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QUANDO NÃO RESTAR PEDRA SOBRE PEDRA - Márcio Accioly

Há uma passagem no livro do norueguês Jostein Gaarder, "O Mundo de Sofia", que fala a respeito da dificuldade da maioria das pessoas (depois de adultas), de perceber o que acontece em derredor, acostumada que essa maioria está com a mesmice do dia-a-dia e com a aparente (e só aparente) paralisação de tudo.


Brasília - Há uma passagem no livro do norueguês Jostein Gaarder, "O Mundo de Sofia", que fala a respeito da dificuldade da maioria das pessoas (depois de adultas), de perceber o que acontece em derredor, acostumada que essa maioria está com a mesmice do dia-a-dia e com a aparente (e só aparente) paralisação de tudo. Mas o mundo se encontra em ebulição permanente e é preciso que cada qual saia de trás do biombo onde busca proteção e observe, com atenção, as transformações em nossa volta. Um grupo de 1.350 cientistas de 95 países, incluindo o Brasil, acaba de divulgar estudo a respeito da saúde dos ecossistemas, mostrando que o nosso planeta Terra está muito perto de alcançar seu esgotamento. Nos últimos 50 anos, a ação predatória do ser humano aumentou o risco de mudanças abruptas, tais como a explosão de epidemias e perturbações climáticas regionais, induzidas pelo desmatamento. A Folha de S. Paulo, em matéria assinada por Cláudio Ângelo, deu destaque ao assunto que não alcançou repercussão esperada e nem despertou o interesse de nossas chamadas autoridades. Ninguém parece se importar com nada que diga respeito a cuidados de manutenção desse frágil grãozinho de areia rolando pelo espaço, pois, afinal, as fontes de energia, inclusive o Sol, irão mesmo deixar de existir (mais dia, menos dia), resumindo-se tal problema a mera questão de tempo. No recente tsunami que varreu (ou lavou) o Sudeste da Ásia, a devastação dos manguezais "foi um dos fatores que ampliaram a destruição". As alterações climáticas que vêm ocorrendo no nosso planeta são causadas pelo desmatamento desregrado, ação degradante executada pelo homem que promove de forma ininterrupta a desorganização de todo meio ambiente. Em Brasília, os jornais têm mostrado a apreensão de lobos-guarás, animal símbolo da Região do Cerrado, tangidos do seu hábitat pela expansão de fazendas e chácaras, encontrados esfomeados e desorientados nas largas avenidas e áreas residenciais da Capital Federal. São espécies condenadas à extinção, num mundo onde o único ser, considerado racional, não sente a menor empatia com relação a seu semelhante, carecendo, portanto, de qualquer preocupação no que se refere às demais espécies. O crescimento sem planejamento da periferia de Brasília empurra sagüis desesperados às residências do Park Way (bairro nobre do entorno da cidade), em busca de alimento que começa a faltar na derrubada de árvores frutíferas e outras de igual importância que lhes servem de abrigo. A atividade econômica não pode parar. Estamos reduzidos a gráficos e números. O planeta Terra já ultrapassou a marca de seis bilhões de pessoas! Para que se pudesse ter equilíbrio razoável, esse número teria de ser estabilizado em torno de quatro bilhões. Desde 1960, o aumento no uso da água cresceu cerca de 20% a cada dez anos. E calcula-se que um bilhão e 100 mil pessoas não têm acesso a abastecimento adequado, enquanto mais de dois bilhões e 600 mil não têm saneamento básico. Dá-se como certo que os maiores conflitos a serem travados nos próximos anos serão motivados pela busca de água. O Brasil, que possui a maior reserva hídrica do mundo, está no foco das atenções internacionais, por conta também da capacidade produtiva de seus campos e pelo potencial de energia de biomassa que é capaz de oferecer. Daí, a política de desarmamento de sua população, endividamento asfixiante e a imposição de medidas que inviabilizem sua soberania, atendendo a ditames estratégicos da inteligência norte-americana, a qual já prevê e estuda a possibilidade de sua ocupação territorial. Certa feita, o incomparável líder indiano, Mahatma Gandhi (1869-1948), afirmou o seguinte: "- É impossível desenvolver as nações do mundo inteiro, elevando-as ao mesmo nível dos grandes impérios. Teríamos de ter uns dez planetas como o nosso, provendo recursos naturais". Infelizmente, só temos um. E o estamos destruindo a uma velocidade simplesmente espantosa. Ao não cuidar da casa que lhe serve como moradia, o ser humano apenas mergulha num processo agônico de longuíssima duração. Email: [email protected]

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