- 19 de novembro de 2024
KENNEDY ALENCAR Folha de S. Paulo O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou, em conversas reservadas nos últimos dias, preocupação e desconforto em relação aos argumentos apresentados pelo ministro Romero Jucá (Previdência) para se defender de reportagens da Folha que questionam operações financeiras de uma empresa da qual foi sócio. A alguns interlocutores, Lula disse estar arrependido de ter nomeado Jucá. No atual contexto, porém, avaliava ser muito difícil, pelo menos por ora, demitir o ministro ou pedir a ele que saia do governo. Crê que abriria crise com a ala governista do PMDB, especialmente com o presidente do Senado, o peemedebista Renan Calheiros (AL), padrinho político de Jucá, na hora em que Lula tem dificuldades no Congresso. Auxiliares de Lula comentaram que outra indicação recente de Renan também trouxe dissabores, numa referência ao ex-presidente do INSS Carlos Bezerra. Antes da nomeação do ministro da Previdência na semana passada, Lula teve conhecimento por intermédio do próprio Jucá de acusações a respeito de operações financeiras da empresa da qual foi sócio. Na conversa, Lula considerou convincentes as explicações. Ontem, porém, nova reportagem da Folha mostrando documentos que contradizem a defesa de Jucá levou preocupação a Lula. O presidente teme que o ministro, nomeado para combater fraudes na Previdência, tenha a credibilidade arranhada em definitivo e se transforme num problema constante, o que tiraria energia dele para tocar tarefas de sua pasta. A reportagem que acendeu "sinais de alerta" no governo, de acordo com expressão ouvida ontem no Planalto, revelava que ele constava como proprietário da empresa Frangonorte, à época em que deu como garantia de empréstimo do Basa (Banco da Amazônia) fazendas inexistentes no interior do Amazonas. Jucá responsabiliza o sócio, mas os documentos obtidos pela Folha mostram que ele, além de pagador e fiador da operação financeira, era também proprietário da empresa. Até então, Jucá mantinha a versão de que as garantias inexistentes foram dadas por seu sócio e que ele não pertencia mais à empresa na época da operação. "As fazendas, portanto, foram dadas em garantia por Luiz Castro [Fernandes de Oliveira, sócio da Frangonorte], e não pelo ministro", respondeu a assessoria de Jucá em nota na segunda-feira. Em defesa de Jucá, membros do governo aventaram a hipótese de ele possuir um "contrato de gaveta" (documento particular) dando conta de que deixou a empresa antes de as garantias inexistentes terem sido dadas e que o registro oficial aconteceu após essa saída.