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Crônica do Aroldo Pinheiro - O DESCONVIDADO
Surgiam histórias tipo: "Ali rola cocaína!", "Eles sempre se reúnem para um troca-troca." "Ali ninguém é de ninguém; todo mundo é de todo mundo." "O caseiro do Alberto disse que a sala está sempre suja de pó branco depois das reuniões." Eles não estavam nem aí; levavam suas vidas saudável e prazerosamente, aproveitando, comendo e bebendo do bom e do melhor... E se divertindo muuuuiiito.

Era como uma confraria; todos se conheciam há muito tempo e tinham muito em comum. Oito casais de classe média que conservavam ótima convivência; fins de semana, piqueniques, acampamentos, festas, barzinhos, boates, algumas viagens... Tudo eles faziam em conjunto. Na cidade, os invejosos teciam mil histórias a respeito do grupo; normal que fosse assim, como a fábula da raposa e as uvas. Os comentários inventados com muita maldade não abalavam aquele relacionamento; às vezes até divertia saber que o grupo ocupava a crista da fofocagem cultivada pelos maliciosos. Surgiam histórias tipo: "Ali rola cocaína!", "Eles sempre se reúnem para um troca-troca." "Ali ninguém é de ninguém; todo mundo é de todo mundo." "O caseiro do Alberto disse que a sala está sempre suja de pó branco depois das reuniões." Eles não estavam nem aí; levavam suas vidas saudável e prazerosamente, aproveitando, comendo e bebendo do bom e do melhor... E se divertindo muuuuiiito. No carnaval, como sempre, reservaram duas mesas para as três noites de folia no melhor e mais tradicional clube da cidade; escolheram suas fantasias, programaram onde seriam os "esquentas" e os "caldões da ressaca", estocaram uísque, cerveja, Engov, Sonrisal e Epocler para o período momesco e caíram na farra. Na última noite, terça-feira, lá estavam eles ora brincando nas mesas, ora dando voltas no salão; ora visitando mesas de amigos, ora dançando no meio da banda...; normal. A festa era só animação; já tinha tocado o Zé Pereira, Mulata Bossa-nova, A Jardineira, Lambretinha, Máscara Negra, Bandeira Branca, Bibelô Chinês, Mamãe Eu Quero, alguns sambas-enredo... O dia amanhecendo e o carnaval comendo no centro. João Fernando, inconveniente, mau caráter, invejoso, fofoqueiro, casado com Marília, mulher, feia e mal enjambrada, encontrava-se no clube e, desde o início da festa, forçava uma situação para aproximar-se daquele animado grupo de amigos. Eles, conhecedores da fama e inconveniências do casal despeitado, não deram abertura. Lá pelas seis da manhã, já ao som de Cidade Maravilhosa, tradicionalmente última música do carnaval, João, chegou-se a um dos integrantes daquela turma e, alto, ao seu ouvido, perguntou: -Escuta, que horas vocês vão começar o troca-trocas? Pedro, muito espirituoso, só pra sacaneá-lo, respondeu num tom que poderia ser ouvido por todos os presentes: -O nosso troca-troca vai começar daqui a pouco; logo que acabar a festa... Mas tem uma coisa: tu não podes ir conosco não; tua mulher é feia pra caralho e quem ficar com ela leva desvantagem!!! - E abrindo largo sorriso de satisfação, sorveu reforçado trago de uísque e saiu, dedos levantados, no meio da folia -...cheia de encantos mil/Cidade Maravilhosa, coração do meu Brasil..."
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