- 12 de novembro de 2024
As esposas dos militares preparam protesto durante a Cúpula América do Sul-Países Árabes Sandro Lima Da equipe do Correio
As mulheres, que integram a União Nacional de Esposas de Militares das Forças Armadas (Unemfa), afirmam que só vão deixar o local após o governo conceder reajuste salarial de 23% para os militares. Para manter a mobilização, elas estão se revezando em três turnos, mantendo sempre cerca de 15 pessoas no acampamento. "Quando não há evento no Itamaraty, há menos pessoas no acampamento. Preferimos guardar energia e juntar mais pessoas quando o Lula está por perto", conta a vice-presidente da Unemfa, Marina Bavaresco. Segundo ela, apesar do cansaço, o clima no acampamento é de animação. "Não conseguimos dormir à noite. Sempre vem alguém à noite para trazer sopa quente, cobertas ou simplesmente conversar e fazer companhia", conta. A maior parte do apoio logístico é dada por familiares das mulheres, em sua maioria esposas de militares de baixa patente, como sargentos e cabos. Quase todas moram na Asa Norte e no Cruzeiro. Por sentir na pele as dificuldades financeiras do baixo salário dos maridos, são elas que mantêm o movimento ativo. Quem também ajuda na manutenção do acampamento são as esposas de militares de alta patente, como coronéis e generais. Apesar de não participarem diretamente do movimento e das manifestações, elas auxiliam, discretamente, as manifestantes. A única condição é que seus nomes não sejam divulgados, pois elas temem prejudicar os maridos por causa da ajuda. Fora do meio militar, são os políticos que têm buscado uma associação com as manifestantes. A Unemfa, que possui mil associadas em Brasília e organiza o acampamento do Itamaraty, já recebeu a visita e o apoio do senador Paulo Octávio (PFL) e dos deputados José Roberto Arruda (PFL) e Alberto Fraga (sem partido). O senador visitou o acampamento em frente ao Itamaraty e mandou enviar frutas às manifestantes. Marina Bavaresco, que é diabética, recebeu tratamento especial e ganhou remédios do senador. Fraga enviou anteontem um carro de som às manifestantes, durante a visita do presidente angolano ao Brasil. Clima familiar No acampamento, as mulheres relatam inúmeros casos de amigas que não conseguem fechar as contas do mês com o enxuto orçamento. Em meio às conversas, mantêm as atividades do cotidiano, como cuidar dos filhos. Até mesmo os mais pequenos, ainda sendo amamentados, são levados pelas mães para o gramado ao lado do Itamaraty. A nova estratégia das manifestantes é investir contra um flanco sensível do presidente: a política externa. "Aqui é o melhor lugar. Todas as autoridades estrangeiras que vão para o Congresso e o Itamaraty passam por aqui. Nós queremos que o mundo veja como o presidente Lula trata os militares", disse Marina Bavaresco. Elas prometem mais barulho na próxima semana, durante a Cúpula América do Sul-Países Árabes, nos dias 10 e 11 de maio. As mulheres dos militares já encomendaram faixas de protesto em espanhol e árabe. "Vamos mostrar para todos os presidentes árabes e sul-americanos a situação de penúria da família militar brasileira", destacou Ivone Luzardo. A nova tática das mulheres de militares já vem causando constrangimentos ao presidente Lula. Na última terça-feira, ao receber o presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, em visita oficial ao Brasil, Lula teve que ouvir, da entrada principal do Itamaraty, os gritos de protestos das manifestantes. |