- 19 de novembro de 2024
Correio Braziliense As investigações da Polícia Federal na apuração que envolve o ministro da Previdência, Romero Jucá, em suposta cobrança de propina em projetos de obras públicas em Cantá, município do entorno de Boa Vista (RR), ganharam novo fôlego com a entrega dos primeiros laudos periciais. Os documentos apontam para novos indícios, que obrigarão os investigadores a fazer outras diligências. A expectativa inicial da PF era a de que a entrega dos laudos do Instituto Nacional de Criminalística(INC) encerrassem a apuração. Detalhes até então desconhecidos do suposto esquema, porém, apareceram a partir do trabalho do INC. A investigação da PF se baseia em relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre transferência de recursos federais e na transcrição de uma fita cassete que traz uma conversa telefônica supostamente entre o prefeito de Cantá, Paulo de Souza Peixoto, e um empreiteiro, também sob investigação da Polícia Federal. Na gravação, o prefeito reivindica uma propina de R$ 25,2 mil - o equivalente a cerca de 10% dos R$ 257 mil repassados entre 1999 e 2000 pelo Ministério da Saúde para a construção de cinco poços artesianos. Jucá não aparece nas conversas, mas é citado de forma indireta. Seu nome surgiu depois de um trecho do diálogo em que o empreiteiro reclama da porcentagem que teria de pagar. Ele achava que era 15%, mas o prefeito insiste em 20%, metade, para o senador. Mais adiante, o nome de Jucá aparece em mais um trecho captado numa conversa quando o prefeito fala com José Augusto Monteiro Júnior, o suposto articulador do esquema. "Augusto, olha eu tô acabando de (???). É 20% naquele negócio do Jucá, é? Vinte por cento, dez é meu e dez é do (???) Ó Augusto, vê com eles aí como é que vai ficar, o que eles negociaram (???). É 10% par mim." A gravação tem 12 páginas transcritas por peritos da PF e nela o prefeito revela que recebe 10% de todas as obras. O inquérito corre sobre segredo de Justiça. Jucá já prestou depoimento à Polícia Federal, no ano passado, e negou envolvimento com os desvios. Porém, ele deverá ser chamado novamente. Assim como o ex-prefeito de Cantá Paulo de Souza Peixoto e outras quatro pessoas que também teriam participado do suposto esquema de desvio de dinheiro público. Caso se confirme as suspeitas, os envolvidos serão indiciados por peculato e formação de quadrilha. Frangonorte O ministro Romero Jucá insistiu ontem, em São Paulo, que não existem acusações contra ele. Por este motivo, diz o ministro, ele pediu o arquivamento do procedimento administrativo que foi aberto pelo Ministério Público Federal. O objetivo do procedimento era investigar o destino dos recursos públicos obtidos pela empresa Frangonorte, de Roraima, da qual Jucá foi dono entre 1994 e 1996. "Pedi o arquivamento porque não existe qualquer tipo de acusação contra mim", justificou-se. Jucá encaminhou ontem uma manifestação de 25 páginas a Cláudio Fonteles. O procurador-geral havia dado um prazo de 20 dias para que o ministro apresentasse explicações sobre o financiamento tomado junto ao Banco da Amazônia (Basa) em nome do abatedouro Frangonorte, localizado na periferia de Boa Vista, em Roraima. A dívida com o empréstimo já atinge R$ 18 milhões e ainda não foi paga. O ministro teria oferecido sete fazendas inexistentes no interior do Amazonas como garantia do empréstimo.