- 12 de novembro de 2024
Da Redação
Genoino descartou a possibilidade de Delúbio ser afastado do PT durante as investigações. "É uma denúncia falsa, mentirosa. Nós confiamos nos dirigentes do partido." O presidente do PT disse também que, "diante das declarações infundadas, inverídicas e estapafúrdias", a bancada do PT na Câmara decidiu apoiar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios e indicar seus membros na comissão. "Vamos enfrentá-la, não temos nada a temer." Questionado sobre a possibilidade de criação da CPI do "mensalão", Genoino afirmou que "este é um assunto do Congresso". "Não sou parlamentar, não sou congressista, não vou opinar em uma questão parlamentar." Sobre as declarações de Jefferson, o presidente do PT disse que o partido "repudia, denuncia e vai tomar todas as providências necessárias para defender suas idéias". Genoino disse ainda que o PT vai trabalhar para que a Corregedoria da Câmara investigue a fundo as denúncias. O presidente do PT afirmou que seu partido, após as denúncias de Jefferson, conversou com todas as legendas da base de apoio ao governo Lula. "Só não tivemos contato com os partidos de oposição, até porque a tática da oposição é intercalada com ações sectárias e, ao mesmo tempo, para limpar suas imagens, usam discurso para amenizar. Não temos ilusão do que pretendem: antecipar o debate político e usar a CPI como palanque eleitoral", afirmou o presidente do PT. Ele disse que conversou com o presidente Lula na noite de segunda-feira e que o presidente não demonstrou nenhum descontentamento com o partido. Sob forte pressão do governo - especialmente do chefe da Casa Civil, José Dirceu -, o comando do PT resistiu hoje à proposta de afastamento de Delúbio Soares. Segundo um dos participantes da reunião de ontem na sede nacional do PT, Dirceu telefonou para sugerir o afastamento de Delúbio. A Executiva reagiu, alegando que essa seria uma demonstração de desconfiança. "O que aconteceu com o Delúbio? Uma denúncia falsa e mentirosa", argumentou Genoino, dedicando "apoio e confiança" a Delúbio. "O PT vai para ofensiva para se defender perante seus filiados, seus militantes e perante os eleitores do PT", disse. O secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, também atacado por Jefferson, descartou até a idéia de remeter a denúncia ao comitê de ética do PT: "Não há necessidade. Não há nada contra ele". Secretário de Relações Internacionais do partido, Paulo Ferreira afirma que "Delúbio é quadro da confiança do partido e seu afastamento não está em pauta". |
Entrevista - Cristovam Buarque "Delúbio precisa sair" Ana Maria Campos e Eumano Silva Da equipe do Correio
O senador petista Cristovam Buarque se transformou em um crítico contumaz do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Mas pela primeira vez defende o afastamento de integrantes do Executivo e do PT. Em entrevista ao Correio, ele sustenta que Lula deveria agir como o ex-presidente Itamar Franco, que afastou o então chefe da Casa Civil, Herique Hargreaves, envolvido em denúncias, depois consideradas infundadas. Um dos que deveria tomar a iniciativa de se licenciar, segundo Cristovam, é o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, acusado de pagar mesada para deputados votarem projetos de interesse no Executivo . CORREIO BRAZILIENSE - O senhor acha que as denúncias de que existia um mensalão na Câmara transformam o PT num partido igual aos outros? CRISTOVAM BUARQUE - Se a opinião pública não acreditar que vai haver apuração, não tenho dúvida de que o PT vai caminhar para ser um partido visto como igual aos outros. CORREIO - Por que o PT, que sempre teve um discurso de ética na política, chegou a esse ponto? CRISTOVAM - Não demos o salto para nos transformarmos num partido propositivo de um Brasil diferente. O outro ponto é que temos uma equipe de governo que não dialoga com o Congresso. O outro problema é que era preciso manter a personalidade do PT, independente, do governo. O partido ficaria preservado. Nós também não definimos quais eram as bandeiras do governo, quais eram os legados que o governo iria deixar. E aí não fizemos aliança em torno de um legado, mas sim em torno do projeto de ficar no poder. CORREIO - O que o senhor acha que o presidente Lula vai mostrar no ano que vem na campanha? CRISTOVAM - Ele vai mostrar que o governo deu continuidade à política de Fernando Henrique Cardoso na área econômica, adotou uma política externa, que tem algumas características novas e aumentou o número de beneficiados de um programa que o Fernando Henrique Cardoso levou para o Brasil: o Bolsa-Escola. Não vejo mais nada a mostrar e isso contamina o PT, porque o PT passa a ser um partido sem sonhos. Se além disso vier a pecha de corrupção, nós estaremos perdidos em 2006. CORREIO - O que o senhor defende que se faça com os acusados, como o tesoureiro Delúbio Soares, num momento como esse? CRISTOVAM - Por causa da suspeita, valia a pena ele próprio pedir licença, se afastar. Estou propondo ao (José) Genoino uma comissão partidária de inquérito, além da CPI. CORREIO - Como o senhor acha que está o comportamento do presidente Lula nesse processo? CRISTOVAM - O presidente Lula deveria pedir àqueles, cuja suspeita chegou ao imaginário do povo, que entreguem o cargo, pelo mesmo provisoriamente, como fez Itamar Franco, com o maior de seus amigos que é o (Henrique) Hargreaves. Ficou muito bem resolvido. O Itamar é um homem que depois de passar pela Presidência manteve a integridade moral. CORREIO - O presidente Lula diz que não vai demitir ninguém por manchetes de jornal, numa referência ao ministro da Previdência, Romero Jucá, e ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. CRISTOVAM - Havendo suspeita, o mais correto é a pessoa sair do cargo. Mas acho que vale a pena fazer uma análise cuidadosa. No caso do presidente do Banco Central, não tenho elementos para dizer que afastá-lo em nome da ética não traria um prejuízo muito grande para o social em função da estabilidade econômica. No caso da Previdência, acho que não haveria essa crise do sistema. CORREIO - O senhor vai sair do PT? CRISTOVAM - Só sairia do PT por um esgotamento do partido como o condutor de um novo Brasil. Francamente está perto de sentir isso. Mas aí tem o outro lado: qual é o partido que representa a condução de um novo Brasil? Não estou vendo nesse momento este partido. |