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SENHOR REI MANDOU DIZER... - Márcio Accioly


De maneira que fica o feito pelo não feito e o que se faz não resolve nada, pois os problemas se avolumam e o que conta é mandar dinheiro para o FMI, através do superávit primário e das taxas de juros extorsivas que asfixiam a nação inteira. Ainda bem que o novo ministro da Previdência, senador Romero Jucá Filho (PMDB-RR), não está aí para brincadeira: anunciou que vai lutar contra a fraude, a sonegação e a roubalheira.


Abrem-se os jornais e as análises acerca de malfadada reforma ministerial apontam perdedores dos mais diversos: desde o presidente Dom Luiz Inácio, passando pelo senador José Sarney (PMDB-AP), o presidente da Câmara, deputado federal Severino Cavalcanti (PP-PE), o ex-presidente João Paulo Cunha (PT-SP), até alcançar figuras médias e de porte menor. Na realidade, existe um só e único perdedor, o Brasil. O desfecho da reforma que não houve exibe um país prisioneiro de contradições e contido na vocação de grandeza. Manietado na corrupção desenfreada e no analfabetismo que se torna marca registrada. País no qual os facínoras se organizam em conluio para assaltarem os cofres públicos, protegidos por brechas da legislação que grande parte dos próprios se encarrega de produzir. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) exibe sorriso vitorioso. Ex-membro da tropa de choque do ex-presidente Collor (1990-92), a quem chamava de "príncipe da corrupção", pontificou agora na contenda travada com o deputado Severino, na disputa por espaço na mídia. Renan quer ser presidente da República, valha-nos Deus! João Paulo Cunha, que exigia a Coordenação Política (hoje nas mãos de Aldo Rebelo), ainda não descobriu que a bola murchou e que as aspirações políticas majoritárias despencaram há algum tempo. Entraram em declínio a partir do instante em que, na condição de presidente da Câmara dos Deputados, autorizou a entrada da Polícia Militar do Distrito Federal no recinto daquela Casa para reprimir manifestantes contrários à reforma da Previdência. Nem mesmo no período mais duro do regime militar (1964-85) aconteceu invasão semelhante. Depois de perceber a intensa repercussão negativa do episódio, o parlamentar tentou minimizar o efeito, chorando diante das câmeras televisivas, mas o estrago foi devastador. Muito maior do que o esperado. Mas ainda viria mais. Entre outros episódios de menor grandeza, João Paulo censurou uma das edições do Jornal da Câmara, por este ter noticiado que o então primeiro-vice-presidente da Casa, Inocêncio Oliveira (PFL-PE), havia sido condenado em primeira instância sob a acusação de permitir trabalho escravo em uma de suas fazendas no Maranhão. Hoje, Inocêncio passou para o PMDB e é primeiro-secretário da Câmara. Seu recurso ainda será julgado. Com relação a Zé Dirceu (Casa Civil), todos os compromissos que assumiu no decorrer da reforma que não aconteceu foram desmentidos e negados por Dom Luiz Inácio. Se o protetor de Waldomiro Diniz tivesse noção do que é vergonha, pediria o boné e cairia fora. Seu descrédito é denso, formando espécie de nevoeiro em torno de sua figura. Já o senador José Sarney ficou com a cara no chão. Depois da garantia de um Ministério para a filha, senadora Roseana Sarney (PFL-MA), a qual se dispôs, inclusive, a trocar de partido para engrossar a cota do PMDB, teve de se contentar com o que tem e que de forma nenhuma pode ser considerado pouco. A família continuará se esforçando e trabalhando muito, para o bem do Brasil. De maneira que fica o feito pelo não feito e o que se faz não resolve nada, pois os problemas se avolumam e o que conta é mandar dinheiro para o FMI, através do superávit primário e das taxas de juros extorsivas que asfixiam a nação inteira. Ainda bem que o novo ministro da Previdência, senador Romero Jucá Filho (PMDB-RR), não está aí para brincadeira: anunciou que vai lutar contra a fraude, a sonegação e a roubalheira. Email: [email protected]

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