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CPI DOS CORREIOS - Traição por todos os lados

Entre os parlamentares da base que ignoraram o apelo do governo articulado pelos principais ministros do presidente Lula, alguns surpreenderam pela ousadia. Um deles, o senador Wirlande da Luz (PMDB-RR) sustentou a convicção da necessidade de uma CPI, mesmo sendo o suplente do ministro da Previdência, Romero Jucá. Atingido por uma série de denúncias de corrução e investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o senador licenciado vem sendo protegido publicamente por Lula.




Até o líder do governo no Congresso, Fernando Bezerra, foi infiel e manteve assinatura

Lilian Tahan e Sandro Lima
Da equipe do Correio

O rescaldo da disputa travada entre governo e oposição em torno da instalação da CPI que vai apurar as denúncias de corrupção nos Correios expôs uma vitrine de infiéis. Tanto na base aliada, quanto nos partidos oposicionistas houve quem não resistisse às pressões e mudasse de lado na última hora, pegando de surpresa os próprios correligionários. PSDB e PFL, partidos de oposição ferrenha ao governo contabilizaram dois dissidentes. No governo, as deserções foram mais numerosas. Só no PT e PMDB, as duas principais legendas da base, foram 55 assinaturas de apoio à CPI.

Entre os parlamentares da base que ignoraram o apelo do governo articulado pelos principais ministros do presidente Lula, alguns surpreenderam pela ousadia. Um deles, o senador Wirlande da Luz (PMDB-RR) sustentou a convicção da necessidade de uma CPI, mesmo sendo o suplente do ministro da Previdência, Romero Jucá. Atingido por uma série de denúncias de corrução e investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o senador licenciado vem sendo protegido publicamente por Lula. O presidente da República preferiu sustentá-lo no cargo, apesar do desgaste político.

A decisão que pode respingar na relação de Lula com Jucá é colocada por Wirlande da Luz na conta de sua "independência política". O parlamentar é médico e ex-secretário de Saúde de Boa Vista (RR), e alega que tem perfil técnico e não político e que, por isso, não teria obrigação de se submeter às decisões partidárias ou de governo.

Se Wirlande usou como justificativa o descomprometimento político com o governo, o mesmo não poderá ser feito por outros senadores, que tomaram a mesma decisão: Fernando Bezerra (PTB-RN) e Hélio Costa (PMDB-MG). O primeiro é o líder do governo no Congresso; o segundo, o vice-líder do governo no Senado. Apesar do posto de confiança, os parlamentares mantiveram a decisão de apoiar a investigação na estatal. Para evitar cobranças de outros integrantes da base Bezerra não apareceu no Congresso na última semana, alegando a participação em compromissos particulares na Europa.

Apelo
Não foi só o governo que amargou traições. A oposição tenta entender o que aconteceu com dois deputados que resolveram atender aos apelo dos governistas. Um deles, Ariosto Holanda (PSDB-CE) sofreu pressões em duas frentes. Um dia antes do prazo final para a instalação da CPI, recebeu telefonema do ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, do PSB de Pernambuco. O tucano é um atuante membro da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara.

Nesse caso, a influência governista foi tão evidente que a autorização do parlamentar para retirar a assinatura da lista foi entregue no Senado por um funcionário da liderança do PSB. Também pesou na decisão, um telefonema do governador do Ceará, Lúcio Alcântara (PSDB), que acompanhava a comitiva presidencial do Brasil no Japão. "Fomos pegos de surpresa. O que ele fez é algo eticamente condenável", acusa o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman, que promete punição.

O responsável pela baixa no PFL veio da parte do deputado Davi Alcolumbre (AP). O parlamentar atendeu ao pedido do senador José Sarney (PMDB-AP). No estado, os dois partidos são aliados. O líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ) promete revidar. Afirmou que a punição para o deputado será o fim da dobradinha das legendas no Amapá. "Ele nos deixou chocados", desabafou o pefelista.


