- 19 de novembro de 2024
Abundância de matéria-prima e limitações de utilização, associadas ao cenário comercial favorável e imposições de retração, fazem parte dos contrastes vividos pelo setor madeireiro de Roraima, notadamente o pior de sua história no Estado. As empresas operam, em média, com 15% da capacidade de produção. As demissões, portanto, se tornaram cotidianas. A principal dificuldade deste momento do setor é a falta de matéria-prima, fruto de políticas ambientalistas que impedem a extração e o aproveitamento da madeira na Amazônia. Os estoques existentes nos pátios das empresas não darão para 60 dias, quando o ritmo normal de trabalho exige que seja de seis meses. Não dá para fazer derrubada e transporte no inverno. Presidente do Sindicato dos Madeireiros, o empresário Otto Matsdorff acusa o Ministério do Meio Ambiente, através do Ibama, de modificar constantemente as regras para dificultar o desenvolvimento do setor na Amazônia. Permite-se, por exemplo, a queima de madeira ao invés de abrir caminhos para que fossem aproveitadas na produção de riquezas e geração de empregos. A cada propriedade de 60 a 100 hectares de propriedades rurais na Amazônia, o Governo Federal permite a utilização de 3, dos quais uma portaria limita o aproveitamento total de 60 metros cúbicos de madeira. O resultado do desmate nesta área gira em torno de 120 metros cúbicos. A diferença que sobra, quase sempre aproveitáveis economicamente, acaba sendo queimada. Comércio O panorama negativo na extração de matéria-prima não se reflete no sistema produtivo. A maioria das madeireiras utiliza tecnologia de ponta, beneficiando o produto e agregando valor antes de comercializá-lo. O mercado consumidor também é favorável. Os empresários roraimenses estão indo muito além da Venezuela, exportam atualmente para o Japão e para a Europa. "Entramos num mercado mais sofisticado, onde o preço paga a madeira paga pelo metro cúbico da madeira beneficiada chega a 650 dólares, mas está nos faltando matéria-prima", disse Otto Matsdorff, acrescentando que o mercado prioritário das madeireiras do Estado tem sido a Europa. Dois aspectos prevalecem: preço e mais dinamismo nas operações comerciais. PREOCUPANTE A situação da Importadora e Exportadora Trevo, situada no Distrito Industrial, mostra bem a realidade das madeireiras. O quadro de pessoal foi reduzido nos últimos quatros anos de 283 para 70. Estão previstas mais 40 demissões por falta de atividade. "Não temos matéria-prima", lamentou o empresário Valdir Peccini. Há cinco anos o setor empregava mais de 4,5 mil trabalhadores com carteira assinada. Hoje esse número não chega a 500, percentual semelhante ao do uso da capacidade de produção das empresas. Atuando no ramo há 25 anos, Valdir Peccini opina que falta vontade política para se deixar produzir na região Amazônica. O lado mais incoerente, segundo o empresário, é que o Governo Federal dificulta a geração de emprego ao mesmo tempo em que prega o combate à fome no Brasil. Também destacou que existem mercados mais amplos do que no auge do setor, entre os anos de 1998 e 2001, quando tudo era direcionado à Venezuela. DIFERENCIADO Madeiras Roraima, atualmente a que possui o maior número de equipamentos entre as madeireiras do Estado, investiu pesado na instalação de uma indústria de colagem de madeira. É a única que detém essa tecnologia. O produto diferenciado, todavia, não lhe assegura a sobrevivência diante das dificuldades de obtenção de matéria-prima. O proprietário da empresa, Laerte Oestreicher, vice-presidente da Câmara Brasileira Venezuelana de Comércio e Indústria, a inexistências de normas adequadas para a preservação e a exploração sustentável das riquezas naturais da Amazônia estão inviabilizando a continuidade da promissora atividade do setor madeireiro em Roraima. "Os empecilhos são contínuos. Surgem, periodicamente, regulamentações de condutas que impedem o crescimento das empresas do setor", enfatizou Laerte Oestreicher ao reclamar da repressão exercida pelas instituições públicas de meio ambiente e de segurança, sejam municipais, estaduais ou federais. "Estamos acuados", desabafou.