Índios protegidos pelo Exército
Um grupo de madeireiros e fazendeiros ateou fogo em casas localizadas em uma aldeia indígena situada na área do município de Manicoré, no Sul do Amazonas, no início da tarde desta sexta-feira (27), segundo a Polícia Militar (PM). A informação é de que moradores da cidade de Apuí e do distrito de Santo Antônio de Matupi invadiram a área e depredaram barreiras de pedágio na BR-230 (Rodovia Transamazônica).
O conflito na área se agravou na terça-feira (24), quando moradores de Apuí e de Humaitá queimaram bens da Fundação Nacional do Índio (Funai) e Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
De acordo com o tenente-coronel Everton Cruz, da PM, as aldeias localizadas na altura do km 130 da Rodovia Transamazônica foram invadidas por volta de 12h. Segundo a PM, naquela região, há pelo menos quatro etnias indígenas, entre elas a Tenharim. Mais de 800 indígenas habitam a área invadida.
Cruz informou ainda que o grupo que invadiu o local é formado por madeireiros, fazendeiros e moradores de Apuí e do Distrito de Santo Antonio do Matupi, situado no quilômetro 180 da Rodovia Transamazônica, em Manicoré.
Ainda segundo informações do tenente-coronel, a operação na região ainda não dispõe de helicópteros. "Não há informações precisas sobre o que está acontecendo no local. Deslocamos, por via terrestre, uma tropa do Comando de Policiamento Especializado (CPE) para conter os ataques, enquanto aguardamos ajuda do governo federal", disse o tenente-coronel.
No AM, PF faz buscas por pessoas desaparecidas na Transamazônica
PF reforça buscas em reserva indígena situada na divisa de RO e AM.
Segundo a Polícia Militar, a operação conta com policiais do CPE, Comando de Policiamento do Interior (CPI), e do 4º Batalhão da Polícia Militar.
Invasão
Os ataques às aldeias dividem os moradores na região do Sul do Amazonas. Desde o início da manhã desta sexta, um grupo ameaçava invadir as aldeias. Os comboios seguiam de Apuí para o distrito de Santo Antônio do Matupi, região do conflito. Moradores dos dois municípios tentavam se entender, mas o acordo não aconteceu, porque um grupo mantinha acampamento nos limites das terras indígenas, distante 30 km da comunidade.
O objetivo do acampamento, segundo o grupo, era proteger as comunidades agrícolas de um ataque indígena. Algumas pessoas chegaram a ir ao local para levar o grupo de volta para a comunidade, onde o grupo maior estava reunido, mas não obtiveram sucesso. O grupo seguiu para a reserva indígena e destruiu a chave da rede elétrica da área, deixando a comunidade sem fornecimento de energia.
O presidente da Associação dos Madeireiros de Matupi disse que os moradores são contra a cobrança de pedágio no trecho que corta a reserva. "Nós não queremos mais os pedágios na área indígena, porque quando chega um carro e para, nós ficamos a mercê da vontade dos índios. Se eles tiveram qualquer situação para apresentar contra a gente, a hora oportuna é quando a gente está no carro. Aí, eles podem sequestrar, nos assassinar, nos torturar", declarou.
Em entrevista ao G1, o vice-presidente da Articulação dos Povos Indígenas de Rondônia (AIR), Marcos Apurinã, confirmou que a cobrança de pedágio por parte dos índios não é legalizada. "Para nós indígenas, isso é legal, apesar de que não existir na Lei. A rodovia levou à degradação do meio ambiente, introdução do álcool nas aldeias, entre outros problemas. Esses danos não foram reparados e nós entendemos que deveríamos fazer a cobrança como forma de compensação. Cabe ao governo regularizar, caso contrário vai continuar morrendo índios e não-indígenas. E nós queremos a harmonia", disse.
Em uma reunião de emergência com os prefeitos de Apuí, Humaitá e Manicoré, a Polícia Federal se comprometeu a entrar na aldeia até o próximo sábado (28) para realizar buscas pelos homens que estão desaparecidos desde o dia 19 deste mês.
Região de conflito
O Sul do Amazonas é uma região marcada por conflitos agrários. A reserva indígena dos Tenharim é cortada pela Transamazônica e cercada por campos de pastagem.
Em março de 2012, a trabalhadora rural amazonense Dinhana Nink, de 28 anos, foi assassinada na madrugada em Nova Califórnia, Rondônia. O filho da vítima, de cinco anos, testemunhou o crime. Ela era natural de Lábrea, município a 610 km de Manaus, e estava na lista elaborada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) de pessoas ameaçadas de morte na Amazônia por conflitos agrários.