00:00:00
Projeto Rondon tentará frear ação de ONGs

O governo federal pretende utilizar o Projeto Rondon, que será relançado oficialmente na próxima quarta-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para retomar a ocupação da Amazônia e minimizar a ação das organizações não-governamentais estrangeiras (Ongs) na região. O objetivo é fazer com que o governo e a sociedade brasileira estejam em contato direto com as comunidades indígenas e ribeirinhas para realizar um trabalho social que hoje vem sendo feito quase que exclusivamente pelas Ongs estrangeiras. 'Temos que ocupar um espaço que muitas organizações internacionais ocupam e exercem de maneira inadequada', afirma o chefe do Comando Militar da Amazônia, general Eduardo Villas Boas.

Sandro Lima Correio Braziliense Manaus (AM) - O governo federal pretende utilizar o Projeto Rondon, que será relançado oficialmente na próxima quarta-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para retomar a ocupação da Amazônia e minimizar a ação das organizações não-governamentais estrangeiras (Ongs) na região. O objetivo é fazer com que o governo e a sociedade brasileira estejam em contato direto com as comunidades indígenas e ribeirinhas para realizar um trabalho social que hoje vem sendo feito quase que exclusivamente pelas Ongs estrangeiras. 'Temos que ocupar um espaço que muitas organizações internacionais ocupam e exercem de maneira inadequada', afirma o chefe do Comando Militar da Amazônia, general Eduardo Villas Boas. De acordo com o general, que deu uma palestra de boas-vindas e explicações aos 200 participantes da primeira etapa do Projeto Rondon, 'as Ongs internacionais têm mérito, mas nem sempre estão de acordo com os interesses do país'. Villas Boas ressaltou que não quer acabar com o trabalho das organizações estrangeiras. Ele defende uma integração e coordenação dos trabalhos do Projeto Rondon e de Ongs brasileiras e internacionais executada pelas Forças Armadas. A principal crítica do general às Ongs estrangeiras é que elas 'criam obstáculos ao desenvolvimento da região amazônica'. Segundo ele, o exacerbado ambientalismo inibe o desenvolvimento da população, que segue vivendo nas mesmas condições. O general Gilberto Arantes, coordenador do Projeto Rondon, disse que 'não há ideologia no Projeto Rondon, mas é claro que há uma preocupação com a Defesa Nacional'. A professora de Serviço Social Nelmires Ferreira da Silva, que dá aulas na Universidade Federal de Sergipe, disse que achou interessante que os militares abordassem o tema da presença internacional na Amazônia e os perigos que a presenças das Ongs pode causar. 'A palestra foi interessante para mostrar que o Exército não está voltado somente para a guerra, mas que tem um lado social importante', acredita. A professora também disse estar surpresa com o comportamento dos militares. 'Eu não esperava um diálogo tão aberto por parte do Exército', conta. Parceria O general Arantes classificou o novo Projeto Rondon de uma Parceria Público-Privada. A primeira etapa, que custou R$ 2 milhões, foi patrocinada pela Petrobras e pela Nossa Caixa. O dinheiro é suficiente para manter as atividades até o dia 31 de janeiro, quando termina a primeira etapa do programa, onde são feitos os diagnósticos dos problemas da região. Na segunda etapa, em julho, as equipes voltarão à região para iniciar os trabalhos sugeridos para melhorar a vida das comunidades amazônicas. O dinheiro para executar as melhorias também virá de parcerias com a iniciativa privada. "As Ongs internacionais criam obstáculos ao desenvolvimento da região amazônica", General Eduardo Villas Boas, chefe do Comando Militar da Amazônia O NÚMERO 54% dos participantes do Projeto Rondon são mulheres Animação e clima de aventura Empolgação é a palavra de ordem entre os participantes do Projeto Rondon. Após a longa viagem até Manaus, no último sábado, ontem foi o dia de pôr a mochila nas costas e iniciar o trabalho. Logo pela manhã, os estudantes e professores saíram dos quartéis onde estão alojados rumo à Universidade Estadual da Amazônia, onde passaram o dia recebendo instruções sobre o projeto e a realidade amazônica. O que se via a todo o momento era o sorriso no rosto dos jovens. 'Está melhor do que a gente imaginava. Tudo bem organizado', conta a estudante de Odontologia da UnB Ana Paula Magalhães. 'Está valendo a pena. Estamos aprendendo, ajudando e nos divertindo muito', disse Luísa Barreto, colega de curso de Ana Paula. Na terça-feira, todos partem para as 11 cidades e dois distritos onde serão executados os trabalhos do projeto. A última etapa antes da viagem será um curso de sobrevivência na selva, que será ministrado em quartéis do exército próximos a Manaus. Os mestres também estão empolgados. O professor de Odontologia da Universidade de Brasília João Melki Neto disse ter achado brilhante o primeiro dia de atividades. 'Recebi informações do nosso território que eu desconhecia. É interessante. Nos desperta um sentimento de patriotismo conhecer essa realidade que deveríamos conhecer e não conhecemos.' Um dos grupos mais animados era o da Universidade Federal de Minas Gerais, com um professor de Geografia e quatro estudantes de Ciências Biológicas, Arquitetura, Geografia e Odontologia. 'Nosso objetivo foi montar um grupo que pudesse atuar e ajudar em várias áreas', disse o professor Bernardo Michel. Para a estudante de Geografia Aline Lopes, o Projeto Rondon 'é um privilégio conhecer uma parte do Brasil que poucos têm acesso'. A presença das meninas tem sido uma das marcas do novo Projeto Rondon. Elas representam 54% dos participantes, contra 46% dos homens. (SL)
COMENTÁRIOS