- 12 de novembro de 2024
Lilian Tahan Da equipe do Correio
Para a vizinhança, a cantoria não é novidade. Duas vezes por semana Jefferson pratica ópera acompanhado por uma professora particular. Mas ontem, até mesmo quem já estava acostumado com a performance do deputado, reparou a diferença. "Ele está mais empolgado do que nunca", comentou um funcionário de lanchonete a menos de 20 passos da prumada do parlamentar. Acompanhado em play back de um piano, o deputado interpretou quatro canções italianas - Torna a Surriento (Luciano Pavarotti), Caruso (Lucio Dalla), Cuore Ingrato (Leopoldo Mastelloni) e Con te Partirò (Andrea Bocelli). Essas duas últimas têm títulos curiosamente relacionados ao atual momento vivido pelo parlamentar: Coração Ingrato e Contigo Partirei, respectivamente. Desde o surgimento das denúncias sobre a corrupção nos Correios, em que o petebista aparece como um dos envolvidos, Jefferson tem dito a interlocutores que não vai arcar sozinho com as conseqüências. Recluso Ilhado no sexto andar do prédio em que é o único morador - ele não sai de casa há cinco dias -, o deputado reafirmou aos poucos aliados que sobraram depois do escândalo a intenção de manter a estratégia adotada a partir do final de semana. Vai continuar a apontar a metralhadora para o Congresso, o que deve resvalar no governo e assim desviar o foco das atenções da CPI dos Correios e do Instituto de Resseguros do Brasil, que o coloca na linha de frente do bombardeio. Ontem à tarde, o líder do PTB na Câmara, José Múcio Monteiro (PB), insinuou em entrevista na portaria do prédio de Jefferson que o presidente do partido ainda não disse tudo o que sabe. "Ele quer e vai falar", afirmou. O líder - citado por Jefferson na entrevista ao jornal Folha de S.Paulo como uma das testemunhas da existência dos "mensalões" - não negou o esquema e disse ainda que o parlamentar "não faria o que fez sem ter provas." À noite, Múcio voltou ao apartamento de Jefferson. Ao deputado Nilton Capixaba (PTB-RO), Jefferson voltou a dizer que não tem nada a perder: "Ele está preparando o discurso de despedida e vai apontar detalhes desta operação". Colaborou Leonel Rocha |
Demissão O genro do presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), Marcos Vinícius Vasconcelos Ferreira, pediu na noite de terça-feira o desligamento do cargo de assessor da Eletrobrás Termonuclear (Eletronuclear), uma das estatais onde o petebista tem afilhados políticos. Ferreira apresentou uma carta ao o diretor de Gestão, Planejamento e Meio Ambiente da estatal, Luiz Rondon Teixeira de Magalhães Filho, que ocupa o cargo por indicação de Jefferson. A assessoria da Eletronuclear informou que o desligamento foi aceito pelo diretor e que Ferreira não apresentou motivos para a saída da empresa. Há suspeitas da existência de um esquema de corrupção nas estatais que, supostamente, envolveria Jefferson. O deputado petebista, por sua vez, acusa o PT de pagar propina para deputados da base aliada do governo federal. |