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Sonho Empreendedor

Pequeno produtor de alimentos orgânicos aposta em solo pobre na fronteira Norte.


Produtor lucra R$ 800 mil/ano
 
Visando melhor qualidade de vida com alimentação saudável e preservação do meio ambiente, a empresa Trigenros trabalha no mercado roraimense de produção de alimentos orgânicos e exporta produtos para a Venezuela. A propriedade da empresa familiar “Sitio Vale Verde” está localizada no Município de Pacaraima, extremo Norte do Brasil, e possui apenas 180 hectares de terra, com 170 deles destinados à preservação ambiental. Dos 10 hectares restantes, seis hectares são utilizados para a criação de animais e o que sobra, quatro hectares (aproximadamente 3% da terra), fica para a produção de hortaliças. 
 
Fechou 2012 com lucro de R$ 700 mil. Contabilizando o trabalho de 2013, o produtor gaúcho que veio para Roraima em 1983, encerra as atividades produtivas com arrecadação de R$ 800 mil. Para o ano da Copa do Mundo - 2014, pretende investir em tecnologias, aumentar a rentabilidade e ganhar o primeiro milhão, chegar a pouco mais de R$ 1,2 milhão.
 
O micro clima do município de Pacaraima contribuiu como ponto positivo para produção dos alimentos orgânicos, onde a temperatura varia entre os 24º e 28º C, tornando-a também cidade turística. Entretanto a mesma cidade que possui clima diferenciado do estado, apresenta baixos índices de produtividade do solo e área de apenas 8.028,483 km² de extensão. Um dos pontos negativos para quem vai produzir hortaliças naquela localidade, que possuiu pouco mais de 10 mil habitantes (Senso IBGE/2010), é a dificuldade encontrada pela distância do centro consumidor, Boa Vista (Capital de Roraima) que fica a 200 km. Outro agravante cultural e territorial é a insegurança jurídica, pois está localizado dentro da Reserva Indígena de São Marcos, homologada pelo Governo Federal em 2005.
 
Logo que chegou ao estado, produziu de maneira convencional com uso de defensivos e a história corriqueira de plantar e colher para subsistência. Frustrou-se quando enviou amostra do solo da propriedade ao Instituto Agronômico de Campinas (IAC) que o diagnosticou como solo impróprio para plantio, pois tinha alto teor de alumínio e o PH muito baixo. Diante de todos os presságios negativos, Macuglia, teimoso, não se furtou do sonho dos hortifrutigranjeiros saudáveis e até então não tinha nenhuma experiência desse tipo de plantio.
 
“Não tive dúvidas que aquele era o lugar próprio para plantar e criar animais, devido a altitude e o clima bem distribuído em relação ao período de chuvas”, disse.
 
No início a família começou a investir em tecnologia de plantio e irrigação (aspersão convencional e gotejamento). Mesmo sem experiência continuaram a testar produtos naturais já ensaiando a mudança para a produção de alimentos mais saudáveis.
 
“Inicialmente cuidamos de preparação dos compostos, adubos líquidos, manejo do solo, controle de pragas e fungos, com o uso de preparados caseiros para afastar os insetos, como extrato de urtiga, extrato de tabaco, alho, pimentas, cobre, cal, enxofre, isca de derivados de cerveja, leite e timbó (raízes que possuem seiva tóxica). Testamos tudo para alcançar resultados e não usar produtos químicos. Deu certo”, comemorou.
 
As técnicas foram evoluindo e outras tecnologias começaram a ser aplicadas como coberturas mortas, aproveitamento de resto de vegetais, papelão, sombrites, capim e o uso da plasticultura.
 
Produtor não desistiu 
 
“Fizemos também consórcio de cultura, rotação de plantios e aproveitamento dos materiais oriundos da limpeza do terreno para compostagem. Outro passo importante foi buscar informações com produtores de outras regiões do país, e nisso, o Sebrae/RR (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) teve papel fundamental para a nossa capacitação no processo dos orgânicos. Importante também foi o uso correto da água com mais respeito a natureza”, disse.
 
Família que trabalha unida, ganha direito unida. No empreendimento, todo mundo tem as atividades definidas: Macuglia cuida da produção geral; o senhor Masahiro Sotodate (cunhado), administra o financeiro e a comercialização dos produtos; já o Jairo Paixão (outro cunhado), cuida da construção, irrigação e equipamentos. Ao final, a mulher de Macuglia, a dona Marelize – juntamente com outras pessoas - vai à feira vender os produtos e ainda, como boa dona de casa que é, cuida da administração da propriedade.
 
