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OSCAR - Celebração de medalhões

Um duelo dos veteranos Clint Eastwood e Martin Scorsese obscureceu a previsibilidade da festa do Oscar - que, depois de sucessivas edições calcadas em barbadas e franco favoritos, descamba para um terreno movediço. Na 77ª cerimônia da indústria hollywoodiana, que será transmitida hoje pela Rede Globo e pelo canal TNT, o Brasil pode até se sentir representado, mas de forma indireta. Seis anos depois de concorrer a melhor filme estrangeiro por Central do Brasil, Walter Salles retorna à premiação da Academia com Diários de motocicleta, que disputa nas categorias de canção original (para Al otro lado del río, do uruguaio Jorge Drexler) e roteiro adaptado - para o porto-riquenho José Rivera, inspirado nas memórias dos jovens Che Guevara e Alberto Granado.

Ricardo Daehn e Tiago Faria Da equipe do Correio Um duelo dos veteranos Clint Eastwood e Martin Scorsese obscureceu a previsibilidade da festa do Oscar - que, depois de sucessivas edições calcadas em barbadas e franco favoritos, descamba para um terreno movediço. Na 77ª cerimônia da indústria hollywoodiana, que será transmitida hoje pela Rede Globo e pelo canal TNT, o Brasil pode até se sentir representado, mas de forma indireta. Seis anos depois de concorrer a melhor filme estrangeiro por Central do Brasil, Walter Salles retorna à premiação da Academia com Diários de motocicleta, que disputa nas categorias de canção original (para Al otro lado del río, do uruguaio Jorge Drexler) e roteiro adaptado - para o porto-riquenho José Rivera, inspirado nas memórias dos jovens Che Guevara e Alberto Granado. Pelo segundo ano consecutivo, um filme de um diretor brasileiro briga por Oscar em categorias que vão além do nicho dedicado às obras faladas em língua não-inglesa. Apesar de não ter participação brasileira entre os estúdios produtores e ser falado em espanhol, Diários de motocicleta repete o feito de Cidade de Deus ao conseguir indicações em categorias técnicas - ainda que Salles não tenha repetido o prestígio de Fernando Meirelles ao ficar de fora da concorrência para melhor diretor do ano. Outra vez, o Brasil deve assistir ao desfile de atores, atrizes e diretores da arquibancada. Além de expurgado da lista final para melhor filme estrangeiro, pela pré-candidatura de Olga, há poucas chances de vitória para Diários, principalmente na categoria de roteiro, em que compete com Sideways - Entre umas e outras e Menina de ouro. Já a canção de Drexler pode se destacar em uma seleção sem adversários fortes. Já na madrugada brasileira, o tema de Diários de motocicleta será interpretado no palco do Kodak Theatre, em Los Angeles, pelo ator espanhol Antonio Banderas e pelo guitarrista mexicano Carlos Santana. O momento de homenagem à latinidad musical - na categoria de melhor atriz, pelo trabalho em Maria cheia de graça, a colombiana Catalina Sandino Moreno também firma o prestígio da América do Sul - será um dos poucos intervalos para uma cerimônia com competição mais acirrada que o habitual. Quem promete tranqüilidade nas cadeiras do teatro é a dobradinha Jamie Foxx e Clint Eastwood, que apontam certo favoritismo, uma vez que cada um tem dupla indicação. Concorrente a ator coadjuvante por Colateral, Foxx ainda ostenta a comodidade de encabeçar a cinebiografia Ray, sobre Ray Charles. As biografias, por sinal, tiveram reconhecimento forte nesta edição, com O aviador e Em busca da Terra do Nunca candidatos a melhor filme. Perfil adulto Depois de sucessivas indicações para fitas com apelo juvenil e fantasioso (caso da trilogia O senhor dos anéis), as escolhas deste ano assentam um perfil mais adulto, comportado em orçamentos modestos. À exceção da superprodução O aviador, sobre o magnata e empreendedor Howard Hughes, com o avantajado custo de US$ 116 milhões. A estratégia minimizou a coleta de lucros nas bilheterias, ao menos às vésperas da premiação. Dos cinco finalistas, nenhum ultrapassou a arrecadação dos US$ 90 milhões. No novo cenário de competidores, Menina de ouro -concorrente direto de O aviador - traz cifras modestas: custou US$ 30 milhões e, nos Estados Unidos, rendeu até agora o dobro. Entre as maiores mudanças na cerimônia estão artimanhas da produção para agilizar o espetáculo. Alguns troféus, por exemplo, serão levados diretamente à poltrona do vencedor, enquanto a convocação ao palco, indicado-a-indicado, deve trazer certo