- 12 de novembro de 2024
Já faz algum tempo, o cenário político brasileiro andava sequioso, em busca de figura da importância do deputado federal Roberto Jefferson (RJ), presidente nacional do PTB, para mostrar como funciona internamente a podre engrenagem do poder. Quando o então presidente Fernando Collor de Mello foi cassado (1992), esperava-se que seu ex-tesoureiro de campanha, Paulo César Farias, o PC, fizesse as revelações tão desejadas.
Mas PC tergiversou, perdeu a noção do que estava de fato acontecendo, naufragou numa montanha de dinheiro ilícito e terminou assassinado (1996), numa mansão alagoana. Saiu de cena com os fatos não apurados, ou levantados apenas de forma supérflua. Ao se omitir, perdeu o bonde da história e se tornou extremamente vulnerável. Um arquivo vivo e perigoso que colocava em risco todo o sistema. Resultado: foi queimado.
A ironia de tudo isso é saber que Roberto Jefferson vem desde aquele período, tendo sido inclusive membro da tropa de choque collorida, figura de proa em todo o processo político que desaguou no afastamento do presidente.
Quando surgiram as atuais denúncias no desgoverno petista, o flagrado no caso foi um funcionário dos Correios, ligado ao esquema político do PTB. Por conta disso, os demais participantes de falcatruas entenderam que a melhor forma de abafar seria isolando o presidente daquela legenda. E trataram de montar um cenário no qual Roberto Jefferson iria se tornar a bola da vez. Só que o feitiço virou contra o feiticeiro.
Quando se viu na capa da revista Veja (que o apresentou como se comandasse sozinho, por iniciativa própria, um bando de malfeitores), acendeu a luz amarela e verificou que seria queimado sem dó nem piedade. Assim como PC Farias foi eliminado. Mas, como é pessoa experiente, advogado que possui tarimba, conhecedor dos homens e das leis, passou de imediato a agir e não se deixou encurralar nas cordas da hipocrisia generalizada.
Porque o Congresso Nacional é um viveiro de cobras criadas, onde tudo funciona a contento, com exceção absoluta da tal de democracia representativa. As coisas ali são ditas e efetuadas de forma clara e aberta, mas ninguém as enxerga, só se convier. Não há quem se interesse em tomar providências com relação a nada.
Na Câmara ou no Senado, gabinetes se encontram às pencas com funcionários registrados que jamais os freqüentam, além de laranjas que recebem altos salários somente no contracheque, obrigados a devolvê-los religiosamente no final do mês. Tudo isso, sem o envolvimento ou comprometimento direto do maior beneficiado: o senhor parlamentar. Quem abrir o bico, ver-se-á condenado à demissão e à execração geral.
Os meios de comunicação noticiaram, na operação abafa da CPI dos Correios, que o ministro Antônio Pallocci (Fazenda) montou gabinete dentro do próprio Palácio do Planalto, autorizando o pagamento de emendas parlamentares, lá de dentro, no coração da Presidência da República. Que é isso, se não corrupção? Que é isso, se não uma espécie de mensalão, semelhante ao agora denunciado por Roberto Jefferson?
Por que o PSDB recuou da ofensiva sem trégua que vinha empreendendo, depois que a temperatura política atingiu nível de quase ebulição? Simples: apenas porque o pagamento a parlamentares foi todo estruturado pelo falecido Sérgio Mota, ex-ministro das Comunicações de FHC, o governo mais corrupto da história de nossa República.
Dom Luiz Inácio vai cair, porque essa desordem que se chama governo petista deu seqüência à pratica entreguista que se acelerou desde a era Collor e que ele jurava ir combater. Vai cair, porque ainda falta fazer a CPI das privatizações que teria de levar FHC a julgamento público por crime de lesa-pátria, diante de todos os males causados à nação.
A população da Bolívia está nas ruas, exigindo a nacionalização do gás e do petróleo, já que suas riquezas naturais estão nas mãos de multinacionais como a Shell, enquanto o povo morre de fome. Nós ainda não atingimos estágio tão avançado, mas não parece faltar muito. FHC entregou quase tudo no Brasil, mas continua livre e impune.
O PSDB de FHC recuou, porque tem medo do que poderá surgir no seio dessa CPI que se tornou inevitável, pois a corrupção de compra de parlamentares, no seu governo, levou pelo menos dois deles à renúncia em escândalo abafado. João Maia e Ronivon Santiago, os dois do Acre e então no PFL, ainda podem ser convocados para esclarecer o episódio.
De maneira que devem ser dispensados todos os louvores ao deputado federal Roberto Jefferson. Ele é pessoa íntima do mecanismo que nos devora. Ninguém melhor do que ele para expor nua e cruamente as causas de toda nossa miséria.
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