Em comparação ao preço dos produtos, um pé de tomate produzido chega a valer 40% menos do custo do industrializado. Segundo o produtor rural, o chuchu, o mais vendido, chega a custar apenas R$ 1,50. Se fosse por vias industriais a mesma hortaliça custaria R$ 3,50.
 
Comércio
 
Porém não foi tão fácil alcançar o sucesso esperado. Eles cumpriram rotina com dedicação durante quase 30 anos para conquistar o mercado. Todas as terças feiras, lá vinha o caminhão descendo a Serra de Pacaraima rumo às vendas e distribuição dos produtos na cidade. Na sexta-feira e sábado, outro compromisso, entregar na Feira do Produtor, das 6h às 12h. Quem comprava e quem compra até hoje os produtos? Quem deseja qualidade de vida, segurança alimentar, sem uso de adubo químico e agrotóxico. Como hoje só se fala em alimentos saudáveis e geração saúde, eles aproveitaram o mercado e se deram bem.
 
“Os orgânicos têm muita saída no próprio município de Pacaraima. O Segundo maior mercado consumidor fica na Capital Boa Vista que compra boa parte. Já temos outros clientes do outro lado da fronteira, na Venezuela que compram nossas hortaliças”, confirmou Macuglia.
 
Hoje passados muitos aperreios, as revendas são feitas pelas empresas Uniagro Propical Buritis, Supermercados Freire, Supermercado DB (Com matriz em Manaus e filial em Boa Vista), Pátio das Frutas e, ainda, em duas feiras: São Francisco e Feira do Produtor – locais onde enfrenta a concorrência dos outros produtos cultivados em escala. Para ele, o maior concorrente da empresa é a demanda que aumenta cada dia e a produção não consegue atender os pedidos.
 
Se tivesse acreditado nas pesquisas e não fosse tão otimista, a Trigenros não empregaria hoje 22 funcionários registrados na carteira e não teria a produção de hortifrutigranjeiros como carro chefe. A propriedade destina seis hectares à criação de pequenos animais (para produção de adubo orgânico de esterco) e assim eles não compram nenhum insumo de fora, quase tudo é produzido e aproveitado da propriedade, como esterco de bovinos, resíduos da feira do pescado e restos de vegetais. Outro diferencial, a família utiliza defensivos naturais para combater as pragas oportunistas, por incrível que pareça, apenas água, sabão e compostos naturais misturados. E para o futuro pretende aumentar ainda mais o número de produtos orgânicos no mercado. 
 
Os orgânicos são in natura e a venda é feita direta ao consumidor, inclusive a revenda. A demanda mensal é de aproximadamente 24 a 30 toneladas. Dentre os produtos mais vendidos estão: o chuchu, alface americana, couve-flor, brócolis e vagem. Segundo o empresário rural, as hortaliças têm ótima aceitação e são vistas como referência na produção orgânica em Roraima, entretanto acredita que precisa aumentar o plantio.
 
Sucesso dos produtos
 
Para vender mais, o produtor aposta na principal característica diferencial dos produtos da empresa Trigenros. Primeiro ser totalmente orgânico. Segundo, vender em caixas bem lacradas e higienizadas. Terceiro, não descartar nenhum tipo de venda, até mesmo as do varejo e por unidade de legumes – ocorre quando alguém vai direto visitar a produção, algo que considera marketing espontâneo, a maior propaganda do sítio. Ele disse que as cores verdinhas dos produtos agradam o consumidor, mas para vender mais é necessário melhorar o visual das embalagens, questão que considera primordial e será o próximo investimento.
 
Falta o Marketing
 
E por este viés, a Trigenros já entendeu que outro fator primordial para o crescimento é investir na publicidade e propaganda, apesar da empresa nunca ter feito isso. Ela não tem ainda planejamento adequado de vendas, até agora só investiu em banners e fotografias em alta resolução, usadas em palestras e cursos onde a empresa é convidada a contar o caso de sucesso.
 
Outra forma de divulgar são as visitas das escolas, universidades estadual e federal, além dos estágios oferecidos para alunos venezuelanos. Mas, o diferencial neste contexto de divulgação é a Semana de Orgânicos promovida todo ano pelo Sebrae em Roraima, que recebe centenas de visitantes e descentraliza a programação em outros centros de produção no Estado, tornando a empresa Trigenros a mais reconhecida e lucrativa no mercado roraimense neste segmento.

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