- 19 de novembro de 2024
DO COLUNISTA DA FOLHA Dona de um dos principais canais de televisão de Roraima (TV Caburaí), a Fundação Roraima está em petição de miséria. Instalou-se de favor numa casa cedida pelo governo do Estado. Ministra cursos de artesanato a cerca de 15 idosos. Funciona dia sim, dia não. A despeito das dificuldades, a entidade filantrópica alugou à Uyrapuru, empresa pertencente a quatro filhos do ministro Romero Jucá, o direito de explorar a sua emissora. Em troca, recebe R$ 3.500 mensais. Abaixo, a entrevista com Getúlio de Souza Vieira, 62, presidente da fundação. (JOSIAS DE SOUZA) Folha - Qual é a atividade da Fundação Roraima hoje? Getúlio de Souza Oliveira - É com pessoal da terceira idade, fazendo artesanato, essas coisas. Folha - Como a fundação financia suas atividades? Oliveira - Alugamos uma televisão que pertence à fundação. Ela está alugada para outra empresa. Folha - É a TV Caburaí? Oliveira - É, pertence à fundação e nós a alugamos. Folha - Qual é o nome da empresa que aluga a TV? Oliveira - Uyrapuru Comunicações Ltda, do sr. Geraldo Magela. Folha - A Fundação Roraima é uma filantrópica? Oliveira - Exatamente. Folha - O sr. está acompanhando o noticiário que envolve o ministro Romero Jucá? Oliveira - Estou vendo, mas não temos nada com isso. Folha - O ministro tem vínculos com a fundação e com a TV? Oliveira - Nenhum. Não temos nada com isso. Folha - Quer dizer que ele não é vinculado à fundação? Oliveira - Anos atrás, numa época em que eu nem era presidente da fundação, ele ajudou nuns projetos. Só isso. Folha - Mas o ministro Jucá é sócio da TV Caburaí, não? Oliveira - Também não. Não tem nada a ver. Folha -Tenho comigo um documento da Receita Federal dizendo que ele é sócio. Oliveira - Mas isso faz muitos anos. Depois que eu assumi é só com a gente aqui mesmo. Mas me diga uma coisa: o que tem a ver o dr. Romero com a fundação em termos de Receita? Folha - Com base em auditoria concluída em 1995, a Receita diz que Romero Jucá é sócio da fundação na TV Caburaí [o repórter lê trechos do relatório do fisco]. Oliveira - Ele saiu há muitos anos. Aí ficou só a fundação como sócia e outra pessoa foi colocada no lugar. Não temos vínculo nenhum com o dr. Romero. Folha - Quem é essa outra pessoa que entrou no lugar do ministro Romero Jucá? Oliveira - Entrou o Márcio Vieira de Oliveira, que é o meu filho. Folha -O que faz o seu filho? Oliveira - O Márcio? Ele é empregado aqui no meu escritório de contabilidade. Folha - Quer dizer que o seu filho virou sócio da fundação? Oliveira - É sócio na firma TV Caburaí, junto com a fundação. Folha - Quanto o seu filho pagou para virar sócio de uma TV? Oliveira - Como ela estava desativada, pagou coisinha pequena. Folha - Mas a TV Caburaí não estava desativada. Oliveira - A TV, é... é..., como ela está funcionando, a fundação é que assumiu tudo, para alugar, essas coisas. Folha - A TV Caburaí parece ser um negócio lucrativo, retransmite a programação da Rede Bandeirantes, vende anúncios etc. Quer dizer que seu filho entrou como sócio sem pagar nada? Oliveira - É que a televisão... Tenho aqui vários documentos, é..., é..., tem sido negativa a renda deles, toda vez. Folha - Dá prejuízo? Oliveira - Dá mal para pagar os funcionários. Folha - Quando a TV dá lucro, o sr. lança o resultado no balanço da fundação? Oliveira - Como a TV foi alugada, eu só lanço no balanço o valor do aluguel. Folha - Qual é esse valor? Oliveira - É uma faixa de R$ 3.500,00 por mês. Folha - A fundação continua recebendo verbas públicas? Oliveira - Por enquanto, não estamos recebendo nenhuma. Só temos uma casa cedida pelo governo do Estado. É lá onde nós fazemos a atividade com o pessoal da terceira idade.