- 19 de novembro de 2024
O ano era 1985. O mês, digamos que fosse dezembro. Veículo de comunicação impressa - o único em atividade na Capital do então Território Federal - passava por uma pindaíba de dar gosto. Dizem que o motivo principal para tamanha indigência é que não era administrado como empresa. As mulheres dos donos ficavam na porta, disputando quem atenderia primeiro o "freguês" que se aventurava entrar no recinto. Quem ganhasse a corrida, colocava o dinheiro pago pela publicidade no bolso. Caixa da empresa não existia. Todas as saídas já haviam sido engendradas, e nada. A coisa estava "preta" (antes que alguém julgue ser preconceito pela cor, o articulista é negro). Até que um dos donos lembrou-se da última cartada. Essa era tiro e queda! Não havia de falhar. De jeito nenhum! Um deles, alto funcionário de extinta empresa telefônica local, tinha como fazer alguns interurbanos para resolver a "parada" sem onerar a falida empresa jornalística. Pensado (dito) e feito. Dias depois desembarcava na Capital macuxi um famoso pai-de-santo da Bahia. Dizem que os melhores são os de Codó, no Maranhão, mas um baiano também caía bem. Com certeza, resolveria a parada. Marcado o dia D, um sábado, os trabalhos de feitura do jornal (que era diário mas saía quando Deus dava bom tempo) teriam que ser suspensos. É Claro. Na sexta-feira pela manhã, começaram a desembarcar na porta do jornal, sob as ordens do dito pai-de-santo, camburões e camburões (tambores de 200 litros). A gente que ali trabalhava não sabia para que serviriam tais recipientes portáteis. Não demorou muito começaram a ser cheios de água. Até aí, os barris derramando pela boca ainda eram uma incógnita. À tarde, começaram a chegar os ingredientes principais: folhas de árvores e ramas as mais diversas, que até hoje o articulista, que viveu todo o imbróglio, não conseguiu descobrir a origem. A ordem, na sexta-feira à noite, era que no dia seguinte nenhum jornalista ou operário da "cozinha" do jornal viesse vestido a caráter, mas sim de roupa de banho ou, no máximo, calção e camiseta. Estranho. Muito estranho. Primeiro, ali não havia nenhuma praia e, segundo, não era nenhum período de maratona. Como manda quem pode e obedece quem tem juízo, e precisa do emprego, na hora marcada do sábado, lá estávamos todos. Todos prontos para uma guerra da qual não havíamos sido informados oficialmente sobre o inimigo. Mas tínhamos a obrigação de desconfiar. Tratava-se de dar um banho de descarrego - tal como faz hoje a Igreja Universal - em todas as dependências do jornal, inclusive na redação. Vassouras e rodos nas mãos, partimos para espantar a "urucubaca". Tudo em favor do jornal, para que pudesse, enfim, seguir seu curso normal e se transformar naquele que iria marcar a vida roraimense na posteridade. O efeito de tal imbróglio? Desnecessário dizer que foi um revertério total. O jornal fechou as portas de vez. Não fosse, meses depois, determinado grupo de empresários comprar a massa falida, a história seguramente seria outra.