00:00:00
CRISE - PSDB leva Lula ao STF
A direção nacional do PSDB vai ingressar hoje no Supremo Tribunal Federal com uma interpelação contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o presidente dos tucanos, senador Eduardo Azeredo (MG), o partido quer que o STF exija esclarecimentos de Lula sobre as declarações, feitas quinta-feira, de que houve corrupção no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Luiz Carlos Azedo Da equipe do Correio Luiz Castro Silva Do Estado de Minas A direção nacional do PSDB vai ingressar hoje no Supremo Tribunal Federal com uma interpelação contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o presidente dos tucanos, senador Eduardo Azeredo (MG), o partido quer que o STF exija esclarecimentos de Lula sobre as declarações, feitas quinta-feira, de que houve corrupção no governo de Fernando Henrique Cardoso. Azeredo afirmou também que o PSDB não está intimidado pelas recentes afirmações do ministro José Dirceu, da Casa Civil, de que eventuais investigações abertas no Congresso sobre o governo Lula poderão resultar na descoberta de irregularidades nas privatizações realizadas durante a gestão de Fernando Henrique. O PSDB vai recorrer ao STF para não depender exclusivamente do Congresso, onde o governo parece protegido neste momento. Ontem, interlocutores do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), disseram que ele pretende arquivar o pedido de abertura de processo por crime de responsabilidade apresentado sexta-feira pelo líder da bancada tucana, Alberto Goldmann (PSDB-SP). Severino argumenta que não dá para fazer um cavalo de batalha em cima disso. Ele atribui boa parte da crise à disputa eleitoral de 2006, onde o governo do PT e o PSDB vão se enfrentar. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), trabalha também para acalmar os ânimos e, na terça-feira, pretende submeter à apreciação do colégio de líderes o requerimento do senador Jefferson Peres (PDT-AM), que pede a convocação do ministro José Dirceu para que explique as afirmações de Lula. Não vejo como desdobrar essas declarações em crise. É preciso fazer todo esforço para baixar a temperatura, completou Renan. Azeredo ressaltou que o PSDB teve a prudência de aguardar uma posição oficial de Lula, no sentido de esclarecer ou retratar-se do discurso que fez no Espírito Santo. Para os tucanos, as acusações do presidente sobre o governo anterior são da maior gravidade e não podem ficar ao calor de discursos políticos e eleitorais, que, segundo Eduardo Azeredo, tem se tornado rotina nas cerimônias oficiais em que Lula improvisa discursos. Na opinião do dirigente, a nota em que o PT tentou, no sábado, amenizar as declarações presidenciais, não acrescenta nada, muito menos quando diz que o PSDB faz uma interpretação forçada do discurso do presidente Lula. "Não se trata de interpretação, mas de ter ou não bons ouvidos, ironiza Azeredo. A retratação, "um reconhecimento de que errou", no seu entendimento não seria nenhum demérito para o presidente da República, mas um gesto de quem se preocupa com a situação política do país. Sobre a retaliação com que acenou sexta-feira o ministro José Dirceu dizendo que, em eventual investigação promovida pelo PSDB no Congresso "o feitiço pode virar contra o feiticeiro", Eduardo Azeredo diz que qualquer ameaça como esta não é um bom caminho. Até porque, completa, se suspeitas existem, têm de ser investigadas. "Pode também virar contra o próprio governo, pois no ano passado nós tivemos o caso do Waldomiro Diniz" (então assessor parlamentar de José Dirceu flagrado em gravação quando, em 2002, pedia propina a um empresário de jogos). A posição do PSDB sobre denúncias de corrupção, afirma o senador, é de apuração rigorosa. Azeredo considera declarações como as feitas por Lula uma grande ingratidão diante do apoio que o presidente tem recebido do partido, no Congresso, quando da votação de matérias do interesse do país. O tipo de oposição que temos feito é sensato, sereno, e se o governo caminhar para uma radicalização vai perder nosso apoio em momentos importantes, como tem tido. O presidente tem de ter a humildade de reconhecer isso. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, engrossou as pressões dos tucanos afirmando que o presidente Lula ainda deve explicações à opinião pública sobre o que disse. Perguntado ontem se faltou tato ao presidente, Alckmin afirmou que não. Mas falta explicação, se o que foi dito não é verdade. Agora, se há indícios de corrupção, cabe ao governo apurar, acrescentou. Segundo Alckmin, vivemos com base no espírito republicano, onde não existem meias verdades. A sociedade aguarda explicações públicas. O deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE), ministro da Reforma Agrária do governo FHC, anunciou que entrará hoje com uma representação junto à Procuradoria-Geral da República, "porque os fatos narrados pelo presidente Lula são muito graves e precisam ser rigorosamente apurados". Para Jungmann, o Ministério Público Federal deve investigar a denúncia. "Como ministro do governo passado, me sinto agredido e não poderia tomar outra posição", disse. MENOR E MAIOR, O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), afirmou ontem, em discurso a agricultores no Rio Grande do Sul, que discorda do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, em relação aos aumentos da taxa de juros. O nosso ministro Palocci não é grande quando faz o aumento dos juros, aí eu discordo totalmente. Ele é o menor de todos. Após o pronunciamento, quando questionado sobre sua crítica ao ministro, Severino não confirmou o que dissera no palanque. Eu não disse isso. Ele é o maior dos ministros, mas se ficar contra o Rio Grande do Sul, ele é o menor dos ministros.
COMENTÁRIOS