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LAMAÇAL - Rondônia vive clima de guerra

A divulgação de uma fita com conversas entre o governador de Rondônia, Ivo Cassol e sete deputados estaduais aumentou a crise envolvendo os poderes Executivo e Legislativo no estado. A gravação exibida na noite de domingo no programa Fantástico, da TV Globo, mostra o momento em que os interlocutores de Cassol teriam pedido propina de R$ 50 mil por mês em troca de apoio na Assembléia.



Divulgação de fita onde deputados pedem R$ 50 mil mensais de propina a Ivo Cassol agrava a crise no estado. O governador corre risco de perder o mandato por fraudar em licitações quando era prefeito


Da Redação

José Varella/CB/28.4.04
Ivo Cassol: pressão de parlamentares para evitar processo de cassação contra ele
 
A divulgação de uma fita com conversas entre o governador de Rondônia, Ivo Cassol (PSDB), e sete deputados estaduais aumentou a crise envolvendo os poderes Executivo e Legislativo no estado. A gravação exibida na noite de domingo no programa Fantástico, da TV Globo, mostra o momento em que os interlocutores de Cassol teriam pedido propina de R$ 50 mil por mês em troca de apoio na Assembléia. No Superior Tribunal de Justiça (STJ), o governador responde a processo por supostas irregularidades cometidas entre 1998 e 2002, quando foi prefeito de Rolim de Moura (RO).

A reportagem não pôde ser exibida em Rondônia por força de uma decisão do desembargador Gabriel Marques. A TV Globo vai recorrer da decisão. A proibição provocou manifestações de cerca de cem pessoas ontem domingo à noite e ontem de manhã em frente à sede da emissora em Porto Velho, na sede da Assembléia Legislativa e no Tribunal de Justiça de Rondônia. A oposição acusou Cassol de organizar o protesto. A Polícia Militar agiu para impedir quebra-quebra na cidade.

Cassol afirma ter feito a gravação no próprio escritório em 2003 e não explicou a razão da demora na divulgação dos diálogos. Nas imagens, aparecem os deputados estaduais Ellen Ruth (PP), Ronilton Capixaba (PL), Daniel Nery (PMDB), Emílio Paulista, Kaká Mendonça (PTB), João da Muleta (PMDB) e Amarildo de Almeida (PDT). Os sete afirmaram que falavam em nome de dez parlamentares estaduais. Em diferentes momentos da conversa, pedem dinheiro para o governador.

Num dos trechos da conversa, a deputada Ellen Ruth tenta negociar com Cassol. "Ninguém está comprando ninguém. Dentro do orçamento do estado você está levando o seu como executor. Porque isso é de praxe. Você não vai consertar o mundo, nós não vamos. Não adianta dizermos para eles (deputados) que isso não acontece na sua administração que eles não vão acreditar", disse a deputada. Em seguida, Capixaba se manifesta: "Nós vamos pegar (o dinheiro) e sentar lá na assembléia e dizer sim, sim, sim. Aí vamos para o sítio, para o Rio de Janeiro, para onde houver sol", afirma.

Sem licitação
Em outros momentos do diálogo, os deputados sugerem ao governador o superfaturamento de contratos e dispensa de licitação para obter o dinheiro necessário ao pagamento da suposta propina. Os nomes dos ex-governadores Valdir Raupp (PMDB), hoje senador, e José Bianco de Abreu (PFL), hoje prefeito de Ji-Paraná, também aparecem nas gravações como supostos beneficiários de corrupção no tempo em que estiveram à frente do Executivo estadual. Os dois negaram qualquer participação em irregularidades.

Ontem, o presidente da Assembléia Legislativa instalou uma comissão com os deputados Chico Paraíba (PMDB), Leudo Buriti (PTB), Edézio Marteli (PT), Everton Leoni (PSDB) e Doutor Deusdete (PDT) para investigar as denúncias do governador. "A Assembléia recebeu uma série d e denúncias contra o governador, que podem resultar em seu afastamento do cargo, mas ele terá ampla oportunidade de defesa. Os deputados denunciados receberão o mesmo tratamento", afirmou o presidente do legislativo estadual, Carlão Oliveira (PFL).

O procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, criticou a decisão de proibir a exibição da fita pelo Fantástico. "Isso é lamentável. É fundamental que as informações circulem. Qualquer tentativa de censura é profundamente condenável e não pode ser aplaudida", afirmou.

O STJ tem autorização da Assembléia para processar Cassol desde março deste ano. As brigas com os deputados são antigas. O governador reduziu os repasses previstos no orçamento do Legislativo, do Tribunal de Justiça e do Ministério Público. Contra Cassol, também pesam denúncias de nepotismo. Pelas contas da oposição, ele e a primeira-dama Ivone têm 118 parentes empregados no governo.

A DENÚNCIA
O governador Ivo Cassol responde a processo no Superior Tribunal de Justiça (STJ), acusado de formação de quadrilha e fraude em licitações públicas quando foi prefeito de Rolim de Moura, no interior de Rondônia. As denúncias envolvem a mulher do governador, Ivone Mezzomo Cassol, dois irmãos e um cunhado da primeira-dama. Os cinco teriam desviado R$ 6,72 milhões.

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