- 19 de novembro de 2024
O dilema ou calvário da norte-americana Terri Schiavo comoveu o mundo. Depois de 13 dias com a sonda de alimentação que a ajudava mantê-la viva desligada, Terri morreu de inanição na tarde de hoje, mas deixou no ar uma discussão que está longe de ter um denominador comum: A eutanásia. Esse é justamente o assunto que traz de volta o poeta Eliakin Rufino e o escritor Aroldo Pinheiro, no X da Questão. Vcs são a favor ou contra a eutanásia? ELIAKIN: Não sei se é possível ser contra a eutanásia, sem que isso implique numa certa dose de cinismo, pseudo-religiosidade, falso moralismo e hipocrisia. Eu sou a favor da eutanásia como um recurso para atenuar as dores e aliviar o sofrimento de quem não tem mais esperança de vida. Vida vegetativa só mesmo para os vegetais. AROLDO: Sou a favor; muito a favor. Muito antes da "Terri Schiavo", estabeleci, para amigos e parentes, que caso eu tenha que passar por muita dor, sofrimento ou vida vegetativa, "tirem o tubo". Mais: se eu ainda tiver algum órgão aproveitável, doem-no. O que fazer com a vontade do doente? ELIAKIN: A vontade do doente deve ser respeitada, caso o doente tenha condições de expressar a sua vontade. Caso contrário, os médicos e família podem e devem decidir. Quando o doente não tem mais expectativa de vida plena, não podemos, em nome de nada, transforma-lo na barata de Kafka. AROLDO: Atendê-la. Se a pessoa expressou sua vontade em sã consciência, não tem porque questioná-la O que traz a cobertura que o mundo está fazendo da morte lenda de Terri Schiavo? AROLDO: Puro estardalhaço. O americano sabe explorar a mídia. Existe um canal fechado de televisão que se dedica a esse caso quase integralmente. Pastores, políticos e ativistas aproveitam-se do caso de Terri para aparecer na mídia e vender seu peixe. Não se surpreendam se, nos bastidores, Hollywood estiver negociando direitos para lançar esse imbróglio no cinema. ELIAKIN: A cobertura jornalística sobre o caso Terri Schiavo (que acaba de morrer) estimula a discussão e pode contribuir para uma mudança de mentalidade. Na verdade a principal oposição parte de setores conservadores da igreja católica, a mesma que tenta anacronicamente reprimir o uso da camisinha. Tem países que promovem a pena de morte, como os Estados Unidos, mas se contorcem em crises de consciência com relação à estanásia. Como vcs avaliam isso? AROLDO: Hipocrisia. Diversos estados americanos aplicam a pena de morte. O governo americano enviou milhares de soldados para uma guerra estúpida, puramente interesseira, em que mais de 1600 de seus combatentes encontraram seu fim - 1600 por enquanto. É pura hipocrisia o levante popular em favor de uma vida que não mais existe. Deixem a pobre Terri morrer em paz! ELIAKIN: Pois é, estes países que engolem um boi, mas se engasgam com um mosquito revelam bem o alto grau de hipocrisia em que vivem. Os que são contra a eutanásia são a favor da guerra. Os que são contra o aborto são a favor da pena de morte. Vcs são a favor ou contra a pena de morte? ELIAKIN:É a mesma discussão da eutanásia. Não dá pra ser simplesmente a favor ou contra. É um debate histórico. Não dá pra polarizar extremos, promover antagonismo circulares, redundantes. É possível ser a favor, para determinados casos de crimes hediondos em que não há nenhuma dúvida sobre a autoria. E é preciso ser contra veementemente porque pode imolar inocentes. A pena de morte informal do Brasil é praticada diariamente por grupos de justiceiros. A freira que defendia os pobres do Pará foi julgada, condenada e executada pela UDR: isso é pena de morte. AROLDO: Sou a favor desde que sob legislação bem elaborada e que os processos e julgamentos sejam conduzidos dentro de muita seriedade, bom senso e responsabilidade.