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NO VENTILADOR - "Caminhão de provas" é a nova ameaça de Roberto Jefferson

Presidente nacional do PTB, o deputado Roberto Jefferson (RJ), telefonou ontem no fim da tarde ao deputado Ricardo Izar (PTB-SP), presidente do Conselho de Ética da Câmara. Falou em tom ameaçador: "Pode marcar meu depoimento. Para amanhã mesmo, se quiser. Mas se prepare. Eu tenho um caminhão de provas. Muitos deputados vão se complicar."


Ugo Braga, Paulo Mario Martins e Lilian Tahan
Da equipe do Correio

Ailton de Freitas/Ag. O Globo
Jefferson passou o dia trancado em seu apartamento, mas telefonou para Izar, presidente do Conselho de Ética
 
Presidente nacional do PTB, o deputado Roberto Jefferson (RJ), telefonou ontem no fim da tarde ao deputado Ricardo Izar (PTB-SP), presidente do Conselho de Ética da Câmara. Falou em tom ameaçador: "Pode marcar meu depoimento. Para amanhã mesmo, se quiser. Mas se prepare. Eu tenho um caminhão de provas. Muitos deputados vão se complicar." Era o último movimento do dia em que Jefferson decidiu transformar o plenário num verdadeiro campo minado.

O tom do telefonema assustou Izar, que o reproduziu nessas palavras a um grupo de parlamentares de seu próprio partido e do PL. O mesmo recado havia sido enviado horas antes por outro preposto, o deputado Nilton Capixaba (PTB-RO). Ele foi ao apartamento de Jefferson e na saída encenou a fala combinada com o chefe. "Ele (Jefferson) falou que tem provas. E o que tem nas mãos é muito mais do que já se falou. Mas ele agora só fala numa CPI."
Há uma diferença nas duas conversas. No início da tarde, a Capixaba, ele só admitia falar numa CPI. Horas depois, a Izar, ameaçou lançar provas no ventilador do Conselho de Ética hoje mesmo, se fosse chamado. Ou seja, o humor do presidente do PTB piorou sensivelmente durante a tarde.

Sem bombeiro
O que o vem tirando do sério é a tática do isolamento a que está sendo submetido. Seus próprios correligionários passaram o dia arquitetando uma forma de ejetá-lo do comando da sigla. Não há um só bombeiro disponível. A única ponte de salvação foi lançada pelo próprio

Jefferson. Trata-se de uma nota oficial do partido, lida por seu advogado, Itapoã Messias, na portaria do edifício onde mora o deputado. A nota começa falando em ética e transparência e chega ao ponto: "O PTB reafirma seu apoio à pessoa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um homem correto, digno, síntese dos sonhos e das esperanças dos brasileiros".

Ao divulgá-la, Jefferson mandou avisar que ela havia sido negociada com os outros caciques do PTB - o líder na Câmara, José Múcio Monteiro (PE), e o líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (RN). É uma meia verdade. A nota tem até o estilo da retórica de Jefferson e representa mais uma tentativa de fazer com que o presidente Lula o ajude, ainda que nos bastidores.

Jefferson, entretanto, sabe que o assunto não está mais nas mãos do Palácio do Planalto, que mal controla seus aliados. Quem vai decidir sobre a investigação, se ela vai mesmo acontecer, e com que profundidade, é o Congresso. Daí a tática de espalhar medo entre os deputados. A pequena platéia a quem Ricardo Izar contou do telefonema não aparentava medo, apenas confusão, como se não entendesse exatamente o que está acontecendo.

PL pede cassação
Ganhou força ontem a estratégia iniciada pelo governo de virar a mesa e concentrar a crise sobre Jefferson. A presidência do Partido Liberal apresentou ao Conselho de Ética da Câmara um pedido de cassação do mandato do petebista. No mesmo dia, a presidência do PP decidiu interpelar judicialmente o deputado sobre o pagamento de "mensalão" a deputados do PP e do PL.

O argumento do PL para entrar com o pedido de cassação é o da quebra de decoro - quando um deputado fere as regras éticas de conduta parlamentar. "Temos a absoluta certeza de que tudo não passou de um blefe, de que ele (Jefferson) tomou essa atitude como um ato de desespero. Mas uma irresponsabilidade desse tipo não pode passar impune, não condiz com a postura de um parlamentar e, portanto, ele deve ser punido com a perda do mandato", justificou o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP).

O líder do partido na Câmara, Sandro Mabel (GO), reforçou que o partido tomou uma atitude à altura das acusações feitas pelo presidente do PTB. "Se alguém te coloca em xeque e você fica tímido é porque tem alguma coisa para dever. O PL não tem nada a dever, por isso, se ele (Jefferson) tiver alguma coisa para falar do PL que venha e fale agora", desafiou o parlamentar. O pedido de cassação do petebista contou com a adesão dos 54 deputados que compõem a bancada do PL. Embora o pedido tenha sido apresentado diretamente ao Conselho de Ética, ele foi encaminhado à presidência da Câmara. Amanhã, o requerimento será levado ao presidente Severino Cavalcanti (PP-PE), que deverá assinar o pedido.

Em nota oficial, o PP reforçou a ofensiva contra Jefferson, informando a decisão do partido de pedir explicações do petebista em juízo. O requerimento será entregue hoje ao Supremo Tribunal Federal e, se for aceito, Jefferson será chamado para prestar explicações. "Ele tem que esclarecer o que falou. Se negar, vamos entrar com ação indenizatória. Se confirmar, vai ter de apresentar provas", provoca o líder do PP na Câmara, José Janene.


Ele (Jefferson) falou que tem provas. E o que tem nas mãos é muito mais do que já se falou. Mas agora só fala numa CPI

Deputado Nilton Capixaba (PTB-RO)


Colaborou Helayne Boaventura

O desgaste de Múcio

Aline Moura
Do Diario de Pernambuco

O deputado José Múcio Monteiro (PTB-PE), vive uma situação bem diferente do que a de quando assumiu a liderança do partido na Câmara dos Deputados, o cargo de maior visibilidade de sua carreira política, iniciada em 1976. Indicado como líder de uma das principais bancadas do Congresso em outubro de 2003, ele já não pode dizer que vive o "melhor momento de sua vida".

Múcio ficou no olho do furacão após o presidente do seu partido, Roberto Jefferson (RJ), revelar uma suposta manobra de compra de votos e citá-lo como interlocutor do esquema petista junto ao PTB. Em reserva, alguns amigos do parlamentar avaliaram que ele será um dos primeiros a depor se a CPI do Mensalão for instalada.

Nas declarações de Jefferson, Múcio não aparece como favorecido. Mas ele ficou numa corda-bamba, porque supostamente teria sido procurado pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para intermediar uma conversa com Jefferson e convencê-lo a aceitar o benefício.

Com a suposta recusa de Jefferson, Múcio teria sido novamente pressionado pelo presidente do PL, Valdemar da Costa Neto (SP), e pelos deputados Bispo Rodrigues (PL-RJ) e Pedro Henry (PP-MT) para insistir com o esquema. "Múcio voltou a mim. Eu respondi: Isso desmoraliza. Tenho 22 anos de mandato e nunca vi isso acontecer no Congresso Nacional", contou Jefferson. Procurado, Múcio não foi encontrado ontem.

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