- 12 de novembro de 2024
"...um dia eles chegam à porta de nossa casa e timidamente olham nosso jardim, e não fazemos nada; no dia seguinte entram em nosso quintal, colhem nossas flores, vemos, e não fazemos nada; até que por fim entram em nossa casa, roubam nossos bens, nossas mulheres, nossos filhos, e aí já não podemos mais fazer nada..."(Vladimir Maiakovski)
O excerto acima retrata a mais pura realidade da atual geopolítica roraimense.
A questão fundiária arrastou-se por tanto tempo sob os olhares inertes e beneplácitos de todos os nossos governantes. Quem sabe a absurdez das reivindicações dos povos indígenas, capitaneados pelo clero, ongs e potências estrangeiras fosse considerada tão estapafúrdia que nossos representantes lhe fizeram pouco caso? Enquanto isso, eles, sorrateira e lentamente, chegaram à porta de nossa casa e timidamente olharam nosso jardim.
Diante da inoperância e cegueira de nossos governantes, foram feitas as primeiras concessões: Reserva Yanomami e Reserva São Marcos, seccionando boa parte do Estado de Roraima. Era o dia seguinte, quando eles entraram em nosso quintal, colheram nossas flores, vimos, e não fizemos nada.
Até que por fim, no dia 15 de abril de 2005, uma sexta-feira - sexta-feira negra -, surpreendentemente, numa bem concebida estratégia de guerra silenciosa, entraram em nossa casa, roubaram nossos bens, nossas mulheres, nossos filhos, e aí já não podíamos mais fazer nada quando nosso presidente assinou a homologação da Reserva Serra/Raposa do Sol em área contínua vilipendiando todos os que historicamente habitavam aquelas regiões e coexistiam pacificamente com "eles".
"Inês é morta!" Diriam os conformistas; "Relaxa e goza!" Diriam os humoristas; "Vamos à luta!" Dizem os que acreditam no direito e na justiça.
Senhores, será que Roraima está fadado a desaparecer? Quando ainda Território, vivíamos sob os auspícios do Governo Federal ; a fonte de recursos federais secou e, a muito custo, nos moldamos à nova realidade; sofremos anos e mais anos com a corrupção desenfreada e o roubo explícito - e implícito. Agora que engatinhávamos vida própria, desenvolvendo e executando projetos agroindustriais, nosso presidente, sob pressão de conluios interesseiros, numa canetada - Bic ou Montblanc? - dá-nos o tiro de misericórdia.
Até no tiro de misericórdia o Planalto errou: dá-se o tiro de misericórdia naquele que está agonizando, com o intuito de abreviar sua dor e sofrimento. O ato de atirar mortalmente contra alguém que começa a vida e ensaia os seus primeiros passos, denomina-se pura e simplesmente assassinato.
Se as terras não nos pertencem, não temos obrigação de tutelar os seus povos: "Quem pariu Mateus, que o embale!" Quando a máquina estadual retirar-se das áreas agora proibidas, veremos o verdadeiro caos social: nossas ruas serão invadidas por seres sem rumo, com o álcool correndo em suas veias e o vazio tomando conta de seus estômagos, a mendigar, roubar, assaltar e prostituir-se. Esta, talvez, fosse a hora de a Fundação mostrar que não é um órgão virtual; coisa que todos duvidam muito.
Não tenho terras nem interesses nas áreas surrupiadas; tenho amor por este Estado que, infelizmente, por dezenas de atos praticados dentro da mais pura insensatez, não terei prazer de ver auto-sustentável.
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