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O PT EM DESCENSO - Márcio Accioly
Cercado de escândalos, acusado de falcatruas e montagem de esquemas viciados, além de mergulhado na prática dos mesmíssimos atos criminosos que jurava combater (inclusive a entrega das riquezas nacionais), o PT vai se desfazendo do capital político que acumulou, em 25 anos de existência, numa velocidade que surpreende até mesmo o mais distraído observador.

Brasília - Cercado de escândalos, acusado de falcatruas e montagem de esquemas viciados, além de mergulhado na prática dos mesmíssimos atos criminosos que jurava combater (inclusive a entrega das riquezas nacionais), o PT vai se desfazendo do capital político que acumulou, em 25 anos de existência, numa velocidade que surpreende até mesmo o mais distraído observador. Depois de alcançar o Palácio do Planalto, o Partido dos Trabalhadores se mostrou inteiramente perdido: não mais consegue analisar os fatos, vai se tornando incapaz de perceber o rumo dos acontecimentos e apresenta argumentos pífios na justificação de tudo aquilo contra o qual pelejou de forma incansável. O PT não convence a mais ninguém! A legenda só conseguiu destaque e votação, na disputa municipal do último ano, em lugares onde é escasso o nível de informação. Tornou-se a senhora dos grotões, espécie de Arena do Regime Militar (1964-85). Junto à classe média, que sempre foi base de sustentação e apoio, existe inegável desencanto que se detecta em pesado distanciamento crítico. Essa ruptura vem se consolidando desde as primeiras medidas tomadas pelo presidente Dom Luiz Inácio, quando manteve e agravou a política econômica implantada por seu antecessor, FHC (1995-2003). Deslumbrado com o poder, perdido no descaminho de seu desconhecimento crônico, revelando-se, apenas, o falso produto de bem elaborada jogada de marketing, o candidato presidencial petista foi o sapo dos contos de fadas que não se transformou em príncipe. Não nas atitudes que deveria tomar para estancar de imediato a sangria de nossas riquezas. Arrancadas a ferro e fogo nas taxas de juros que estrangulam a nação inteira, através da dívida interna, e no endividamento externo que arrasa qualquer perspectiva de futuro. Consciente, talvez, das dificuldades que terá de enfrentar, Dom Luiz Inácio, conhecido pela ranhetice e disfarçada arrogância, poderá levar o país a impasse de graves proporções. Primeiro, porque colocou na cabeça, desde os dias iniciais de supremo mandatário, ser líder de projeção mundial que irá solucionar problemas sociais do planeta com programas paternalistas na distribuição de esmolas (vide o Fome Zero). Como se boa vontade fosse o principal atributo de lideranças capitalistas que tudo nos roubam através de dívida externa consolidada em juros extorsivos, e submissão extrema de nossos dirigentes na curvatura de espinha que transige diante de todo e qualquer potentado. Note-se que Dom Luiz Inácio está fazendo o caminho de volta às suas bases, em postura demagógica e paternalista, pois se sente agora, com justa razão, rejeitado pelas classes médias que o acompanharam em largos setores na corrida presidencial. Sob tal prisma, a derrota do candidato oficial petista, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), à Presidência da Câmara, deixa bem claro o preocupante quadro que começa a se armar no cenário político-social do país. Tempo houve em que as populações mundiais tentavam resolver seus problemas na base da revolução. Em certos momentos, como o atual, torna-se evidente que não se tem como mudar o cenário, se não for na base da violência pura e simples. Mas, como as revoluções estão fora de moda, poderemos desaguar numa insurreição de inimagináveis proporções, na falta de alternativa e na irresolução dos representantes diante de dificuldades enfrentadas por um povo desiludido e esgotado. Dessa forma, a eleição para a Mesa da Câmara dos Deputados reflete e amplia insatisfação que permeia junto às camadas populacionais, no que se refere aos rumos tomados pela administração petista. Pela primeira vez na história, rompeu-se tradição política que destinava a Presidência daquela Casa ao partido majoritário, contando, ainda por cima, com apoio maciço do bloco governista. Nunca se vira antes tanta pressão e tanta promessa de recompensas fartas. E por que se falar em insurreição? Porque o povo está desempregado, morrendo de fome, a exclusão social é a maior de que se tem registro em todos os períodos de nossa história e porque o desencanto com a classe política, com a corrupção generalizada, com a injustiça que grassa em diversos níveis e estamentos dos poderes constituídos podem explodir em dada ocasião. O presidente Dom Luiz Inácio não gosta de ser contrariado. Autoritário, apesar de posar de renitente democrata, vai esmagando, sem dó nem piedade os que se posicionam na contramão de sua vontade: demitiu de forma humilhante o então ministro da Educação, senador Cristóvam Buarque (DF), por telefone; impediu (como FHC), a constituição de CPIs que apurassem denúncias cabeludas surgidas contra o PT. Denúncias irrefutáveis. Avalizou a expulsão de dissidentes petistas: senadora Heloísa Helena (AL), deputados federais, Babá (PA), João Fontes (SE) e Luciana Genro (RS), comemorando o fato numa churrascada na Granja do Torto, em postura desrespeitosa e depreciativa. E a CPI dos Bingos, para apurar o caso Waldomiro Diniz (ex-assessor direto do ministro-chefe da Casa Civil, Zé Dirceu, flagrado pedindo propina ao bicheiro Carlinhos Cachoeira), com assinaturas duramente conseguidas no Senado? Foi posta abaixo na decisão do então presidente daquela Casa, José Sarney (PMDB-AP), que simplesmente se recusou a constituí-la. Ficou por isso mesmo. São fatos como tais que vão se acumulando e erigindo pirâmide negativa. O PT tem assumido comportamento nitidamente fascista: na Presidência da Câmara, o deputado federal João Paulo Cunha (SP) autorizou sua invasão pela PM que espancou manifestantes contra a reforma da Previdência. Algo que não se tinha visto nem mesmo durante a fase mais dura do regime militar (1964-85). Sem contar que estabeleceu censura a seu critério, no jornal ali editado, quando se disse contrariado pelo fato de o Jornal da Câmara ter publicado matéria (correta), noticiando que o deputado Inocêncio Oliveira (ex-PFL, hoje no PMDB-PE) havia sido condenado em primeira instância por empregar trabalho escravo numa de suas fazendas. A eleição para a Mesa da Câmara dos Deputados, realizada na madrugada desta terça-feira, transcende ao resultado em si. Indica que o PT está descendo a ladeira em desabalada carreira. Fazer essa leitura é importante, até mesmo para que se percebam os desdobramentos. Tudo irá depender do comportamento de sua excelência, o presidente Dom Luiz Inácio Lula da Silva, que, até aqui, fez tudo no inverso do que se esperava e seria natural. Parece que tudo só tende a ficar pior. Email: [email protected]
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