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Os seis meses do nada - Por Manoel Lima

Numa avaliação eqüidistante da realidade, chega-se à conclusão de que o que Ottomar Pinto realizou é muito pouco para as expectativas e aos anseios de grandeza do roraimense. Nepotismo, descontinuidade e fixação com a reeleição, são a marca do seu governo.


Brasília - Decididamente o governador Ottomar Pinto, ao completar seis meses de governo, cargo obtido numa tertúlia judicial quase inglória, não pode contabilizar os louros que a maioria da população de Roraima esperava dele obter em matéria de realizações. Ottomar contabilizou mais revezes do que vitórias, se é que essas vitórias podem apresentar ganhos administrativos e eleitorais.

 

Paradoxalmente, a maior delas e talvez a mais contundente, foi a recente homologação da reserva Raposa/Serra do Sol, que lhe foi imposta muito antes de assumir, mas que ele, Ottomar, não levou a sério como uma postura do governo Lula para a platéia estrangeira. Pagou para ver, e isso vai lhe custar muito caro politicamente. Roraima está em estado de coma, como esteve até novembro de 2004.

 

Em matéria de homologação, a Raposa/Serra do Sol é o segundo revés que Ottomar Pinto sofre quando está governando Roraima. A primeira foi a da reserva dos Yanomami, num feriado de 15 de novembro de 1991. Talvez a dos Yanomami não lhe tenha trazido tantos revezes políticos, como esta de agora, porque a medida adotada pelo governo Collor foi de cunho holofotista, uma espécie de samba-do-crioulo-doido bem apropriado para aquela triste época. A ele, Ottomar, a medida não soou como uma derrota, mas deu-lhe o título de vítima de uma política indigenista contrária aos interesses nacionais.

 

Agora, com a Raposa/Serra do Sol não. Foi uma derrota imposta goela abaixo, porque Ottomar Pinto assumiu um governo desgovernado, sem rumo, sem um plano administrativo, sem um norte que prometesse aos seus eleitores a idéia de que ele veio para mudar, para realizar algo mais do que simplesmente acabar com as mazelas administrativas que se tornaram crônicas em Roraima. Sem um plano de governo, o que Ottomar Pinto fez até agora foi criar novas expectativas no seio da população. Expectativas que poderão desaguar num sonho tenebroso.

 

É bem verdade que Roraima respira um ar de seriedade na condução do governo do Estado. Talvez seja essa a grande obra de Ottomar nesse seu terceiro mandato, mas é muito pouco para o que dele a população esperava. Uma expectativa de realizações nos vários campos da administração pública. Não se pode dizer que essa tenha sido a sua meta primordial. Até porque se vê que as práticas do nepotismo, dos contratos de obras de natureza duvidosa voltaram ao cotidiano da administração pública em Roraima.

 

Pode-se dizer que Ottomar Pinto pecou, em matéria de organização administrativa, em dois pontos. Primeiro, porque ao ganhar a batalha no TSE em Brasília mostrou que não estava preparado para administrar o Estado: não possuía - como não possui ainda - quadros de técnicos para moldar a sua administração num processo de modernização, de mudança das velhas práticas administrativas. Como não tinha esse quadro, foi obrigado - talvez também pela prática atávica do nepotismo que moldaram os seus outros dois governos -  a contar para os postos chaves da administração pessoas aparentadas. Isso não soou bem a um governo que veio para mudar.

 

O segundo erro foi assumir com a idéia fixa da reeleição em 2006. Por isso foi obrigado a fazer conchavos políticos com supostas lideranças que mandaram e desmandaram no governo do cassado Flamarion Portela. Esse foi seguramente o grande erro do velho brigadeiro. Hoje, é refém dessa gente que tanto infelicitou Roraima.

 

Numa avaliação eqüidistante da realidade, chega-se à conclusão de que o que Ottomar Pinto realizou é muito pouco para as expectativas e aos anseios de grandeza do roraimense. Afinal, ele ganhou no TSE sob o desejo de um povo que viu a sua terra ser arrasada pela mídia com notícias que truncaram a paz e a concórdia. Ottomar não mediu as conseqüências políticas que poderiam advir para si e para o seu governo, a homologação da Raposa/Serra do Sol. Como não levou em conta informações que lhe chegavam em 1991, quando todos lhe diziam que Collor iria demarcar e homologar a terra dos Yanomamis. Naquela época, o todo poderoso Roberto Marinho ainda se dispôs a, em editoria no jornal O Globo, contestar e a repudiar a homologação dos Yanomami. E agora, quem ficou ao seu lado?

 

Os louros são poucos para os poucos seis meses de governo. Os setores vitais da administração enfrentam os mesmos problemas de há um ano atrás. A saúde precária, as estradas sem condições de tráfego; a segurança pública com os mesmos problemas de autoridade. Não se pode falar que tais problemas existem pela falta de recursos financeiros. A arrecadação estadual cresceu. Então, dinheiro não é problema.

 

Mas para 2006, quando seu governo será testado nas urnas, há ainda muito tempo para a recuperação. Recuperação feita num governo que consiga mostrar à população que a luta no TSE não foi em vão; que a luta no TSE não foi para gerar um governo de compadrio com aliados que outrora - e não faz muito tempo - o escorraçaram. A luta foi travada para a realização de um governo comprometido com a vontade do povo, tão cansado de não ver realizados os seus sonhos.

 

Triste o governo que tão cedo consegue ter o descrédito popular. Essa é a grandeza do governo Ottomar Pinto. Grandeza na frustração do povo, dos servidores públicos, do empresariado, da gente humilde. Um governo que nem o malfadado clientelismo consegue por em prática; prática que outrora foi o grande cabedal de votos para Ottomar e seu staff.

 

Tudo isso é muito triste!

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