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Elefante branco - Aeroporto construído por empresa da família de Chico Rodrigues vai para o lixo

Rachaduras e infiltrações em boa parte da pista já marcada por desnivelamento, mato alto, pedreira e sem homologação para pouso e decolagem. Assim se encontra o aeroporto de São Luís do Anauá que nos fins de tarde tem servido como pista de passeio de bicicletas e caminhadas para os moradores daquele município. O aeroporto foi construído numa seqüência de coincidências que só os astros explicam.


Por Marlen Lima

Brasília - Rachaduras e infiltrações em boa parte da pista já marcada por desnivelamento, mato alto, pedreira e sem homologação para pouso e decolagem. Assim se encontra o aeroporto de São Luís do Anauá que nos fins de tarde tem servido como pista de passeio de bicicletas e caminhadas para os moradores daquele município.

O aeroporto foi construído numa seqüência de coincidências que só os astros explicam. Em 2000, o deputado Chico Rodrigues apresentou emenda para construção do aeroporto de São Luiz do Anauá, embora o transporte aéreo naquela região não se tratasse de nenhuma urgência, pois a infraestrutura de escoamento da produção da região ainda é precária e se dá totalmente por estradas e em grande parte em caminhões velhos. Daí o aeroporto ser artigo de luxo desnecessário.

O argumento de Chico para liberar o dinheiro de sua emenda foi que a região era a que mais crescia economicamente no estado e havia necessidade de um aeroporto para que empresários e a os próprios moradores pudessem se deslocar com mais rapidez para fecharem grandes negócios. COINCIDÊNCIAS - Ocorre que a região, apesar de promissora, ainda se encontra incipiente no que se refere ao escoamento de sua produção. Se alguém se beneficiou com o aeroporto esse alguém foi o próprio deputado autor da emenda e seu irmão, o empresário Emmanuel Silva, que tocou a obra realizada dentro de uma área desapropriada pertencente ao próprio Chico Rodrigues, avaliada com critérios usados em terras produtivas no Centro-Oeste e Sudeste brasileiros.

Em resumo, o município que tem problemas para escoar a sua produção porque faltam caminhões, recebe emenda para construção de um aeroporto que hoje registra menos de 10 decolagens e pousos por mês.

SEM HOMOLOGAÇÃO - "O estado daquele aeroporto é deplorável", comentou o comandante Alves, responsável pelo Hangar do Estado, que completa: "O aeroporto de São Luís está funcionando em caráter precário, porque não está homologado".

Não estar homologado depois de quatro anos, quer dizer que o aeroporto de São Luís não é reconhecido pelo DAC - Departamento de Avião Civil, órgão federal responsável pelos aeroportos brasileiros. Em outras palavras, o aeroporto não tem a segurança e o aval necessário para sua melhor operacionalidade, atuando quase de forma ilegal, já que nenhuma empresa área arriscaria pousar ali.

VERBA FEDERAL NO LIXO - Depois de terem sido gastos milhões de reais, oriundos de uma emnda de Chico Rodrigues, o aeroporto de São Luís do Anauá não tem terminal de passageiros, por estar todo quebrado, "na pista, em uma das laterais, há uma pedreira, e é isso que impede de ser homologado pelo DAC", disse o Comandante Alves.

O depoimento do Comandante Alves tem sua versão confirmada pelo coronel da reserva Júlio César, que é o responsável pela Ouvidoria do DAC, no Rio Janeiro. Segundo este, um aeroporto não é homologado pelo DAC como é o caso da pista de pouso e decolagem de São João do Baliza, e agora também pelo de São Luís do Anauá por constar defeitos na sua concepção o que impede sua legalidade.

O aeroporto de São Luís do Anauá foi construído com o defeito da pista por ter em sua lateral uma pedreira, um monte alto de formação rochosa, que implica em riscos no pouso e na decolagem dos aviões, "e isso é sabido de todos os pilotos do Estado", disse o comandante Alves. Segundo ele, esse erro havia sido detectado ainda na construção do mesmo, "mas nada foi feito".

TUDO FOI PLANEJADO E APROVADO - O aeroporto de São Luís do Anauá entrou no Plano Aeroviário do Estado de Roraima, em uma ação em conjunto com o governo federal. O mesmo foi aprovado pela Portaria nº 700/GM-5, de 11 de novembro de 1998, assinada pelo, então, ministro da Aeronáutica, Lélio Viana Lobo.

O que consta na portaria federal é que os municípios de São Luís do Anauá e São João do Baliza apresentam demanda por transporte aéreo regular em ligações com Boa Vista. Ou seja, não era só um desejo da população em querer ter um aeroporto por si só. Os dados mostravam é que a região apresentava potencial para que recebesse uma unidade aeroportuária, por justamente poder contribuir para o impulso à economia do Sul do Estado.

INDAGAÇÃO - Para os moradores de São Luís do Anua o aeroporto se tornou um excelente local para caminhadas. E a população indaga, cadê as benesses de se ter um aeroporto? Qual é a economia real de São Luís do Anauá bem como de São João da Baliza e Caroebe que possa justificar a construção de um aeroporto?

Outra pergunta que fica é que se o aeroporto foi construído com verba federal e hoje não conta com a homologação, sendo assim, não podendo atuar de forma empresarial, onde sua pista de pouso e decolagem atende somente aos aviadores proprietários de fazendas da região do Sul do Estado de forma perigosa, quem é o responsável pelo o que foi gasto na compra do terreno e na construção do aeroporto?

Ninguém quer assumir a responsabilidade pelo aeroporto que se transformou no maior elefante branco da região Sul do estado. Porém, como diria o deputado Justo Veríssimo, personagem de Chico Anísio, "um elefante branco balufado de dinheiro para quem obteve lucro com a sua construção. E que o povo se exploda!".

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