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Flechas por todos os lados

Se vão ou não rolar cabeças, a decisão caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas a inédita iniciativa adotada segunda-feira pelo ministro de Comunicação e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, de pedir publicamente a substituição de seu colega de ministério, Aldo Rebelo, da Coordenação Política, somada às investigações contra o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro da Previdência, Romero Jucá, deflagraram uma sucessão de pedidos de cabeça no primeiro escalão do Executivo.


Do site www.correioweb.com.br - Jornal Correio Brasiliense

Flechas por todos os lados

Partidos, ministros, parlamentares, sindicalistas, todos querem a cabeça de algum integrante do primeiro escalão do governo


Da Redação

Se vão ou não rolar cabeças, a decisão caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas a inédita iniciativa adotada segunda-feira pelo ministro de Comunicação e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, de pedir publicamente a substituição de seu colega de ministério, Aldo Rebelo, da Coordenação Política, somada às investigações contra o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro da Previdência, Romero Jucá, deflagraram uma sucessão de pedidos de cabeça no primeiro escalão do Executivo.

O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), que quinta-feira sugeriu o afastamento de Meirelles e de Jucá (leia mais na página 3), até que sejam concluídas as investigações de que são alvos, ontem reclamou a demissão de Gushiken. Ao mesmo tempo, a Força Sindical também pede o afastamento de Meirelles.

"Do jeito que ele (Gushiken) quer o afastamento do Aldo (Rebelo), eu quero o afastamento dele", afirmou o presidente da Câmara, durante entrevista em Olinda (PE). Severino qualificou Gushiken como "o pior ministro do governo Lula" e disse que nunca viu um ministro pedir o afastamento de outro. "Um presidente da Câmara pedir o afastamento de um ministro é aceitável, mas um ministro pedir o afastamento de outro é censurável", afirmou Severino, referindo-se à declaração feita por Gushiken, no início da semana, de que ministros petistas haviam concluído que a Coordenação Política, sob responsabilidade de Aldo, deveria ser transferida ao PT.

Severino defendeu o ministro da Coordenação Política e insistiu em atacar Gushiken. "Aldo muitas vezes discorda do governo, mas diz isso ao governo e não vem a público, como o senhor Gushiken." Para o presidente da Câmara, Gushiken expressa a opinião da "parte rebelada do PT, que está procurando criar os maiores obstáculos ao bom andamento do governo".

O deputado voltou a criticar a hegemonia petista na Esplanada. "Um governo de coalizão não pode ficar tendo a supremacia que tem hoje o PT, com 20 e tantos ministros", disse. "O governo tem de dar maior cobertura aos partidos que dão sustentação à sua administração porque, sem esses partidos, não pode administrar."

Severino, que na véspera reclamara o afastamento de Meirelles, até a conclusão das investigações abertas pelo Supremo Tribunal Federal sobre ele, considerou "aceitável" o posicionamento de Lula, diante das denúncias de corrupção contra o primeiro escalão da administração federal - de não culpar ninguém enquanto não houver condenação. Afirmou, no entanto, que, se estivesse no lugar de Jucá ou de Meirelles, se afastaria. "Esse caminho seria mais cômodo para o presidente", observou. O presidente do Banco Central é acusado de sonegação, crime eleitoral e evasão ilegal de divisas. Jucá é denunciado por fraude.

"Maneira torpe"
A pressão exercida pelo PT contra a presença de Aldo foi condenada ontem também pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). "Ele (Aldo) está sendo excluído de maneira torpe, em que os próprios membros do governo mandam que ele saia", avaliou.

Em entrevista à Rádio Eldorado, de São Paulo, ACM atacou ainda todo o restante da equipe de governo, à exceção do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e voltou a acusar Lula de "enganar" a população. "O presidente da República devia saber o que faz, mas, na realidade, há um grupinho chamado núcleo duro, que toma conta do governo, e o presidente da República aparece apenas como ator dessas coisas que o governo tem feito", disse. ACM criticou também Meirelles e a indicação de Jucá para o Ministério da Previdência. "O governo tem um ministério em que você tira só cinco ou seis homens decentes que estão sérios e à altura do cargo", lamentou.

Em São Paulo, os sindicalistas da Força Sindical aderiram ao grupo que defende o afastamento de Meirelles. O presidente da entidade, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, disse que Meirelles não pode mais continuar no cargo. "Não podemos manter em um cargo tão importante um funcionário público de alto escalão acusado de sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Outro líder sindical, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Eleno José Bezerra, afirmou que o afastamento de Meirelles é necessário para garantir "a credibilidade da condução da economia do país".


Discórdia no palácio

Diante do estrago provocado, a declaração do ministro da Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, pedindo a cabeça de seu colega da Coordenação Polícia, Aldo Rebelo, deixou de ser consenso mesmo dentro da própria alta cúpula do PT. O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Luiz Dulci, criticou ontem, em Belo Horizonte, de forma indireta, Gushiken pelo seu gesto. Dulci, que também faz parte do núcleo duro do governo, lembrou que o presidente não delegou a nenhum ministro a tarefa de avaliar o desempenho dos colegas. Dulci deixou claro que, do que ficou combinado entre a cúpula petista na reunião da sexta-feira da semana passada, Gushiken extrapolou.

"Essa decisão (de substituir ministros) cabe, exclusivamente, ao presidente. Não aos ministros. A menos que o presidente delegue a algum ministro que trate dessa matéria. Coisa que ele não fez", afirmou.

Para reforçar, o chefe da Secretaria Geral da Presidência da República afirmou que todos os integrantes do primeiro escalão são auxiliares do presidente. "Não cabe a nenhum ministro fazer avaliação sobre outros ministros. Cabe ao presidente da República avaliar", insistiu. "O que ele decidir, nós vamos, evidentemente, acatar. Isso é atribuição exclusiva do presidente da República e acho que não deve ser tratado por ninguém mais."

O ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, do PCdoB, também saiu ontem em defesa de Aldo, seu companheiro de partido. Segundo Agnelo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está respaldando Aldo. "Ele tem toda confiança do presidente e isso é o importante", afirmou. O ministro dos Esportes aproveitou a cerimônia de renovação dos contratos de patrocínio ao Comitê Paraolímpico Brasileiro e à Confederação Brasileira de Atletismo para enviar um duro recado a Gushiken: "O único que pode falar sobre isso é o presidente".

Agnelo disse que Lula tem dado um "tratamento exemplar" à base aliada e que não é prerrogativa do PT demitir ministro. "Quem fala sobre colocar e tirar ministro é uma só pessoa: o presidente da República", reafirmou. Sobre os rumores da possível saída de Aldo, Agnelo respondeu que não vai se "guiar por opinião de terceiros".

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