- 19 de novembro de 2024
BRASÍLIA - Como diz o presidente Lula, "a imprensa, às vezes, atrapalha". É verdade. Ontem foi a reportagem de Josias de Souza sobre Romero Jucá. Sabe-se agora que o ministro da Previdência também já foi acusado de participar do desvio de verbas de uma entidade filantrópica. No início da década de 90, diz auditoria da Receita Federal, Jucá recebia cheques em branco e assinados da Fundação de Promoção Social e Cultural do Estado de Roraima. A mesma apuração informa que era do atual ministro da Previdência a caligrafia registrada para anotar os valores nesses mesmos cheques. Por que nada aconteceu? Houve um suposto vício formal na apuração dos fatos. O auditor conferiu os cheques sem autorização judicial. Os indícios foram jogados no lixo. É bom que as leis sejam respeitadas no Brasil. Não convém alguém bisbilhotar cheques sem autorização. Feito o registro, fica uma dúvida: se não foi condenado judicialmente, o que dizer da situação política do ministro da Previdência, cuja caligrafia aparece em cheques suspeitos? A cada semana ressurgem rastros obscuros deixados por Jucá nos locais onde passou. É pouco atribuir tudo a invenção de inimigos políticos. A caligrafia nos cheques suspeitos, diz a Receita Federal, é do ministro. O outro ponto nebuloso é o fato de Jucá e seu partido, o PMDB, afirmarem que os processos contra o ministro foram enviados para o Palácio do Planalto antes da nomeação formal. Nesse caso, há duas hipóteses. A primeira é que os responsáveis administrativos pela nomeação, o ministro José Dirceu e sua equipe na Casa Civil, não leram direito o material sobre Jucá. A segunda hipótese é que Dirceu analisou tudo e não enxergou ali nada de errado. Nos dois cenários, a situação é desabonadora para a inteligência daquele que foi um dia o assessor mais poderoso de Lula. Logo Dirceu, que proclamou 2005 como o "ano da eficiência da máquina pública".