- 12 de novembro de 2024
ESTADÃO
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A homologação em terra contínua da Reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, revoltou o meio militar e pode provocar a primeira crise de fundo entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e as Forças Armadas. Um relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) chegou a prever uma reação militar e alertou o governo de que a homologação dos 1.747 milhão de hectares numa faixa despovoada atenta contra a soberania nacional. Os militares acham que por trás da suposta defesa dos índios e escondidos sob a fachada de ONGs estão grupos e países interessados nas riquezas minerais existente no subsolo das reservas indígenas localizadas na fronteira norte do país.
Seu diferencial em relação a outros relatórios do gênero é o fato de recolocar o conflito sob a visão militar e abordar sem rodeios que da forma que seria feita - retirando comunidades e produtores de arroz - a homologação cria um vazio demográfico, atenta contra a soberania e esconde a cobiça pelas mais ricas jazidas de minério do planeta.
'É evidente o interesse estrangeiro na demarcação contínua', escreve o coronel Fregapani, no documento que leva o título de Relatório de Situação, produzido em março deste ano, ao qual o Estado teve acesso com exclusividade. Durante vários meses que antecederam a publicação da portaria que definiu a homologação da reserva, assinada por Lula e pelo ministro Márcio Thomaz Bastos, o coronel andou pela região, tomou depoimentos e conheceu em detalhes a realidade da Raposa Serra do Sol. A região é guarnecida por 60 homens do Pelotão Especial de Fronteira, cuja instalação chegou a ser combatida pelas ONGs e índios a favor da área contínua. O relatório também faz referência à falta de ação articulada entre os órgãos públicos e questiona a atuação da Fundação Nacional do Índio (Funai), que estaria agindo em conjunto com as ONGs internacionais. Segundo o coronel, as ONGs estrangeiras chegaram a bancar financeiramente o trabalho de demarcação de áreas indígenas em território brasileiro. O relatório cita os rizicultores, ao lado dos índios contra a homologação, como a mais forte presença brasileira numa área despovoada, grande parte fronteira seca com a Venezuela e Guiana. O oficial da Abin acertou ao prever 'fortes reações da sociedade local e dos próprios índios', caracterizadas pelas manifestações em Boa Vista, o bloqueio de rodovias dentro e fora da reserva e o seqüestro dos quatro policiais. Um dos capítulos diz que 'as ONGs estrangeiras e a Funai contribuem para um indesejável conflito em Roraima, tentando forçar a demarcação contínua ao arrepio da ética, mesmo contra a opinião da maioria dos próprios índios, aliás, já bastante aculturados'. norte guarda o maior veio de ouro do mundo, uma grande jazida de diamantes e uma riqueza ainda incalculável em minerais estratégicos, de uso nuclear e importantes para as indústrias espacial, bélica e de informática. na Abin, em Brasília, o documento chegou ao chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Jorge Félix, com a tarja de secreto e previu as manifestações que resultaram, em Roraima, no seqüestro dos policiais federais, na aldeia Flexal. |