade. De um lado o índio; de outro o não índio; no meio, a animosidade preconizada nos aldeamentos em nome de uma fé paradoxal que ignorou os sentimentos alheios e propagou o terrorismo racial orquestrado ao pé da cruz num presépio da discórdia montado em nome da inocência, hospitalidade e irresponsabilidade do povo de Roraima. Bom dia!!!
Joel Maduro
Jornalista Mtb. nº109/RR
9977-9724