- 19 de novembro de 2024
Brasília - O governo do presidente Dom Luiz Inácio (PT-SP) se encontra metido numa grande enrascada: matéria veiculada na Folha de S. Paulo desta segunda-feira (28), mostrou que o ministro da Previdência, Romero Jucá Filho (PMDB-RR), ofereceu sete fazendas no interior do estado do Amazonas, como garantia a empréstimo solicitado no Basa - Banco da Amazônia, mas elas simplesmente não existem. O empréstimo foi contraído à época em que o ministro era filiado ao PSDB e líder do governo FHC (1995-2003). Discutiu-se a manhã inteira da segunda-feira, no Palácio do Planalto, que fazer diante da enormidade do problema, sem que se alcançasse denominador comum. Houve até quem ventilasse a necessidade de afastamento imediato do ministro, mas o presidente achou por bem esperar possíveis desdobramentos do episódio. O problema é que o senador Romero Filho, apesar de fazer parte da cota ministerial do PMDB, é indicação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de quem é amigo pessoal. Como o PT já se encontra com a Câmara dos Deputados atravessada na garganta (a eleição do deputado Severino Cavalcanti, PP-PE, para a sua Presidência, ainda não foi absorvida), teme-se que o desligamento do ministro iria gerar problema de proporção muito maior. Mas a repercussão negativa, em setores da chamada sociedade civil, poderá entornar o caldo. Já se levantam vozes contrárias à permanência do senador no Ministério, dentro da própria legenda petista. Sabe-se que integrantes da ala mais à esquerda têm mantido contato direto com o presidente nacional, José Genoíno, efetuando pesado questionamento acerca dos danos que tal nomeação irá causar à imagem da agremiação. O caso veiculado pelo jornal paulista aconteceu em agosto de 1996, quando o senador Jucá Filho e o ex-governador nomeado do extinto território federal de Roraima Getúlio Cruz apresentaram ao Basa sete fazendas localizadas no interior do Amazonas como garantia de empréstimo que hoje atinge 18 milhões de reais! O cartório de Ipixuna (AM), onde existiria o registro dos imóveis, afirma que "tudo aquilo é fictício e não se tem nada de concreto". O cartorário da pequena cidade de 17 mil habitantes, localizada às margens do rio Juruá, afirmou não entender como transação de tal envergadura pode ser feita assim com papéis "comprovadamente falsos", sem qualquer sustentação. Desde setembro do ano passado que o Basa tenta localizar e penhorar as propriedades no Amazonas, a fim de levá-las a leilão. Elas somariam 56 mil e cem hectares, tendo sido avaliadas em dois milhões e 690 mil reais. O nome do suposto proprietário é o cearense Luiz Carlos Fernandes de Oliveira que continua insistindo na existência das terras. O caso Jucá Filho traz à lembrança outro fato ainda recente e que levou à derrocada de político de projeção nacional: Jader Barbalho (PMDB-PA). Quando resolveu disputar a Presidência do Senado, Jader foi aconselhado por muitos que lhe eram próximos a desistir da empreitada, em função da grande exposição que iria acontecer. Tudo em vão! Envolvido em inacreditáveis falcatruas, inclusive a construção fictícia de um ranário no interior do Pará, com financiamento também do Basa, o senador foi obrigado a renunciar à Presidência da Casa e, mais tarde, ao próprio mandato (2001), para não ser cassado e não ter seus direitos políticos suspensos. Em 2006, com a impunidade que se tornou praxe e regra no nosso país, ele se elegeu deputado federal e continua a elaborar leis e ditar normas (como se nada tivesse acontecido), apesar de viver em regime de quase clandestinidade, esquivando-se da mídia. Pessoas mais próximas do senador Jucá Filho lhe têm aconselhado a seguir o mesmo caminho. Se renunciar ao posto ministerial, poderá ficar mais tranqüilo, pois iria ser unicamente mais um, entre tantos acusados de desvios e prevaricação, sem correr o risco de ser incomodado constantemente pela mídia. Se insistir em permanecer à frente da Previdência, o senador poderá observar o crescimento de manifestações contrárias, patrocinadas por entidades que desejam o restabelecimento da ética e dos bons costrumes na vida pública. O PT está com mais uma mancha na sua bandeira. E-mail: [email protected]