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ÉPOCA - Uma Nova denúncia

Uma investigação do Ministério Público de Roraima vai jogar gasolina na fogueira que consome o Ministro da Previdência, Romero Jucá. Documentos da promotoria obtidos por Época mostram que funcionários de uma cooperativa contratada pela prefeitura de Boa Vista foram desviados para atuar como cabos eleitorais na campanha de Jucá ao Senado em 2002. A prefeita de Boa Vista chama-se Teresa Jucá e é mulher do ministro da Previdência. Criada para permitir a contratação de pessoal sem concurso público, a Cooperativa Roraimense de Serviços recebia R$ 1,9 milhões por mês pela locação de mão-de-obra. Nos três meses antes do pleito de 2002, a conta subiu para R$ 2,7 milhões mensais.


Em situação cada vez mais difícil no Ministério da Previdência, Romero Jucá é acusado de usar verbas públicas em sua campanha Diego Escoteguy e Luiz Rila Revista Época Uma investigação do Ministério Público de Roraima vai jogar gasolina na fogueira que consome o Ministro da Previdência, Romero Jucá. Documentos da promotoria obtidos por Época mostram que funcionários de uma cooperativa contratada pela prefeitura de Boa Vista foram desviados para atuar como cabos eleitorais na campanha de Jucá ao Senado em 2002. A prefeita de Boa Vista chama-se Teresa Jucá e é mulher do ministro da Previdência. Criada para permitir a contratação de pessoal sem concurso público, a Cooperativa Roraimense de Serviços recebia R$ 1,9 milhões por mês pela locação de mão-de-obra. Nos três meses antes do pleito de 2002, a conta subiu para R$ 2,7 milhões mensais. "A contratação da cooperativa serviu como forma de desviar dinheiro público e mão-de-obra custeada pelo Erário municipal para campanhas políticas em benefício da prefeita", denunciam os promotores Alexandre Moreira Tavares dos Santos e Luiz Antônio Araújo dos Santos e Luiz Antônio Araújo de Souza. Somente em 2002, a cooperativa recebeu R$ 29 milhões da prefeitura de Boa Vista. Os depoimentos dos funcionários da cooperativa são diretos. "A partir de junho de 2002, parei de trabalhar na Secretaria de Gestão Participatica para trabalhar na campanha do Senador Romero Jucá. Todo o pessoal contratado pela cooperativa e lotado na secretaria passou a trabalhar na campanha e continuou recebendo o salário normalmente", afirmou aos promotores a funcionária Lucimeire Dominici Pereira. "Várias pessoas que se destacavam na campanha eram contratadas pela cooperativa. A própria secretária era coordenadora da campanha de Romero Jucá. Quem se recusasse a fazer iria para a rua." Os promotores pediram ao procurador-geral de Justiça de Roraima, Edson Damas, a abertura de uma ação de improbidade administrativa e de uma denúncia criminal contra a prefeita de Boa Vista. Antes de se manifestar, o procurador pediu ao Tribunal de Contas do Estado que aprofunde as investigações sobre o contrato da cooperativa com a prefeitura. A assessoria de Jucá diz que as denúncias seriam armação de adversários políticos. As funcionárias que prestaram depoimento seria aliadas do ex-governador Neudo Campos, rival de Jucá. Por meio da assessoria, o ministro declarou que "tudo não passa de reflexos de uma disputa política regional de Roraima". Segundo a assessoria de Jucá, "a prefeita fez de tudo para romper o contrato com a cooperativa de serviços." Não é o que parece. Em dezembro de 2003, uma reportagem de Época trouxe à luz a existência da cooperativa. A matéria mostrou que entre os funcionários contratados com salários de até R$ 8 mil por mês estavam inclusive a personal trainer e a taróloga da prefeita. Também entraram na lista funcionários da TV Caburaí, emissora que pertence ao ministro da Previdência. Como resposta às denúncias, a prefeita de Boa Vista determinou que uma comissão formada por funcionários do município investigasse