- 12 de novembro de 2024
FOLHA DE SÃO PAULO
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a articular derrotas do governo Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso. Em encontro reservado com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), há uma semana, em São Paulo, FHC e o pepista fecharam acordo a fim de derrotar Lula no Congresso e enfraquecer o governo e o PT para as eleições de outubro de 2006.
Os contatos telefônicos entre FHC e Severino continuam freqüentes. O tucano já havia trabalhado pela eleição do pepista para presidente da Câmara, quando interveio nos bastidores para impedir que o PSDB apoiasse o candidato de Lula, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP).
A Severino interessa manter aberta a possibilidade de se unir à oposição em 2006. Ao mesmo tempo, faz jogo duplo, arrancando do governo benesses, como um cargo para um filho. O pepista tem até um presidenciável de sua preferência se FHC não concorrer: o tucano Aécio Neves, governador de Minas, como confidenciou ao próprio ex-presidente.
Se ficar inviável a relação de Severino com o governo, FHC ofereceu ao pepista até a oportunidade de trocar de partido. O tucano se dispôs a intermediar a filiação de Severino ao PFL. Curiosidade: quando Lula engavetou a reforma ministerial em março devido à exigência de Severino para nomear um ministro do PP, o presidente da Câmara ameaçou se aliar ao PFL contra o governo.
O recente encontro de Severino e FHC, confirmado por membros do PP e do PSDB, rendeu no curto prazo derrota para o governo na Câmara e a salvação do presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), com o arquivamento de um pedido de sindicância. Anteontem, a Câmara escolheu o representante no Conselho Nacional de Justiça, órgão para fiscalizar o Judiciário. Venceu Alexandre de Moraes, secretário da Justiça do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) e presidente da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor).
Sua eleição teve apoio fundamental do PFL, partido ao qual é filiado. Os pefelistas têm jogado em sintonia política com FHC e PSDB. FHC tem realizado freqüentes encontros com dirigentes pefelistas, como o presidente do partido, Jorge Bornhausen, a fim de articular uma aliança em 2006 que una PSDB, PFL, PPS e setores do PMDB e do PP.
Com uma candidatura articulada em dez dias, enquanto houve até rebelião na Febem, Moraes bateu o candidato do governo, Sérgio Renault, secretário de Reforma Judiciária. Partidos da base do governo ficaram contra interesses de Lula em votação secreta.
O governo diz que fez acordo com Severino, que não teria cumprido o acerto de levar o PP a votar em Renault. A escolha de um nome ligado a Alckmin, presidenciável que esteve em Brasília na quarta em ato no qual tucanos atacaram o governo, foi vista por Lula como a chegada "ao fundo do poço" da articulação política e pode resultar na saída de Aldo Rebelo (Coordenação Política).
Segundo relato de pepistas, na conversa com FHC, Severino prometeu apoio a Moraes. Em troca, queria a eleição pela Câmara de um apadrinhado seu para o Conselho Nacional do Ministério Público. Severino obteve apoio da oposição e do governo para eleger Francisco Maurício Albuquerque -pai de seu secretário particular, Eduardo Albuquerque.
A operação para salvar Pedro Corrêa foi discutida em detalhes com os tucanos, inclusive com FHC. Teve como contrapartida o compromisso de Severino de que não impediria a cassação do deputado federal André Luiz (RJ), ex-PMDB, na quarta-feira, o que acabou acontecendo.
Corrêa é acusado de ter ligações com a máfia dos combustíveis. Corrêa, porém, ainda não havia enfrentado procedimento na Comissão de Ética da Câmara. Existia só pedido de sindicância, que Severino arquivou na véspera da cassação de André Luiz. Motivo: com a cassação do deputado federal fluminense na quarta, baseada em prova que os parlamentares consideravam de peso político, mas de valor legal contestável judicialmente, ficaria difícil impedir a cassação de Corrêa no futuro se não houvesse arquivamento do pedido de sindicância.
As duas situações são muito parecidas. O PSDB, porém, exigiu que Severino fosse firme na cassação de André Luiz, algo que ele relutava em fazer. Uma evidência é que a cassação aconteceu sem que fosse distribuída aos parlamentares a conclusão final da Comissão de Ética a respeito do caso. Ou seja, os deputados federais votaram pela pressão da opinião pública, abafando o acobertamento dado ao presidente do PP de Severino.