- 19 de novembro de 2024
Jailton de Carvalho - O Globo BOA VISTA (RR) - Em depoimento ao juiz Luiz Fernando Mallet, da 1ª Zona Eleitoral, a ex-agente de articulação comunitária da prefeitura de Boa Vista Edilene Ferreira de Oliveira reafirmou a existência de um poderoso esquema de compra de votos para a campanha eleitoral do hoje ministro da Previdência, Romero Jucá, nas eleições de 2002, em que ele foi eleito senador. O esquema também teria como objetivo comprar votos para a eleição do governador Ottomar de Souza Pinto e da deputada federal Maria Helena Veronezze, entre outros políticos locais que acabaram não sendo eleitos. Segundo Edilene, os integrantes do esquema recebiam R$ 350 por mês para atender a pequenas necessidades de eleitores, como compra de remédios e gás. No dia da votação, os responsáveis pelo esquema teriam se comprometido a pagar R$ 100 para que os militantes de aluguel votassem e pedissem voto para Jucá e em outros candidatos, R$ 50 eram pagos pela manhã e o restante, no fim da tarde, depois da votação. Edilene disse que a segunda parcela não teria sido paga. Edilene trabalhava em programas sociais da prefeitura e, quatro meses antes das eleições, ela e outros servidores da Secretaria de Gestão Participativa teriam recebido a ordem expressa da secretária Iraci Oliveira para participarem ativamente da campanha de Jucá. Segundo ela, os funcionários que não atendessem corriam o risco de perder o emprego. Edilene disse que os programas sociais desenvolvidos pela secretaria foram paralisados nesse período e só eram atendidos casos de emergência. Ela foi afastada da campanha no dia 28 de setembro de 2002 porque teria se recusado a pedir 300 votos a mais para um candidato ligado ao esquema. Segundo a ex-funcionária, naquela altura da campanha era impossível conseguir tantos votos. A primeira denúncia de compra de votos foi feita por Gilma Gonçalves, funcionária da prefeitura que decidiu romper com o esquema depois de uma briga de rua com uma colega da prefeitura. Edilene disse que decidiu reforçar as denúncias porque era tratada como escrava na campanha. - Era muito escravo o nosso trabalho. A gente não tinha direito a nada, não podia acompanhar nossos filhos em nada - contou. Segundo Edilene, a jornada dos funcionários e cabos eleitorais começava às 7h e muitas vezes só terminava depois das 22h, durante todos os dias da semana. - A gente trabalhava de domingo a domingo e não agüentava mais - afirmou. O advogado de Jucá, Maryvaldo Bassal de Freire, tentou desqualificar o depoimento de Edilene. Segundo ele, a testemunha recebeu dinheiro para fazer a denúncia. Ele não soube dizer, no entanto, se o pagamento ou não comprometeria o minucioso relato feito por Edilene ao juiz. - Não sou eu que faço a valoração das provas - disse o advogado, afirmando que no decurso do processo vai mostrar que as acusações contra Jucá são falsas.