o contrato com a cooperativa. O resultado? "As notícias veiculadas não merecem crédito, pois ficou sobejamente clara a participação dos servidores investigados na prestação de serviços de interesse desta prefeitura", concluíram os servidores. Apesar do parecer favorável, a prefeita extinguiu a cooperativa neste ano, segundo sua assessoria de imprensa. As denúncias de irregularidades praticadas durante a campanha eleitoral enfraqueceram ainda mais um ministro cuja permanência no governo já parecia incerta. Jucá estava desgastado pela revelação feita pelo jornal Folha de São Paulo, de que se beneficiara de um empréstimo tomado de forma fraudulenta. Em 1996, o ministro e um sócio conseguiram um financiamento do Banco da Amazônia (Basa) oferecendo como garantia sete fazendas que simplesmente não existiam. Suas escrituras eram forjadas e indicavam a propriedade de terras griladas. Fustigado pelo noticiário referente ao negócio com o Basa, Jucá de início optou pelo silêncio. O presidente Lula não gostou disso e determinou-lhe que apresentasse explicações cabais que encerrassem o episódio. O ministro convocou então uma entrevista coletiva, da qual saiu ainda mais chamuscado. Ao falar sobre o empréstimo, ele responsabiliza o sócio por ter apresentado garantias falsas e o banco por tê-las aceito. Sobre sua participação no caso, não fez nenhum esclarecimento. A avaliação no Palácio do Planalto foi a de que a entrevista mais serviu para atrapalhar que para ajudar Jucá a se segurar no posto. Senador por Roraima, Jucá foi colocado no Ministério da Previdênci há menos de um mês com o objetivo de reforçar o grupo do PMDB liderado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros. Seu enfraquecimento motivou imediata reação política. O primeiro a atirar foi o deputado João Paulo Cunha (PT-SP): "É incompatível com a condição de ministro da Previdência alguém sob suspeita. Ele precisa esclarecer melhor o que está publicado e o que está por ser publicado". Ex-presidente da Câmara, João Paulo esteve muito perto de assumir a Coordenação Política do Planalto no lugar de Aldo Rebelo (PCdoB), mas acabou ficando fora do primeiro escalão quando Lula decidiu abortar a reforma ministerial. Seu ataque a Jucá foi interpretado por setores do governo como fruto da mágoa com o presidente e do interesse de forçar a reabertura do debate sobre mudanças na equipe de Lula. Também houve quem visse nas declarações um movimento da ala comandada pelo chefe da Casa Civil, José Dirceu - que vê em Renan um aliado de Aldo Rebelo, adversário de Dirceu. Renan, por sua vez, deixou clara sua irritação com João Paulo. "Fogo amigo com o PMDB, não!", advertiu. O aquecimento do noticiário contra Jucá serviu para reabrir as feridas dentro do PMDB, que parecia um pouco mais pacificado depois de um período de conflito sangrento. O grupo oposicionista do partido tratou de vincular os problemas enfrentados pelo ministro ao fato de sua indicação não ter sido avalizada pela cúpula da legenda. "Não faço nenhum pré-julgamento de Jucá, mas ele agora virou um problema de Renan. O PMDB não é responsável pela sua escolha", diz o deputado Geddel Vieira Lima (BA). O fato é que as denúncias contra Jucá - tratadas inicialmente como uma ameaça que iria se extinguir com o tempo - passaram a ser encaradas como um problema cuja persistência pode levar à queda do ministro. Ao tomar posse, Jucá anunciou que promoveria um "choque de gestão" na Previdência, combatendo fraudes e aumentando a arrecadação. Até agora, o único choque provocado por ele veio da revelação de episódios nebulosos de seu passado. No planalto, já começa a se consolidar a impressão de que com um ministro assim será difícil vender a imagem de modernização da Previdência. Veja as fotos da reportagem publicada por época




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