- 19 de novembro de 2024
Comércio internacional e turismo. Esses são, segundo o deputado Raul Lima (PSDB), os caminhos primordiais ao crescimento sólido e continuado da economia de Roraima, reconhecendo a importância do fortalecimento do agronegócio como um dos pilares a transformação do Estado, que continua vivendo um processo econômico minguado, motivado quase que exclusivamente pelo poder público. Primeiro-secretário da Assembléia Legislativa e Presidente da Câmara Brasil/Venezuela de Turismo, Raul encampou uma batalha na defesa da desburocratização das relações comerciais e diplomáticas entre brasileiros e venezuelanos. Os dois países precisam resolver problemas internos e formalizar acordos a partir das necessidades e entreves verificados na área de fronteira. Ele defende que Roraima participe efetivamente das discussões. Essa cobrança foi apresentada ao general Júlio José Garcia Montoya, embaixador da Venezuela no Brasil, em audiência na semana passada em Brasília. Ambos estão conscientes que os entraves fronteiriços têm que ser superados com rapidez. Outro tópico defendido por Raul é a implantação da área de livre comércio em Pacaraima. O deputado cobrou agilização ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio e à Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). Para ele, o maior intercâmbio comercial entre os dois países são benéficos ao desenvolvimento econômico e social de Roraima. Quais são os principais entraves encontrados pelos comerciantes brasileiros que precisam utilizar com freqüência a BR-174 e ultrapassar a fronteira até Venezuela? RAUL - Existem muitos, porém nem todos são problemas criados pelos venezuelanos. Desde horários, diferenças culturais, a linguagem, as diferentes legislações. O problema maior não é a burocracia, mais sim as diferenças culturais. Nem tudo que se faz aqui é aceito lá, e vice-versa. Parece que não existe uma aduana constante por lá, ou seja, é preciso aguardar dias para que se realize o processo de entrada de mercadorias do Brasil na Venezuela. Essa informação é correta? Nada mais distante da verdade. Existe uma Aduana com pessoal altamente preparado, que não abre 24 horas, por que o Brasil fecha. Faltam funcionários em ambos países, mais o que realmente falta é a sincronização de informação e o trabalho em equipe com o fim único de facilitar o trânsito de cidadãos entre os dois países. Algumas empresas do Pólo Industrial de Manaus (PIM) não utilizam a BR-174 para escoar seus produtos para os países da América Central e do Norte, devido a demora junto a fronteira Brasil/Venezuela para a liberação da mercadoria, preferindo percorrer outros caminhos, que parece ser inviável, mais que no final das contas, a mercadoria acaba chegando ao destino em menos dias. O que o senhor acha disso? É difícil de admitir, mas existem problemas pontuais que devemos esclarecer que criam este falso sentimento de organização na fronteira. A Venezuela mudou muito, porém continuamos acreditando que alguma coisa que aconteceu na região, quando o Brasil e a Venezuela se encontravam de costa, e o que acontece hoje. Por exemplo, era rotineiro os motoristas de caminhões brasileiros falarem para os donos da carga que estava acontecendo algum problema, simplesmente para ficar transportando combustíveis de forma irregular na fronteira, como também já aconteceu que o pessoal da agricultura no Brasil não aparecia para liberar a exportação da madeira. Da mesma forma quando o importador venezuelano não paga os impostos, o caminhão após entrar na Venezuela não será liberado antecipadamente como e de praxe aqui no Brasil. Todos estes temas são discutidos rotineiramente por grupos de trabalho. E Se não tivesse tanto entrave no local? Primeiro, os entraves foram criados por todos nós, a partir do momento em que não entendemos a importância de ter do lado um grande mercado com mais de 24 milhões de pessoas que precisam comprar, viver, enfim, consumir. A Venezuela sempre foi vista por muitos como um problema, quando na realidade é a solução econômica para Roraima, já que facilita e cria a economia de escala necessária para justificar os investimentos agrícolas que hoje se apresentam no Estado. Sem dúvida, a geração de riquezas e o bem estar do povo trabalhador são nossas prioridades. Inclusive como você deve saber a própria Suframa não está instalada na fronteira. O que os Governos Federal e Estadual podem