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PMDB não quer defender Jucá - Dora Kramer

Se o ministro da Previdência Social, Romero Jucá, depender - como exige o presidente Luiz Inácio da Silva - da defesa do PMDB para permanecer no Governo, convém desde já correr atrás de apoios porque, ao menos por enquanto, o partido não está disposto a assumir suas dores. Por uma razão simples: a indicação de Jucá não passou pelo exame de nenhuma instância partidária.


Se o ministro da Previdência Social, Romero Jucá, depender - como exige o presidente Luiz Inácio da Silva - da defesa do PMDB para permanecer no Governo, convém desde já correr atrás de apoios porque, ao menos por enquanto, o partido não está disposto a assumir suas dores. Por uma razão simples: a indicação de Jucá não passou pelo exame de nenhuma instância partidária. Ao contrário, a última manifestação oficial do PMDB foi em dezembro do ano passado, quando decidiu em convenção nacional que ministros e ocupantes de cargos na administração federal deveriam deixar seus postos. Depois disso, mais recentemente a ala oposicionista do partido atendeu aos apelos do Palácio do Planalto para iniciar um diálogo, mas ficou combinado que a conversa passaria ao largo da questão dos cargos. Com isso, o grupo integrado pelo presidente nacional do partido, Michel Temer, e os presidentes regionais de São Paulo, Orestes Quércia, e Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, pretende se desvencilhar dos chamados governistas e transferir a eles o carimbo de fisiológicos. Pois entre esses está justamente o padrinho de Jucá, o presidente do Senado, Renan Calheiros, cuja vida os adversários não têm a menor intenção de facilitar. Se vierem a prestar alguma ajuda, o leitor pode estar certo: alguma vantagem política obtiveram. No quadro tal como está hoje, nenhuma possibilidade de Romero Jucá receber solidariedade pública de seus pares partidários que, além de não terem sido consultados sobre sua indicação, não têm a menor intenção de se associar a acusações a respeito das quais Jucá ainda não conseguiu se explicar. E o cardápio de denúncias não é magro. Inclui denúncias de empréstimos com garantias fraudulentas, envolvimento como investigado em inquérito da Polícia Federal sobre desvio de dinheiro de emendas do Orçamento e crimes eleitorais. Romero Jucá tem ainda problemas no quesito más companhias: em 1998, indicou o empreiteiro Fábio Monteiro - dono da Inkal, empresa que executou as obras superfaturadas do Tribunal Regional do Trabalho em São Paulo - para compor chapa ao Senado com seu sócio Gilberto Cruz. Trata-se, convenhamos, de um currículo de peso, literal e politicamente falando. Surpreende apenas que as pessoas - aí incluídas as que dão expediente no Palácio do Planalto - imponham reparos a Romero Jucá como ministro, mas não façam as mesmas restrições quando se trata do exercício de mandato de senador. Se o histórico dele é inconveniente para uma função, deveria sê-lo também para a outra. Ou vice-versa: se a despeito do currículo pode ser senador - receber de um partido uma legenda para disputar eleições -, com a mesma naturalidade poder-se-ia aceitá-lo nas funções de ministro.

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