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SANGUE IANOMAMI - MPF quer identificar

O MPF está tramitando um processo administrativo instaurado com base em matérias da imprensa brasileira.


O Ministério Público Federal em Roraima está tramitando um processo administrativo instaurado com base em matérias da imprensa brasileira que tratavam do livro Trevas no Eldorado lançado em 2000 pelo jornalista americano Patrick Tierney. No livro o autor destila criticas a graneo contra cientistas americanos que na década de 60 teriam retirado várias amostras de sangue dos índios Yanomami.

No livro, o jornalista americano aponta que a coleta do sangue Yanomami foi feita pelo geneticista James Van Gundia Nell (falecido em 2000) e pelo antropólogo Napoleon Chagnon (aposentado), conhecido também por ter publicado em livro a afirmação de que a etnia Yanomami é geneticamente violenta, estando eles em constante guerras inter tribais, quase sempre envolvendo disputa por mulheres. Entretanto, sua tese a esse respeito é refutada por diversos especialistas da antropologia mundial.

De posse de documentos probatórios o analista pericial em Antropologia do MPF/RR Jankiel de Campos afirma em relatório encaminhado ao Procurador da República Marcus Marcelus Goulart que a coleta de sangue dos Yanomami feita por Nell e Chagnon tinha dois objetivos, um público e outro oculto. O primeiro, acadêmico, era estudar o povoamento do continente. O segundo, menos nobre, era obter amostras para a Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos da América (AEC) de povos que nunca tinham sido expostos a radiação artificial.

Outro dado apontado sobre a coleta de sangue dos Yanomami é que a dupla de cientistas americanos contou com a participação de dois cientistas brasileiros, Francisco Salzano, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e Manuel Ayres, da Universidade Federal do Pará. No inicio desta semana o Procurador da República em Roraima Marcus Marcelus encaminhou ofícios a colegas do Rio Grande do Sul e Pará solicitando que tomem oficialmente depoimentos dos dois envolvidos.

Para o Procurador Marcus Goulart ao contrário do que foi noticiado pela revista Época deste final de semana, sobre o caso, a preocupação maior neste momento é identificar quais instituições americanas possuem amostras do sangue Yanomami. Até agora somente a universidade da Pennsylvania afirmou possuir amostras do material genético Yanomami. Em correspondência enviada ao MPF o responsável pelo laboratório da Universidade americana, professor Kenneth Weiss afirma haver amostras de sangue que foram obtidas dos Yanomami. Weiss informa ainda que essas amostras também podem ser encontradas na Universidade de Michigan, na Universidade de Emory e no instituto Nacional do Câncer em Maryland. Weiss cita ainda Francisco Salzano como principal colaborador de Nell no Brasil e possível fonte de informações sobre o modo como foram obtidas as amostras de material genético.

"Segundo o relatório da Associação Americana de Antropologia - AAA, nos últimos anos foram feitas novas pesquisas com sangue Yanomami e há outras em curso. É muito provável que outras instituições norte-americanas além das citadas por Weiss, detenham essas amostras" afirma em seu relatório o analista pericial em Antropologia do MPF/RR Jankiel de Campos.

Em carta enviada ao MPF Davi Kopenawa, lider Yanomami, afirma que "não pode sobrar nada se não o povo fica com raiva e o pensamento não fica tranqüilo". Entre a etnia Yanomami os mortos são cremados e seus nomes não são mais pronunciados para que seus espíritos possam entrar no mundo dos mortos.

Em março de 2003, o MPF encaminhou ofício ao Ministério das Relações Exteriores relatando os fatos investigados e solicitando providências no sentido de que fosse feita uma investigação exaustiva sobre a presença de amostras de sangue Yanomami nos Estados Unidos e de que fosse contratado um advogado para conseguir o repatriamento do material genético, bem como a possibilidade de ser acionado juridicamente o governo norte americano ou as instituições depositárias, no sentido de indenizar, por danos morais, o povo Yanomami. Correspondência semelhante foi encaminhada a AGU - Advocacia Geral da União.

"È preciso abrir um canal de comunicação com o governo americano sobre os fatos. Caso não seja possível iremos propor uma Ação Civil Pública o que juridicamente é demorado pois envolve direito internacional" explica o Procurador da República Marcus Goulart.

 

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