fazer para que o processo de exportação será acelerado na fronteira com a Venezuela? O presidente Lula está fazendo além do possível, tenho participado de varias reuniões em todo o país e também na Venezuela. Na pratica, precisamos que a Suframa se instale na fronteira e que realmente Pacaraima seja implantada como área de livre comércio, como foi decretado alguns anos atrás. Manter a fronteira aberta 24 horas e que pudéssemos carimbar os nossos passaporte depois das 6 horas da tarde, também ajudaria muito. O que as autoridades de Roraima estão fazendo com relação a esta questão? Roraima é um caso aparte. Apesar de estarmos tão perto, estamos tão longe. Tudo que e feito pelo governo federal é tratado diretamente Caracas-Brasília, e já houve reuniões onde simplesmente Roraima não foi convidado. As autoridades em Roraima estão mostrando que um país tão grande merece soluções diversas, e que apesar de grandes investimentos, precisamos resolver ainda muitos pequenos problemas. A madeira é o principal produto exportado por Roraima, sendo responsável por cerca de 70% das exportações, tendo como grande comprador a Venezuela. Na sua opinião, se não houvesse tanta burocracia na aduana, as exportações poderiam ser incrementadas? A Burocracia começa em casa. Roraima esta como a Palestina, não tem terra. Sem o titulo definitivo a madeira não pode ser explorada. Inclusive existe um caso especial na lei, onde a própria lei não permite a exploração e o colono se vê obrigado a queimar para abrir os campos. As maiorias das madeireiras estão paradas por falta de produto por que o Ibama criou diversos sistemas que anularam o potencial de esta industria. Depois vem todos aqueles detalhes, inclusive o acordo de transporte que não permite que carretas e ônibus venezuelanos entre no Brasil, quando o oposto na e verdadeiro. Quando foi inaugurado o escritório de apoio ao exportador, qual o motivo principal e a sua relação com ele? Participei do grupo que estudo a implantação do escritório de apoio ao exportador, a idéia iniciou procurando uns sistemas de sincronização para os dois paises, no Brasil não fizeram nada, os venezuelanos aproveitaram a idéia e esta funcionando de forma informal há um ano. Formalmente há seis meses. Meu relacionamento com o escritório foi apenas ideológico, era uma dos tantos itens que foram discutidos nos diversos encontros empresariais e políticos dos quais participei. Se já funciona, quais são as vantagens reais trazidas ao Brasil. Existe alguma estatística de crescimento nas exportações devido ao funcionamento do escritório? O importador brasileiro tem o apoio técnico e financeiro para realizar importações da Venezuela para o Brasil. O Brasil historicamente vendia e a Venezuela comprava, agora a situação está mudando. Qual a freqüência de procura do escritório para o desembaraço das mercadorias? Qualquer empresa que utiliza a BR-174 pode procurar o escritório? Qualquer pessoa que queira comprar na Venezuela, será orientada. Porem isso não significa que o importador não terá problemas no seu pais de origem caso ele não tenha um profundo conhecimento da legislação vigente no nosso pais. Com relação ao encontro Interinstitucional Brasil/Venezuela realizado em Boa Vista. Quando aconteceu e o que foi acrescentado com este encontro para o desenvolvimento dos dois países? Eu comparo cada encontro com um passo que faz parte de uma longa caminhada, e foi está corrida, algumas vezes lenta e outras rápidas em subida e decidas, que permitiu a evolução das relações entre os dois países, queria muito que está entrevista fosse em Roraima, te contaria cada mal entendido, tanto culturais ou da língua que foram resolvidas por conta destes encontros. O senhor aponta na Venezuela o maior entrave é a morosidade e o excesso de burocracia na Aduana. E com relação ao Brasil, existe tanta burocracia para os produtos de lá entrarem no nosso País? Como te falei, já foi pior, estamos evoluindo e a morosidade está diminuindo. Em relação, ao Brasil necessitamos sentar e discutir. Temos que seguir o exemplo venezuelano. O caminho para o desenvolvimento econômico é o comércio internacional e o turismo, são as bandeiras a serem levantadas neste momento de união da América Latina em um mundo globalizado, por tanto continuaremos a investir no relacionamento fronteiriço para que todos possamos usufruir e lucrar com este intercâmbio econômico e cultural.