- 12 de novembro de 2024
Maiá Menezes (O Globo)
O deputado federal Miro Teixeira (PT-RJ) confirmou ontem que soube da existência do mensalão na Câmara dos Deputados pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) e foi além: Jefferson teria contado a ele detalhes de uma reunião em "esfera governamental", em 2003, com "cinco ou seis pessoas", entre elas parlamentares da base aliada e integrantes do governo. Jefferson, segundo Miro, teria testemunhado, nessa reunião, cenas de corrupção e roubo de dinheiro público. Na conversa com Miro, o petebista teria relatado a existência de um mecanismo de arrecadação e distribuição de dinheiro para os deputados.
Miro diz que caso precisa ser investigado
O petista garante, no entanto, que o testemunho de Jefferson não atinge o gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nem parlamentares do PT. O encontro entre os dois foi em novembro de 2003, no gabinete de Miro, então ministro das Comunicações. Jefferson procurou por ele para oferecer espaço no PTB - na época Miro havia deixado o PDT.
- Ele me disse que tinha participado de uma conversa em que era oferecido dinheiro a parlamentares - disse Miro, afirmando ter ficado assustado com o teor das informações:
- Isso tem que ser profundamente investigado. É o fato mais grave que conheço em oito mandatos como deputado - disse Miro.
O ex-ministro afirmou ainda que convidou Jefferson a ir com ele até o presidente para contar os detalhes sobre o mensalão e sobre o suposto esquema de corrupção. Mas o petebista recusou. Miro disse que não fez a denúncia sozinho porque precisaria de Jefferson para confirmar os fatos.
Revelações estariam sendo guardadas como trunfo
O ex-ministro quer que o deputado revele todo o conteúdo das informações passadas a ele. Miro diz que Jefferson está guardando o restante da história como trunfo.
- Temos que começar a puxar o fio do novelo. Eu não aceito ocultação. Há uma parte que está sendo omitida pelo Jefferson. Ou não era verdadeira, e agora ele preferiu silenciar. Ou era verdadeira e ele ocultou para se utilizar dela para fazer alianças com as pessoas que estão ali naquele esquema - disse Miro.
O deputado prefere não revelar tudo o que ouviu, com o argumento de que Jefferson, testemunha do suposto flagrante de corrupção, pode desmentir as informações.
- É necessário que ele fale. Ele é a testemunha. Se eu disser o teor passarei como fofoqueiro. O que estou é provocando o Roberto Jefferson para que ele revele publicamente o que ele falou. O Jefferson deve esclarecimentos à população para não ficar sob suspeita de relatar parcialmente a verdade, para se valer do que está ocultando - disse Miro.
Miro Teixeira disse ter conversado por duas vezes com Roberto Jefferson sobre o esquema de propina. A primeira, como ministro. E a segunda, como deputado. Nas duas teria pedido a Jefferson que denunciasse o esquema.
- Eu já na Câmara dos Deputados encontrei com ele no corredor. Eu disse: Roberto, agora estamos na Câmara, vamos para a tribuna. Você relata da tribuna e eu peço a investigação. E ele não concordou - disse.
O petista disse que a diferença entre essas acusações e as que resultaram no impeachment do presidente Fernando Collor de Melo é que o esquema desta vez não envolve o presidente Lula:
- As denúncias contra o presidente Collor eram muito óbvias e dirigidas ao presidente da República, em um esquema que estaria organizado em torno do gabinete dele. Nesse caso não. Aí presume-se a existência de uma organização montada para roubar o dinheiro público.