constrangimento aos derrotados. A estréia na apresentação do politicamente incorreto comediante Chris Rock promete quebra de protocolo. Expectativas maiores, com relação à premiação, se concentram particularmente no segmento das interpretações. As categorias de coadjuvantes tradicionalmente garantem resultados mais inusitados. Este ano, tanto Morgan Freeman (Menina de ouro) quanto Clive Owen (Closer) podem chamar a atenção entre os atores - enquanto que, na disputa entre artizes, Cate Blanchett (O aviador), Virginia Madsen (Sideways) e Natalie Portman (Closer) têm chances iguais de vitória. Entre as produções estrangeiras, o espanhol Mar adentro, de Alejandro Amenábar, é o que provoca maior repercussão - e, ao retratar um personagem que luta pelo direito de morrer, periga causar manifestações de grupos conservadores no tapete vermelho. Ainda que o clima previsto para o Oscar deste ano substitua qualquer traço de paranóia por um outro ambiente: de uma amistosa celebração de medalhões de Hollywood. OSCAR 2005 Cerimônia de entrega de prêmios da 77ª edição da festa da Academia de Hollywood. Hoje, às 23h, com transmissão ao vivo da Rede Globo e do canal pago TNT. -------------------------------------------------------------------------------- As chances de cada um Cotações ***** favorito **** tem boas chances *** alguma chance ** poucas chances * azarão Filme O aviador **** Além de acumular o Globo de Ouro de melhor filme dramático e o prêmio do sindicato de produtores, que costumam servir de prévias para o Oscar, o filme de Scorsese alia duas características valorizadas pela Academia: produção pomposa e a mão firme de um cineasta de respeito. Ainda assim, perdeu força nas últimas semanas, e chegou a ser rotulado de "frio" por muitos. Em busca da Terra do Nunca *** É o típico melodrama que costuma conquistar a simpatia da Academia. O retrato dos bastidores de uma montagem teatral já rendeu um Oscar de melhor filme para a mesma Miramax, com Shakespeare apaixonado. A divisão de votos entre O aviador e Menina de ouro pode beneficiar o filme, que não foi indicado a melhor diretor (Marc Forster) e, por isso, tem pose de azarão. Menina de ouro ***** Sem campanha prévia para o Oscar, prática comum em Hollywood, o filme se transformou em favorito poucas semanas antes da festa, movido pela boa acolhida do público e pela vitória de Eastwood no prêmio do sindicato de diretores. Não tem o histórico de prêmios de O aviador, e provoca polêmica por causa de uma reviravolta na trama. Mas, para muitos críticos norte-americanos, é a melhor obra do cineasta. Ray * A indicação surpreendeu quem esperava a inclusão de Closer, Hotel Rwanda ou até O fantasma da ópera entre os concorrentes. Mas o filme de Taylor Hackford conquistou a Academia graças ao grande apelo de público, à performance de Jamie Foxx e à lembrança de uma figura popular querida. Os produtores esperavam clima de "corrente pra frente" às vésperas da premiação. Mas estar entre os indicados, no caso, é o grande prêmio. Sideways - Entre umas e outras ** Não é de hoje que o Oscar faz o possível para valorizar produções pequenas e elogiadas pela crítica. Ano passado foi a vez de Encontros e desencontros, de Sofia Coppola. Porém, mesmo mascote de nove entre dez críticos norte-americanos, o filme de Payne tem chances reduzidas na categoria e, se a sina das obras pequenas continuar, pode se destacar em prêmio de roteiro. -------------------------------------------------------------------------------- Diretor Alexander Payne (Sideways) *** Em uma batalha de gigantes, Payne é lembrado pela primeira vez como representante do ascendente cinema indie norte-americano. A indicação já funciona como sinal de prestígio para o diretor de As confissões de Schmidt e Eleição. Clint Eastwood (Menina de ouro) **** Pela lógica dos prêmios que servem de prévia do Oscar, Eastwood sai na frente. Venceu o Globo de Ouro e foi eleito melhor do ano pelo sindicato de diretores. Já venceu antes, por Os imperdoáveis, o que pode embaçar um pouco o favoritismo. Martin Scorsese (O aviador) ***** Poucos cineastas merecem tanto um Oscar quanto Martin Scorsese, injustiçado quatro vezes pela Academia nesta categoria. A ânsia de corrigir erros históricos vai pesar na hora da escolha, e será exagero esquecer do diretor mais uma vez. Mike Leigh (Vera Drake) ** O diretor inglês é acompanhado de perto pela Academia desde os tempos de Segredos e mentiras (1996). Desta vez, a lembrança pelo estudo de personagem Vera Drake só parece servir para incluir entre os candidatos uma produção estrangeira - e valorizar o cinema inglês. Taylor Hackford (Ray) * Conhecido do público por sucessos como O advogado do diabo e por fracassos como Prova de vida, além de ter produzido La Bamba, Hackford é o grande azarão da categoria. Assim, ganha a recompensa pelo esforço do trabalho de 15 anos para filmar a vida de Ray Charles. -------------------------------------------------------------------------------- Ator Clint Eastwood (Menina de ouro) **** Que a Academia reconheça o valor da direção de Eastwood, não é novidade. Mas é a primeira vez que lembra o trabalho de interpretação, com uma das melhores performances do ator. Pode ser uma das grandes surpresas da noite. Don Cheadle (Hotel Rwanda) * No papel de um gerente de hotel que abriga sobreviventes de conflito africano, Cheadle ganhou papel de protagonista em um drama de denúncia social reconhecido pela crítica norte-americana. A performance é elogiada, mas empalidece perto da concorrência. Jamie Foxx (Ray) ***** Só mesmo a onda pró-Menina de ouro (ou uma reação de DiCaprio) tiraria de Foxx o prêmio. A Academia gosta de atores que se transformam fisicamente para interpretar papéis difíceis, e Foxx mostrou talento - e é indicado também a coadjuvante, por Colateral. Johnny Depp (Em busca da Terra do Nunca) ** Ainda que eterno injustiçado pela Academia, parece ainda não ser desta vez que o Oscar lembrará Depp. O ator já fez trabalhos mais desafiadores - até mesmo o pirata espalhafatoso de Piratas do Caribe, pelo qual foi indicado no ano passado. Leonardo DiCaprio (O aviador) *** Antes de Scorsese entrar no barco, DiCaprio já defendia O aviador. O desafio de interpretar um personagem como Howard Hughes é trabalho que a Academia preza. Em uma noite de possíveis vitórias para o filme, pode ser beneficiado. -------------------------------------------------------------------------------- Atriz Annette Bening (Being Julia) *** Na pele de uma atriz londrina de teatro dos anos 30 perdida entre as situações de ficção e a rotina real, Bening venceu o Globo de Ouro e é indicada pela terceira vez ao Oscar (as outras duas foram por Os imorais e Beleza americana). Catalina Sandino Moreno (Maria cheia de graça) * A jovem atriz colombiana é a maior surpresa na categoria. Na co-produção norte-americana e colombiana, vive uma jovem na rota do tráfico. O problema: a performance ganha força mais pelo tema forte do filme que pelo esforço de Catalina. Hilary Swank (Menina de ouro) ***** A vitória anterior de Swank, por Meninos não choram, reduz um pouco as chances da atriz na categoria. Mas nada que espante o favoritismo pelo trabalho seguro, cheio de momentos comoventes, no filme de Eastwood. Imelda Staunton (Vera Drake) **** Se dependesse da torcida da crítica, a inglesa seria favorita ao prêmio. O papel da dona-de-casa que faz abortos na Inglaterra do pós-guerra chamou a atenção para uma performance contida e forte, na tradição das atuações em filmes de Mike Leigh. Kate Winslet (Brilho eterno de uma mente sem lembranças) ** Ignorada pela participação na produção Em busca da Terra do Nunca, Winslet acabou lembrada pela atuação no filme-labirinto escrito por Charlie Kaufman, de Quero ser John Malkovich. -------------------------------------------------------------------------------- Outros Ator coadjuvante Alan Alda (O aviador) Clive Owen (Closer - Perto demais) Jamie Foxx (Colateral) Morgan Freeman (Menina de ouro) Thomas Haden Church (Sideways) Atriz coadjuvante Cate Blanchett (O aviador) Laura Linney (Kinsey) Natalie Portman (Closer - Perto demais) Sophie Okonedo (Hotel Rwanda) Virginia Madsen (Sideways) Canção original Accidentally in love (Shrek 2) Al otro lado del río (Diários de motocicleta) Believe (O expresso polar) Learn to be lonely (O fantasma da ópera) Vois sur ton chemin (A voz do coração) Roteiro adaptado Antes do pôr-do-sol Em busca da Terra do Nunca Diários de motocicleta Menina de ouro Sideways Roteiro original O aviador Brilho eterno de uma mente sem lembranças Hotel Rwanda Os incríveis Vera Drake Filme estrangeiro As it is in heaven, Kay Pollak (Suécia) Downfall, Oliver Hirschbiegel (Alemanha) Mar adentro, Alejandro Amenábar (Espanha) A voz do coração, Christophe Barratier (França) Yesterday, Darrell Roodt (África do Sul)
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