- 19 de novembro de 2024
A portaria do Ministério da Justiça publicada na edição de ontem do Diário Oficial da União definindo novos limites para a terra indígena Raposa/Serra do Sol sem contemplar a área de produção de arroz irrigado e que determinou prazo de um ano para a retirada de todos os não-índios foi o tema central das discussões ontem no encontro de presidentes de federações de agricultura de todo o país, em Boa Vista. Desde a abertura do encontro, pela manhã, em que todos os componentes da mesa se manifestaram contra a portaria, até o encerramento das discussões, no final da tarde, todo os convidados foram unânimes em protestar contra a medida do governo federal. O primeiro a sair em defesa do Estado de Roraima foi o presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil, Antonio Ernesto de Salvo, homenageado durante o encontro. Ele classificou como uma injustificada submissão do governo federal aos interesses internacionais a demarcação de um número cada vez maior de reservas indígenas em Roraima. Presente na abertura, o governador de Roraima, Ottomar Pinto, também protestou contra o que chamou de atentado a soberania nacional e ao direito do povo de Roraima de ter terras para o seu desenvolvimento. O comandante da Primeira Brigada de Infantaria de Selva, General Studart, não se manifestou, mas ouviu os protestos também do presidente da Assembléia Legislativa do Estado de Roraima, deputado Mecias de Jesus, de deputados federais, produtores rurais e lideranças do setor. Após a abertura do encontro, os 15 presidentes de federações de agricultura de todo o país, o presidente da CNA e outras lideranças ligadas ao setor rural representando estados como Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso do Sul, que detém os maiores índices de produtividade no campo, se reuniram com representantes do setor rural roraimense para traçar uma estratégia de ação em relação aos eventos mais recentes. Ficou definido que a Confederação Nacional da Agricultura, na pessoa do presidente Antonio Ernesto de Salvo, vai assumir como causa a defesa dos produtores rurais de Roraima. A tomada de posição por parte da CNA foi defendida, também pelo presidente da Federação do Rio Grande do Sul, Carlos Sperotto e pelo presidente da Federação do Estado de São Paulo, Fábio de Sales Meireles. Os dois disputam a sucessão de Ernesto de Salvo na presidência da CNA. Também o presidente da Federação da Agricultura do Mato Grosso do Sul, Leôncio Brito, o presidente da Federação de Rondônia, Francisco Ferreira Cabral, o presidente da Federação do Pará, Carlos Fernandes Xavier, e o presidente da Federação do Ceará, José Ramos Torres de Melo, defenderam uma posição mais contundente do setor rural brasileiro em relação a demarcação de terras indígenas em Roraima e na Amazônia. Da parte dos produtores roraimenses foram feitas declarações de que existe até a possibilidade de se pegar em armas para a defesa de suas propriedades. Também foi anunciado para os próximos dias um novo movimento para a paralisação do Estado de Roraima, com fechamento de todas as vias de acesso, como ocorrido no início de 2004, quando o ministro Márcio Thomaz Bastos anunciou a iminência da demarcação da Raposa/Serra do Sol. Após longos debates durante todo o dia, os presidentes de federações de agricultura e representantes do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em vários estados, junto com lideranças políticas e representantes dos produtores rurais roraimenses, saíram em comitiva para o Palácio Senador Hélio Campos, onde se reuniram com o governador Ottomar Pinto.