00:00:00

CANTO DO CISNE - Jefferson solta a voz

Roberto Jefferson quebrou o silêncio. Não para dar detalhes sobre o esquema do "mensalão" ou mesmo para se defender da enxurrada de críticas. Ele soltou a voz, mas para cantar. Jefferson deu um show de canto lírico. Ecoou canções italianas de dentro do apartamento funcional que ocupa em prédio da 302 Norte.



Lilian Tahan
Da equipe do Correio

Iano Andrade/CB
Apartamento de Jefferson com luz acesa: título em português de música é Contigo Partirei
 
O autor das denúncias sobre pagamento de mesadas a parlamentares da base aliada do governo - presidente do PTB, Roberto Jefferson - quebrou o silêncio mantido desde a entrevista concedida no fim de semana com as revelações. Não para dar detalhes sobre o esquema do "mensalão" ou mesmo para se defender da enxurrada de críticas. Na verdade, o presidente petebista soltou a voz, mas para cantar. No meio da tarde de ontem, pouco antes da bancada do seu partido decidir pela entrega dos cargos, Roberto Jefferson deu um show de canto lírico. Durante quase 30 minutos, enquanto o seu processo de cassação era aberto na Câmara dos Deputados, o parlamentar ecoou canções italianas de dentro do apartamento funcional que ocupa em prédio da 302 Norte.

Para a vizinhança, a cantoria não é novidade. Duas vezes por semana Jefferson pratica ópera acompanhado por uma professora particular. Mas ontem, até mesmo quem já estava acostumado com a performance do deputado, reparou a diferença. "Ele está mais empolgado do que nunca", comentou um funcionário de lanchonete a menos de 20 passos da prumada do parlamentar. Acompanhado em play back de um piano, o deputado interpretou quatro canções italianas - Torna a Surriento (Luciano Pavarotti), Caruso (Lucio Dalla), Cuore Ingrato (Leopoldo Mastelloni) e Con te Partirò (Andrea Bocelli).

Essas duas últimas têm títulos curiosamente relacionados ao atual momento vivido pelo parlamentar: Coração Ingrato e Contigo Partirei, respectivamente. Desde o surgimento das denúncias sobre a corrupção nos Correios, em que o petebista aparece como um dos envolvidos, Jefferson tem dito a interlocutores que não vai arcar sozinho com as conseqüências.

Recluso
Ilhado no sexto andar do prédio em que é o único morador - ele não sai de casa há cinco dias -, o deputado reafirmou aos poucos aliados que sobraram depois do escândalo a intenção de manter a estratégia adotada a partir do final de semana. Vai continuar a apontar a metralhadora para o Congresso, o que deve resvalar no governo e assim desviar o foco das atenções da CPI dos Correios e do Instituto de Resseguros do Brasil, que o coloca na linha de frente do bombardeio.

Ontem à tarde, o líder do PTB na Câmara, José Múcio Monteiro (PB), insinuou em entrevista na portaria do prédio de Jefferson que o presidente do partido ainda não disse tudo o que sabe. "Ele quer e vai falar", afirmou. O líder - citado por Jefferson na entrevista ao jornal Folha de S.Paulo como uma das testemunhas da existência dos "mensalões" - não negou o esquema e disse ainda que o parlamentar "não faria o que fez sem ter provas." À noite, Múcio voltou ao apartamento de Jefferson. Ao deputado Nilton Capixaba (PTB-RO), Jefferson voltou a dizer que não tem nada a perder: "Ele está preparando o discurso de despedida e vai apontar detalhes desta operação".


Colaborou Leonel Rocha

Demissão

O genro do presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), Marcos Vinícius Vasconcelos Ferreira, pediu na noite de terça-feira o desligamento do cargo de assessor da Eletrobrás Termonuclear (Eletronuclear), uma das estatais onde o petebista tem afilhados políticos. Ferreira apresentou uma carta ao o diretor de Gestão, Planejamento e Meio Ambiente da estatal, Luiz Rondon Teixeira de Magalhães Filho, que ocupa o cargo por indicação de Jefferson. A assessoria da Eletronuclear informou que o desligamento foi aceito pelo diretor e que Ferreira não apresentou motivos para a saída da empresa. Há suspeitas da existência de um esquema de corrupção nas estatais que, supostamente, envolveria Jefferson. O deputado petebista, por sua vez, acusa o PT de pagar propina para deputados da base aliada do governo federal.

Últimas Postagens