- 12 de novembro de 2024
LUIZ FRANCISCO
da Agência Folha, em Alexânia
Na reta final para a chegada em Brasília, mais 3.000 sem-terra aderiram à marcha organizada pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), de acordo com os organizadores da caminhada, que começou no último dia 2, em Goiânia. Até agora, os agricultores já tinham caminhado 167 quilômetros.
O trecho mais longo do percurso (20 quilômetros) foi feito durante toda a manhã de ontem. Às 5h30, os sem-terra deixaram a fazenda Ribeirão das Lages, em Alexânia (GO), e seguiram em direção à chácara Carlitos, ainda no município goiano.
Comprada há oito anos pelo servidor público Marcone Rodrigues, a área de 6 há foi invadida às 9h pelos sem-terra responsáveis pela montagem do acampamento. A invasão é temporária --os sem-terra devem deixar o local amanhã de manhã.
"Não sou contra o movimento, mas o que eles [sem-terra] fazem é um absurdo. Além de invadir, eles ainda intimidam todos os moradores da propriedade", disse Rodrigues.
O principal líder do MST, João Pedro Stedile, fez toda a caminhada a pé, ao lado da delegação do Rio Grande do Sul. Com camiseta, bermuda e dois chapéus para se proteger do forte calor, Stedile passou 40 minutos ao celular ajudando a organizar a chegada e as manifestações que os agricultores farão em Brasília, na próxima terça-feira. No total, de acordo com os coordenadores do movimento, cerca de 15 mil sem-terra estão participando da marcha.
No final da tarde de ontem, os sem-terra que invadiram a fazenda Ribeirão das Lages passaram por um grande susto. A agricultora Marlene Santos, 32, que veio do Mato Grosso do Sul, foi mordida no joelho direito por uma cobra enquanto lavava sua roupa em um riacho. Socorrida às pressas, foi encaminhada em uma ambulância ao Hospital Regional do Gama (DF). Depois de medicada, Santos foi levada para uma área em Brasília onde estão os sem-terra que necessitam de cuidados médicos.
Para facilitar a caminhada dos sem-terra, a Polícia Rodoviária Federal bloqueou uma pista da BR-060 --os motoristas que vinham no sentido Brasília-Goiânia eram obrigados a utilizar uma estrada de terra. Pela programação dos coordenadores do MST, em Brasília, os sem-terra vão protestar em frente à Embaixada dos Estados Unidos, Banco Central e Ministério da Agricultura.
"Queremos mostrar que a reforma agrária que o governo prometeu para os trabalhadores só existe dentro do próprio governo e nos meios de comunicação. Tudo não passa de uma farsa", disse Gilmar Mauro, um dos coordenadores nacionais do MST.
Foto: Jorge Araújo - Folha Imagem