Os motivos de cada um
Ricardo Borba/CB/7.4.04
Armando Monteiro Neto

Jose Varella/CB/11.11.03
Fernando Bezerra
 

DEPUTADOS

Ariosto Holanda (PSDB-CE)
Infiel ao partido, retirou a assinatura para a instalação da CPI, atendendo a pressões do ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, e do governador cearense, Lúcio Alcântara, que recebeu um pedido do presidente Lula

Davi Alcolumbre (PFL-AP)
Ignorou a orientação oposicionista do partido e retirou a assinatura da lista, cedendo ao pedido do senador José Sarney (PMDB). No Amapá, os peemedebistas são aliados do PFL, o que garantiu sua eleição ao Senado

Armando Monteiro Neto (PTB-PE)
Apesar de ser do partido integrante da base aliada ao governo e afinado com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o deputado e empresário, a contragosto do governo, manteve o apoio a criação da comissão de inquérito

Wasny de Roure (PT-DF)
O parlamentar que havia assinado a lista para criação da CPI não resistiu ao pedido da base aliada ao governo e retirou a assinatura. Foi contemplado com a liberação de uma emenda parlamentar no valor de R$ 13,8 mil, como consta no Siafi


SENADORES

Fernando Bezerra (PTB-RN)
Descontente com os desencontros da base aliada, o líder do governo no Senado deu uma demonstração de independência ao assinar a criação da comissão parlamentar de inquérito e depois viajar para a Europa

Hélio Costa (PMDB-MG)
O vice-líder do governo no Senado sinalizou ao Palácio do Planalto que está bandeando para a ala oposicionista do partido ao se esquivar de defender a retirada de assinaturas para a CPI dos Correios

Wirlande da Luz (PMDB-RR)
Suplente do ministro da Previdência, Romero Jucá, ignorou o desgaste de Lula para defender o titular do cargo - acusado de corrupção - e tomou a decisão de apoiar a CPI


Uma emenda para Wasny
Edilson Rodrigues/CB/4.11.04
Apesar de constar no Siafi, Wasny nega ter recebido emenda
 

Pressionado pelo governo, o deputado Wasny de Roure (PT) foi um dos parlamentares que recuou e decidiu retirar a assinatura do requerimento de instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que investigará um suposto esquema de corrupção nos Correios. "Foi muito difícil. Houve uma decisão da bancada do partido e do governo de impedir a instalação da CPI. Em compreensão e responsabilidade com o governo do presidente Lula, decidi retirar a assinatura", explicou o deputado.

Wasny negou que tenha tomado a decisão de retirar a assinatura por causa da liberação de emendas que o governo promoveu às vésperas da instalação da CPI. Somente na última terça-feira, o governo liberou R$ 12 milhões para emendas de parlamentares ao orçamento da União. Nos primeiros cinco meses do ano, o Executivo havia liberado apenas R$ 47 milhões.

Segundo levantamento feito no Sistema Integrado de Administração Financeira do governo federal (Siafi), Wasny teve nesta semana a liberação de uma emenda no valor de R$ 13.874. "Minha decisão foi partidária. Não retirei a assinatura por causa de liberação de emenda. Não tive nenhuma emenda liberada em 2004 e 2005", afirmou o deputado. Segundo o parlamentar, a informação do Siafi estaria incorreta.

Para Wasny, a CPI é um instrumento legítimo do Congresso, mas, que no caso dos Correios, está sendo usado politicamente pela oposição para prejudicar o governo. "Não há dúvidas de que a oposição quer se aproveitar do episódio para ter um palanque contra o governo", disse. Segundo ele, a CPI vai provocar a paralisação dos trabalhos e votações no Congresso e prejudicar a gestão do governo.

De acordo com Wasny, "não dá para o Congresso parar e fazer CPI toda vez que surja um caso semelhante ao que ocorreu nos Correios". O deputado defendeu a atuação da Polícia Federal (PF), que segundo ele, seria suficiente para elucidar as denúncias e revelar os responsáveis pela corrupção. "O governo necessita de alianças, e por mais que seja criterioso, não dá para ter controle absoluto. Temos que trabalhar para evitar este caso que ocorreu com o PTB nos Correios", disse.(LT e SL)

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