- 19 de novembro de 2024
DO ENVIADO ESPECIAL A IPIXUNA Em Ipixuna, a notícia da suposta existência de quatro fazendas na região, nas dimensões apresentadas em 96 ao Basa (Banco da Amazônia) pelo ministro da Previdência, Romero Jucá, causou indignação nos fazendeiros que há mais de 30 anos exploram a região. "É uma farsa muito grande, faz tempo que a gente trabalha e aparece isso agora", diz Carlos Keven Inácio de Oliveira, 22, cujo pai, Antônio Moura, 66, cria 80 cabeças de gado à margem da estrada José de Lemos, endereço citado nas quatro matrículas. A história começou a circular entre os 17 mil habitantes da cidade no ano passado. Os fazendeiros dizem que um oficial de Justiça da comarca de Eirunepé esteve por lá, fazendo as mesmas perguntas que, em setembro, foram repetidas pela equipe do Basa que foi tentar penhorar as propriedades dadas como garantia do empréstimo bancário feito em Boa Vista. As respostas foram as mesmas. Pelas contas dos fazendeiros, se houvesse propriedades com 42 mil hectares ao todo, nenhuma outra fazenda restaria em Ipixuna. O suposto latifúndio invadiria a terra indígena kulina. Os sitiantes à margem da estrada José de Lemos exibiram os títulos de posse emitidos em anos diferentes pelo Incra. Com exceção de uma, apontada como localizada no quilômetro cinco, as matrículas levadas à hipoteca dizem genericamente "à margem direita" ou "à margem esquerda" da estrada José de Lemos, um trecho de 12 km de puro barro, às vezes intransitável até para o gado. Com a história das fazendas fantasmas, surgiu o boato de que o ex-prefeito Eliéso Herculano Lima (PMDB) teria emitido as escrituras em favor do suposto fazendeiro Luiz Carlos Fernandes de Oliveira. Uma das escrituras emitidas a pedido da Folha pelo cartório de Eirunepé aponta que o "título definitivo" da fazenda Cristina, de 2.000 hectares, uma das hipotecadas, teria sido emitido em 2 de abril de 1989 pelo ex-prefeito. Herculano Lima, 66, contudo, apresentou um documento que reforça sua tese de que também é uma vítima da fraude, por terem falsificado sua assinatura. Ele deixou o cargo em 1987. "Todos os títulos que emiti não passavam de 12 hectares, autorizados pela Câmara Municipal. Nunca emiti nada de 2.000 hectares." (RV)