- 12 de novembro de 2024
O estupro é um "acidente". Um "acidente horrendo". Mas, mesmo assim, deve ser "punido com a pena de morte". Assim é o pensamento do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP). Ao participar ontem de uma sabatina promovida pelo jornal Folha de S.Paulo, o presidente da Câmara deu várias amostras de seu pensamento moralista e conservador. "O estupro é um acidente horrendo. O homem que faz o estupro deveria até ter a pena de morte", disse Severino. "Como sou cristão, não admito a pena de morte", emendou em seguida. Para completar logo adiante: "Mas ele (o estuprador) deveria ser condenado duramente."
O presidente da Câmara reafirmou que continua defendendo o direito à vida, é contra o aborto, mesmo em caso de estupro. "Tem tantas crianças felizes, que é demonstração de que a vida pertence a Deus. Se houve o estupro, a criança deve nascer". Severino defendeu também que os casais só pratiquem sexo após o casamento. "Essa experiência (sexo antes do casamento), eu acho muito ruim. Eu acho que a vida sexual deve começar no casamento. Eu era um homem puro e me casei com uma mulher que foi uma dádiva de Deus e que que me serviu. São 52 anos de casado e sou feliz", garantiu Severino. Ao ser questionado, porém se havia se casado virgem, o presidente da Câmara desconversou: "Era mais ou menos virgem". Segundo ele, a "mulher tem de ser pura" ao se casar. "O homem não, muitas vezes quer aprender como fazer o serviço. Tem que aprender com quem estiver disposta a ser professora.", analisou.
Indiscrição
Ele também disse que é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. "Sou contra a união de homem com homem e de mulher com mulher. Mas não posso impedir que um projeto de lei sobre o assunto tenha uma transição normal". Em outro momento, Severino foi indagado sobre como agiria se tivesse um neto gay. O presidente da Câmara respondeu que o trataria "com muito carinho". Mas ressaltou: "Faria de tudo para que ele não continuasse gay." Severino evitou dizer qual sua posição pessoal sobre o uso da camisinha. "O senhor está sendo muito indiscreto, não vou responder não."
Questionado sobre se misturava política com religião, Severino confirmou. "Não pode estar separado coisíssima nenhuma. Quem não tem fé não pode acreditar na democracia", declarou. E lembrou que já votou uma vez contrariando a posição da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, quando aprovou que igrejas ficassem fora da Lei do Silêncio para beneficiar os templos evangélicos.
Severino voltou a defender posições impopulares e causou indignação ao público que acompanhava a sabatina ao dizer que o nepotismo é uma prática justa e que tem somente três parentes lotados em seu gabinete da presidência da Câmara. O deputado creditou a nomeação de seu filho, José Maurício, no Ministério da Agricultura, como uma responsabilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. "Por que o meu filho não deveria ser nomeado? Só porque é meu filho? Ele deveria ser punido? Gostaria que se fizessem estas perguntas aos dirigentes das empresas. Os jornais Folha de S.Paulo ou Estado de S.Paulo não são dirigidos de pai para filho? Qual a diferença"? A diferença, é que em empresas particulares, o dinheiro não é público.
Severino falou sobre as vaias que recebeu durante a festa da Força Sindical no domingo, para comemorar o Dia do Trabalhador. "Tenho coragem de enfrentar vaias. Tanta coragem que no ano que vem vou voltar lá", afirmou, ressaltando que tentará entender os motivos que levaram o público da festa a vaiá-lo. "O único lugar em que fui vaiado foi lá. E olha que foi uma vaia forte", reconheceu.
O presidente da Câmara fez um alerta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para ele, a "bagunça" da base governista pode acabar comprometendo a sua reeleição. "Se ficar essa desorganização que está havendo, vai ser difícil." Severino disse que o governo não precisa temê-lo: "No dia em que permitirem que o governo trabalhe, eu serei um bom menino.'